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Sente-se conosco à mesa, Fernando

A última vez que se falou muito de Portugal na Suíça foi durante o Euro 2004. Keystone

Chegados à Suíça, principalmente entre os anos 70 e 80 os imigrantes portugueses trouxeram com eles o amor pelo futebol e as saudades de casa.

A ligação com o país de origem é muito forte, mesmo a milhares de quilômetros de distância.

“Não banque o português” se diz àquele que tenta entrar em um cinema ou pegar um bonde sem pagar a passagem. Será que isso significa que os portugueses são pessoas particularmente propensas a esse tipo de comportamento?

Navegando na internet, em um portal de provérbios, percebe-se que não é nada disso. Aparentemente, o dito surgiu durante uma recepção organizada em Roma nos idos de 1700, pelo embaixador de Portugal, que liberou o acesso a seus compatriotas. O resultado foi que todos se fizeram passar por portugueses para não pagar o ingresso.

Mas esquecendo por um momento o passado para dar uma olhada na realidade helvética atual, constata-se que, com seus 160 mil membros, os portugueses representam a mais importante comunidade, depois de italianos e sérvio-montenegrinos.

“Três quartos se encontram na Suíça Romanda, especialmente nos cantões de Vaud e Genebra”, esclarece a swissinfo o presidente da Federação das Associações Portuguesas na Suíça e professor de geografia da Universidade de Lausanne, António da Cunha.

Na Suíça, depois da “Revolução dos Cravos”

A imigração portuguesa é relativamente recente. Os primeiros trabalhadores chegaram à Suíça nos anos 60 para atender à demanda de mão-de-obra nos setores hoteleiro, construção civil e agrícola.

O fluxo migratório se desenvolveu de modo marcante durante a década seguinte, especialmente após a queda do regime fascista de Salazar (Revolução dos Cravos, em 1974) e da ruína do império colonial.

A concessão de independência às colônias portuguesas na África levou, para aquele país do Atlântico Sul, mais de 500 mil refugiados. “Nem todos, porém, conseguiram se colocar na economia local, de modo que muitos migraram, inclusive para a Suíça”, explica António da Cunha.

O filho do fundador do tradicional Le Portugais, de Genebra, primeiro restaurante lusitano da Suíça, registrou a transformação daquele período, observando sua clientela. “Antes da revolução, não havia praticamente nenhum português em nossas mesas ; depois, viu-se um forte fluxo e 90% dos clientes eram meus compratriotas”, conta Fernando Martins.

A imigração – indica Cunha – prosseguiu, maciçamente, nos anos 80, e até mudou de perfil. Os novos imigrantes se distinguiram de seus predecessores por uma melhor formação escolar. Vêm mais de um ambiente urbano do que rural.

Na mala, a paixão pelo futebol

Vistos no passado com desconfiança, os portugueses são, hoje, bem ajustados na sociedade helvética. Nem por isso se pode dizer que estão bem integrados.

Os jovens, por exemplo, enfrentam ambiente profissional discriminatório. A taxa de desemprego entre eles é particularmente elevada e o acesso às profissões qualificadas continua difícil.

António da Cunha, que também é presidente do Fórum pela Integração da Migração e do Migrante (FIMM), fala de uma “existência invisível”, para descrever a falta de participação na vida social, cívica e política helvética, por parte dos portugueses.

Se de um lado – acrescenta o professor – é lícito denunciar a discutível política de integração adotada por Berna, de outro, é também verdade que a comunidade portuguesa se volta, freqüentemente, para si mesma, confinada ao seu vínculo familiar e a várias associações. Entres estas, a esportiva, como testemunham as numerosas equipes de futebol que levam o nome de célebres clubes lusitanos, como Benfica, Sporting e Porto. O amor pela bola veio junto com as roupas dentro da mala do imigrante.

“O movimento associativo reflete o apego dos portugueses às suas raízes, em uma espécie de retorno simbólico ao pais”, observa o presidente da FIMM.

O mito da volta

Mesmo a milhares de quilômetros de distância, esse apego às raízes é muito forte e numerosos expatriados portugueses cultivam, de longa data, o sonho de regressar à terra natal.

São os homens principalmente que nutrem as saudades de casa. As mulheres, de fato, afirma Cunha, freqüentemente não querem voltar, da mesma forma que os jovens da segunda geração.

O sonho da volta é, de qualquer maneira, neste momento, algo para deixar engavetado. Portugal está, de fato, atravessando uma profunda crise econômica e os novos que chegam superam os que regressam.

Esses dados são revelados pela Secretaria Federal das Migrações: depois dos imigrantes de nacionalidade alemã, os cidadãos portugueses registraram, em 2004, notável aumento, com quase 10 mil novos imigrantes chegados à Suíça.

É isto para a alegria de Fernando Martins, que poderá, assim, aumentar o número de mesas de seu restaurante.

swissinfo, Luigi Jorio
Tradução de J.Gabriel Barbosa

159.737 portugueses (sem dupla nacionalidade) residiam na Suíça até o final de 2004
110.312 em 1990.
18.943 em 1980
3.632 em 1970
A grande parte da comunidade portuguesa se concentra nos cantões de Vaud e Genebra.
No Ticino residem 5.600 portugueses.

– Na Suíça, há mais de 130 associações portuguesas, às quais se juntam uma centena de associações de pais e numerosos clubes esportivos.

– Em quase todas as localidades helvéticas, periodicamente, grupos folclóricos lusitanos animam festivais e saraus musicais.

– Genebra é uma das cidades do mundo, fora de Portugal, que conta com maior número de imigrantes lusitanos por metro quadrado.

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