Sistema de saúde suíço aumenta o índice de câncer
Casos de câncer da próstata, melanomas e câncer de mama são maiores na Suíça do que na média europeia - um efeito colateral do excelente sistema de saúde do país.
Um dos maiores especialista na área, Giorgio Noseda explica à swissinfo.ch que o sistema ajuda a diagnosticar os casos bem cedo, aumentando os números. Mas não existe nenhuma razão para que a Suíça tenha os mais altos índices da doença.
Noseda, que dirige o Instituto Suíço de Pesquisa em Biomedicina, diz que um dos principais desafios para o futuro é conseguir uma imagem mais clara da situação para melhorar os esforços de prevenção.
Quatro em cada dez pessoas – ou 35 mil pacientes – são diagnosticadas com câncer na Suíça por ano, de acordo com um levantamento sobre o câncer realizado entre 1983 e 2007.
Atualmente, os casos de morte causados por câncer de pele e da próstata são ligeiramente superiores, enquanto que o número de casos fatais de câncer de mama são menores em comparação com a média dos 40 países europeus, revelou a Secretaria Federal de Estatísticas da Suíça, na segunda-feira (7).
swissinfo.ch: Como explicar as principais conclusões do estudo, principalmente o aumento dos índices de câncer de pele, mama e da próstata na Suíça?
Giorgio Noseda: Não há explicação clara no momento. Nós podemos fazer algumas suposições como, por exemplo, o número de casos de câncer da próstata é devido provavelmente à alta qualidade do sistema de saúde e um maior número de diagnósticos do que em outros países.
Muitas pessoas diagnosticadas com câncer são idosas e podem falecer por outros motivos que o câncer em si.
No caso do câncer de pele, pode ser o resultado do aumento do número de suíços que se expõem ao sol sem proteção adequada da pele.
E para o câncer de mama, poderia ser por causa de uma terapia hormonal prescrita para mulheres na menopausa. O tratamento é mais difundido na Suíça do que em outros países europeus.
swissinfo.ch: Quais foram as áreas mais beneficiadas pelos esforços de prevenção e terapia na luta contra o câncer nos últimos anos?
GN: A atenção foi dada em duas recomendações gerais de saúde e nutrição da Liga Suíça contra o Câncer: parar de fumar e reduzir o consumo de álcool e carne vermelha, preferivelmente comendo mais frutas e legumes e fazendo exercício físico.
As autoridades também investiram muito no diagnóstico precoce. Para dar um exemplo concreto: mulheres acima dos 50 anos fazem regularmente um exame de mama. A descoberta de um tumor permite o tratamento precoce.
Esses exames são um fator chave para explicar porquê os casos de câncer de mama aumentaram consideravelmente nos últimos anos, mas o número de mortes relacionadas à doença diminuíram.
O câncer uterino é outro exemplo. Testes e diagnósticos precoces nos permite intervir frequentemente no momento certo, impedindo o desenvolvimento do tumor.
O mesmo vale para o câncer do cólon: quanto mais cedo o diagnóstico, melhor as chances de sucesso do tratamento.
swissinfo.ch: O Senhor mencionou a boa capacidade do sistema de saúde suíço em combater o câncer. Quer dizer então que o tratamento contra o câncer aqui é melhor do que em outros lugares?
GN: A Suíça oferece os mesmos tratamentos que os outros países, os métodos de tratamento sendo os mesmos a nível internacional. Existem três possibilidades: cirurgia, radioterapia e quimioterapia – ou uma combinação dos três.
O que diferencia a Suíça, no entanto, é que a aplicação desses métodos é generalizada em todo o país. Como consequência, conseguimos obter melhores resultados em comparação, não só com os países da Europa do leste, mas também com os nossos vizinhos, Alemanha, França e Itália.
Diferentemente de outros países, a Suíça não tem um instituto de pesquisa central especializado na luta contra o câncer. Existem centros de competência para o tratamento de tumores em hospitais universitários e também em nível estadual.
Assim, os pacientes têm acesso ao tratamento dos tumores em todo o país.
swissinfo.ch: Quais são as principais áreas de pesquisa do câncer para o futuro?
GN: Quatro em cada dez pessoas são diagnosticadas com câncer na Suíça todos os anos e cerca de 16 mil pacientes morrem de doenças relacionadas à tumores.
Todos os especialistas envolvidos estão se concentrando, no momento, na preparação de um programa nacional de combate ao câncer. O objetivo principal do programa – que será publicado em abril – é obter uma imagem clara da situação atual.
Ela vai nos ajudar a entender as causas, definir medidas preventivas possíveis e desenvolver terapias eficazes.
Dois entre cinco suíços riscam de desenvolver câncer.
2ª principal causa de morte, o câncer é responsável por 30% das mortes em homens e 23% entre as mulheres.
Cada ano, 35 000 tumores são diagnosticados (mais do que a média dos 40 países europeus) e 16 000 pacientes morrem.
45% das mortes são causadas por câncer de pulmão e de cólon e reto, da próstata nos homens e da mama nas mulheres.
90% dos tumores são diagnosticados acima dos 50 anos.
Dos 170 tumores diagnosticados a cada ano entre as crianças, quarenta são fatais. Junto com Alemanha, Áustria e Finlândia, a Suíça tem os melhores resultados na Europa.
Nascido em 1938, estudou medicina na Universidade de Berna e, em seguida, foi professor de cardiologia e medicina interna.
1989-1992: Presidente da Liga Suíça contra o Câncer.
1990-2006: Presidente da Oncosuisse.
Desde 2000: Presidente do Instituto para Pesquisa em Biomedicina, em Bellinzona (Sul).
Co-fundador do Instituto Nacional de Epidemiologia e Diagnóstico do Câncer e Swiss Biobank, uma fundação que promove a pesquisa científica.
Adaptação: Fernando Hirschy
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