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Restrições americanas podem limitar inovação em IA

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O modelo DeepSeek R1 da China estabeleceu novos padrões de eficiência Keystone

Os Estados Unidos estão ameaçando sufocar o fornecimento de chips de inteligência artificial (IA) para a Suíça, enquanto os novos modelos chineses da DeepSeek, mais eficientes, aceleram a inovação em tecnologias de IA.

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Nos últimos dias de seu governo, o ex-presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executivaLink externo para restringir ainda mais as exportações de hardwares de IA de última geração, em uma tentativa de proteger a posição dos EUA na liderança tecnológica. O país, que domina a produção de chips de IA de última geração, teme que superpotências concorrentes, como China e Rússia, possam usar a inovação e os hardwares americanos para prejudicar os interesses dos EUA.

A nova portaria americana dispensa restrições para um punhado de países considerados mais confiáveis, principalmente na Europa. Mas a Suíça não está entre esse grupo. A restrição pode afetar uma série de setores suíços que estão incorporando a inovação da IA em busca de vantagens competitivas, desde fabricantes de medicamentos e dispositivos médicos, veículos automotores até o setor de robótica e financeiro.

Não é certo se o novo governo Trump adotará as restrições mais rígidas, que devem entrar em vigor em maio. No entanto, a Suíça está se esforçando para melhorar sua situação.

“Os americanos dividem os países em diferentes categorias. Essa categorização é difícil de entender”, disse o ministro da Economia, Guy Parmelin, ao jornal NZZ. “Estamos na segunda categoria, que recebe menos fichas. Primeiro precisamos entender as razões para isso. São preocupações com a segurança? É para desacelerar o desenvolvimento na Suíça?”

Crescimento explosivo da IA

O problema foi agravado com o lançamento do novo modelo R1 da empresa chinesa DeepSeek, um concorrente mais avançado de produtos como o do ChatGPT, que raciocina internamente antes de emitir uma resposta. As técnicas de computação usadas para construir o R1 foram anunciadas como um grande avanço em termos de eficiência, pois conseguem extrair mais desempenho dos chips.

A empresa chinesa divulgou seu método de otimização para o público global, permitindo que outras empresas e indivíduos reproduzam seus processos.

Agora, a Suíça amarga a desconfortável situação de estar impossibilitada de acessar um hardware fundamental em um momento crucial, diz Marcel Salathé, codiretor do Centro de IA do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Lausanne (EPFL).

“A Suíça não pode se dar ao luxo de ter restrições de computação na era do crescimento explosivo da IA”, disse à SWI swissinfo.ch. O avanço da eficiência do DeepSeek é uma faca de dois gumes, acrescentou. É possível fazer mais com os chips existentes a um custo menor, mas isso só aumentará o ritmo do desenvolvimento da IA e a demanda por mais chips.

+ A Suíça perdeu o trem da regulamentação da IA?

“À medida que os modelos de IA melhoram continuamente, a demanda geral por IA explodirá e nossas necessidades atuais de computação vão atingir o limite muito rápido”, disse Salathé.

Novas máquinas pensantes

Nos últimos dias, desenvolvedores da comunidade de IA de código aberto Hugging Face já produziram 700 modelos de IA diferentes, copiando os métodos eficientes do DeepSeek. Esses modelos podem ser direcionados para tarefas específicas, como ajudar os médicos a diagnosticar doenças, analisando rapidamente os históricos médicos dos pacientes.

“O R1 efetivamente preencheu a lacuna entre os modelos fechados de proprietários e o código aberto”, disse Lewis Tunstall, cientista sênior de pesquisa da Hugging Face. “Isso permitirá que pessoas de todo o mundo tenham uma ideia de como é ter essas novas máquinas pensantes na ponta dos dedos.”

Se as restrições dos EUA entrarem em vigor em maio, a Suíça ficará restrita a uma cota de cerca de 16.500 chips de IA de primeira linha entre 2025 e 2027, de acordo com a CH++, uma organização suíça sem fins lucrativos que visa fortalecer a ciência e a tecnologia no país alpino. Cerca de 60% dessa cota poderia ser facilmente utilizada pelas 20 maiores empresas da Suíça, o grupo acrescentou em um comunicado à imprensaLink externo.

Upgrade de supercomputador fica incerto

Para se ter uma dimensão da limitação, somente o supercomputador Alps da Suíça usa atualmente 10.752 chips Nvidia Grace Hopper – os mais avançados do tipo.

O Centro Nacional de Supercomputação da Suíça (CSCS) lançou o supercomputador no outono passado e, por enquanto, tem chips suficientes. Mas “se essas restrições persistirem, isso poderá afetar uma futura atualização do sistema. Por exemplo, se decidirmos fazer uma atualização no período de 2028 a 2032”, disse a diretora associada do CSCS, Maria Grazia Giuffreda, à SWI swissinfo.ch.

+ ChatGPT: inteligência, estupidez ou malícia artificial?

Rahul Sahgal, CEO da câmara de comércio suíço-americana, também está preocupado com o impacto de um bloqueio de chips no supercomputador da Suíça e em outras atividades de pesquisa de IA nos institutos federais de tecnologia.

A restrição a pesquisas sobre IA na Suíça poderia ter efeitos negativos sobre os investimentos dos EUA no país alpino, ele teme.

“Se essas restrições à exportação entrarem em vigor, isso terá consequências negativas para as relações comerciais entre a Suíça e os EUA. Particularmente afetadas serão as instituições de pesquisa, que dependem muito dos chips de IA dos EUA”, disse Sahgal à SWI swissinfo.ch.

“Isso poderia limitar a pesquisa e o intercâmbio de conhecimento entre os dois países e, potencialmente, levar a uma diminuição do investimento dos EUA na Suíça, já que muitas empresas americanas operam centros de pesquisa na Suíça.”

Empresas americanas de IA influentes, como a OpenAI e a Anthropic, abriram escritórios em Zurique.

“Os chips de IA mais recentes têm um prazo de validade e ficarão desatualizados quando os chips da próxima geração surgirem a cada poucos anos”, disse Salathé, da EPFL. “Nossa infraestrutura atual não durará décadas.”

“Já estamos pensando em quantos chips mais precisaremos para os próximos cinco anos. É impossível planejar se você não sabe nem mesmo se seus pedidos serão aceitos.”

As opções da Suíça serão limitadas se o acesso aos chips de IA dos EUA virar um fornecimento à conta gotas, pois nenhum outro país está perto de produzir os chips de última geração.

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EUA restringem acesso da Suíça a chips de IA

Este conteúdo foi publicado em A Suíça foi excluída pelos EUA dos países aliados para acesso ilimitado aos microprocessadores necessários para a inteligência artificial.

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Em 13 de janeiro, os Estados Unidos reforçaram as medidas para impedir que a tecnologia de IA de ponta caísse nas mãos de países “hostis”.

Já existiam restrições ou proibições de exportação de chips de IA dos EUA para países como China, Rússia, Coreia do Norte e Irã. As regulamentações atualizadas acrescentariam novas camadas de embargos.

Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, República da Coreia, Espanha, Suécia, Taiwan e Reino Unido são os únicos países livres das restrições. A Suíça está entre uma série de países na categoria de nível 2, que sofre com certas limitações.

A medida americana busca limitar a potência computacional (medida como unidades TPP de desempenho total de processamento) alcançada pelos hardwares exportados pelos EUA.

De acordo com a CH++, o limite de TPP da Suíça foi definido em 790 milhões de unidades de TPP, o equivalente a cerca de 16.500 chips de IA de última geração, para o período de 2025 a 2027.

De acordo com a portaria, os países poderiam solicitar o status de Usuário Final Nacional Validado (NVEU), pleiteando uma transferência muito maior, de até 5.064.000.000 TPP (cerca de 320.000 chips Nvidia H100) até 2027.

No entanto, a solicitação envolveria “requisitos de segurança rigorosos e obrigações de conformidade complexas que muitas organizações podem considerar desafiadoras”, de acordo com a CH++.

Se aprovadas pelo governo Trump, as novas restrições de exportação entrarão em vigor em 15 de maio, após um período de consulta.

Edição:Virginie Mangin/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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