Suíços pernambucanos falam da crise brasileira
Cidadãos suíços residentes em Pernambuco falam sobre as denúncias de corupção envolvendo a esquerda, o PT e o governo brasileiro. Cerca de 150 cidadãos suíços residem hoje no estado.
Apesar de uma certa decepção com o governo, eles não acreditam que haverá “impeachment” do presidente Lula.
A crise que vem arranhando a imagem da esquerda brasileira e que acaba de bater às portas do Palácio do Planalto, sede do boverno brasileiro, vem sendo acompanhada com expectativa pelos suíços que residem em Pernambuco.
Assim como os brasileiros em geral, eles vêm acompanhando tudo o que acontece no meio político através dos noticiários e da televisão, que transmite, ao vivo, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), transformada no grande filão de audiência das emissoras de TV a cabo.
Decepção e bom ponto na economia
Os suíços residentes no estado, sejam natos ou descendentes, têm uma opinião comum: apontam avanços nas políticas públicas do atual governo, sobretudo na economia estabilizada, mas consideram a crise um desdobramento contraditório de quem que foi eleito prometendo resguardar valores éticos e lutar contra a corrupção.
A maioria dos entrevistados pela reportagem não votou em Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores-PT), muito menos atuou em campanhas políticas. Mas, como cidadãos que possuem dupla nacionalidade, eles exercem o direito legítimo de se indignar.
“Não votei em Lula, mas esperava que fosse tudo diferente. Afinal, o PT passou a vida inteira pregando a moralidade. Nesse aspecto, a máscara caiu”, afirma o empresário e representante comercial Frederico Rodolfo Vegelin, 68 anos, que resume a crise em uma única palavra: decepção. Não há outra forma de definir o que está acontecendo”.
Filho de suíços e natural de João Pessoa (cidade situada a 125 km do Recife e capital do vizinho estado da Paraíba), Vegelin ficou ainda mais decepcionado depois que o presidente Lula foi à televisão tentar explicar a crise. “O discurso de Lula é inadequado, quando ele transfere a culpa pela crise às elites”, assinala o empresário, para quem Lula não pediu desculpas à Nação como deveria ter feito.
Sem “impeachement”
Se por um lado há entre os “suíços pernambucanos” um certo desalento em relação à crise, por outro existe a certeza de que o presidente Lula se manterá no poder, mesmo com a imagem arrenhada. Se nenhum acredita em medidas mais drásticas como o “impeachment”, alguns acham que Lula pode até tentar a reeleição.
O comerciante aposentado Jakob Gatsman, 67 anos, chega a fazer a defesa do governo. Para ele, a economia brasileira está equilibrada, a industria e o comércio estão funcionando.
“Não há porque mudar o que vem dando certo nessas áreas importantes para o país”, avalia para, em seguida, prever: “como dizem aqui, vai tudo acabar em pizza. O brasileiro sempre dá um jeito de contornar as crises e não há nenhuma possibilidade de afastarem o presidente”.
Gatsman, suíço de nascimento, nunca votou no Brasil, apesar de ter dupla nacionalidade. Também não vota na Suíça por se considerar muito distante da realidade do seu país: “Estou no Brasil desde 1958. Não me sinto à vontade para votar aqui e acho que não convém a alguém que está longe da Suíça, ficar dando palpites na política de lá”.
Para Rodolfo Fehr Júnior, empresário e cônsul honorário da Suíça no Recife, Lula precisa, primeiro, retomar as rédeas do seu partido para, em seguida, partir para um projeto de reeleição, baseado, sobretudo, no apoio que o presidente tem maioria da população.
“Ele veio desse povo, suas origens são humildes. Boa parte da população acredita na inocência do presidente e vai apoiá-lo”, diz o empresário.
Campanhas
Rodolfo Fehr Júnior não conhece nenhum caso de suíço, pelo menos entre os que moram em Pernambuco, que tenha sido prejudicado diretamente pela crise política. Para ele, mais grave é o volume de tributos que se paga no Brasil e a alta taxa de juros, sobretudo para quem exerce atividades nas áreas do comércio e da indústria.
“Os suíços que moram aqui são cumpridores de suas obrigações e essa falta de retorno em serviços públicos às vezes revolta muita gente”, ressalta o cônsul, lembrando que as promessas do PT na campanha presidencial eram de juros mais baixos e menos impostos.
Uma coisa também é certa: se esses cidadãos suíço-brasileiros já não atuavam em campanhas políticas, agora com a crise, essa possibilidade fica cada vez mais distante.
“As campanhas políticas no Brasil são muito caras e, por isso, tornam-se vulneráveis à corrupção. Deveriam ser mais enxutas, com menos dinheiro gasto, com menos festa e mais propostas políticas e administrativas”, entende Frederico Vegelin.
Já Rodolfo Fehr Júnior considera que, diante do que vem acontecendo, fica cada vez mais dificil para as empresas se envolverem em campanhas político-partidárias. Mesmo assim, ele admite até a possibilidade de, um dia, contribuir financeiramente com alguma candidatura, o que faria como cidadão e não como empresário.
swissinfo, Gilvandro Filho, Recife
Cerca de 170 suíços (natos e descententes) vivem em Pernambuco.
50 são filiados à Sociedade Suíça de Beneficiência, entidade criada em 1875 para assistência a cidadãos residentes e em trânsito pelo Estado.
A Associação comemora o 1º de Agosto, data nacional.
No Recife, a representação consular funciona há 35 anos.
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