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Questão da homeopatia será decidida em voto popular

Uma homeopata suíça prepara um medicamento. Keystone

Como tantas outras questões na Suíça, os cidadãos vao decidir nas urnas a eficácia da homeopatia e de outros métodos curativos.

Discute-se os tratamentos pseudocientíticos são perigosos ou eficazes. Um cientista explica porque apóia a decisão do governo de retirar esses tratamentos do seguro de saúde básico e obrigatório.

Depois de um período experimental de cinco anos, o Ministério do Interior decidiu no ano passado retirar cinco terapias alternativas do catálogo reembolsado pelo seguro básico e obrigatório de saúde.

A decisão foi baseada no argumento de que esses tipos de tratamentos, incluindo o homeopático, não demontraram suficientemente eficácia, conveniência e rentabilidade.

Na Suíça, vigora um sistema misto de saúde em que a infra-estrutura e o pessoal hospitalar fazem parte do serviço público mas o cidadão contrata seguros de saúde com empresas privadas, que reembolsam também os remédios receitados. O seguro básico é obrigatório para todos por lei e o seguro complementar é facultativo.

Eleitores vão decidir

Os interesses ligados à homeopatia lançaram uma iniciativa popular contra a decisão das autoridades federais. Querem que a medicina dita complementar seja incluída definitivamente no seguro médico básico. A questão será debatida publicamente – como em todas as votações – e os eleitores votarão, provavelmente no segundo semestre de 2009.

De acordo com datos da Associação de Médicos Homeopatas, que tem cerca de 400 membros, “aproximadamente 20% da população suíça é tratada regulamente com remédios homeopáticos”. Alguns estudos indicam que 80% da população já recorreu pelo menos uma vez a esse tipo de medicamento.

Placebo

Mesmo se a homeopatia pode demonstrar ser eficaz como tratamento curativo, a medicina clássiva argumenta que esses efeitos não são comprovados.

A homeopatia não é melhor do qualquer outro placebo, afirma um estudo elaborado pelo Instituto de Medicina social e Preventiva da Universidade de Berna, publicado em 2005 na revista médica Lancet.

“Não dizemos que a homeopatia não funciona”, explica Mathias Egger, que participou do que foi o maior estudo realizado até agora sobre a eficácia da homeopatia. “Dizemos apenas que os efeitos que as pessoas parecem sentir, talvez não se devam aos comprimidos brancas”, acrescenta.

O efeito placebo a que ele se refere – o uso de um medicamento sem princípio ativo – é um fenômeno bastante estudado. Um remédio funciona por o paciente acredita ser eficaz.

Dessa forma os cientistas comprovaram, por exemplo, que é possível reduzir a dor de dente depois de uma operação quendo o cirurgião aproxima o aparelho de ultra-som da cabeça do paciente, mesmo quando ele está desligado. Outro exemplo: os comprimidos de açucar de cor verde parecer fazer mais efeito do que os comprimidos vermelhos quando ministrados a pessoas que sofrem da síndrome do medo.

“Algumas pessoas são sensivelmente mais receptivas à homeopativa”, afirma Egger. “Valorizam a conversa com alguém ao invés dos cinco minutos de consulta médica para receber uma receita porque buscam a interação”, explica.

Ética

Se os placebos podem ter efeitos terapêuticos, há boas razões para prescrevê-los. No entando, muitos médicos exitam a dar esse passo por diversas razões.

A ética médica manda que a relação entre o médico e o paciente deve fundar-se na honestidade, respeito e confiança. Um médico que prescreve um placebo deve mentir ao paciente, do contrário o medicamento não surtirá efeito.

Em segundo lugar, a prescrição de placebos poderia combater os sintomas em lugar das causas. A dor de cabeça pode ser sintoma de estresse, porque também pode assinalar um tumor. Os métodos de tratamento nos dois casos são muito distintos.

Perigos

O risco principal da medicina dita alternativa no é diretamente o placebo mas quando o paciente, por receber esse tratamento, não tem a atenção adequada.

“Tive o caso de uma criança com pneumonia que durante semanas foi tratada com homeopatia; finalmente teve que ser operada para tirar pus dos pulmões”, afirma Egger. “Essa intervenção teria sido evitada se a criança tivesse sido tratada a tempo com antibióticos”.

O próprio Egger votará “não” à homeopatia e outras técnicas abolidas do seguro básico. “Porém se a maioria dos cidadãos quiser a inclusão desse tipo de tratamento, aceitaremos sem problemas”.

swissinfo, Thomas Stephens

1999: O Ministério do Interior – responsável pela saúde pública – decidiu que cinco terapias alternativas (homeopatia, fitoterapia, terapia neural, medicina chinesa e medicina antrofosófica) seriam incluídas no seguro básico obrigatório por um perído de testes de cinco anos.

Setembro de 2004: Os defensores dessas técnicas lançaram uma inciativa para garantir que custos desses tratamentos sejam reembolsados definitivamente pelo seguro básico.

Junho de 2005: O Ministério do Interior decidiu retirar as cinco terapias do seguro obrigatório alegando que elas não respondiam aos critérios de eficácia, conveniência e rentabilidade.

Setembro de 2005: Dentro do prazo legal de um ano, a iniciativa foi apoiada por 140 mil pessoas que a assinaram.

Agosto de 2006: O governo federal recomenda a rejeição da iniciativa. O Parlamento ainda não se pronunciou sobre a iniciativa, prevista a ser submetida ao voto popular no segundo semestre de 2009.

51,7 bilhões de francos suíços foram os custos do sistema de saúde, em 2004.
Isso significa 11,5% do PIB suíço.
Só os Estados Unidos gastam mais com a saúde: 15% do PIB

O tratamento homeopático consiste na maioria das vezes na prescrição de pequenas doses que o próprio médico prepara em seu consultório. A consulta é mais prolongada do que na medicina tradicional, acentuando a interação entre o paciente e o homeopata.

O efeito terapêutico do medicamento aumenta, indicam os homeopatas, diluindo e agitando as substâncias utilizadas para dar-lhes um estado “dinâmico” denominado potenciação.

Dliuir uma substância em 30C significa que uma gota de substância ativa será diluída em cem gotas de água. Depois, cada uma dessas cem gotas voltará a ser diluída em cem gotas de água até que esse processo complete 30 vezes.

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