Perspectivas suíças em 10 idiomas

Suíça defende sexo sem camisinha de portadores de HIV

Crianças com HIV positivo em Campala, Uganda. Keystone

A delegação suíça defendeu na 17ª Conferência Internacional sobre Aids a polêmica posição de que determinados portadores do vírus da Aids (HIV) podem manter relações sexuais com parceiros não infectados.

Alguns cientistas fazem duras críticas à recomendação suíça. Um estudo realizado em Berna compara o tratamento da Aids na Suíça com o da África do Sul e destaca a importância do acesso aos medicamentos.

O simpósio da Comissão Suíça para Questões Ligadas à Aids (CFS, na sigla em francês), no México, despertou grande interesse. A sala ficou lotada, informou a organização Aids-Hilfe Suíça (AHS).

A posição da CFS já causou polêmica quando de sua publicação, em janeiro deste ano (veja link). Segundo a comissão, sob determinadas condições, portadores de HIV podem manter relações sexuais sem uso de camisinha.

Eles, porém, têm de seguir rigorosamente uma terapia antiviral e ser controlados regularmente. Durante seis meses não devem ser encontrados vírus no sangue. E o portador de HIV não deve ter outra doença sexualmente transmissível.

Na Suíça, apenas alguns milhares de pessoas preenchem esses requisitos. A Aids-Hilfe Suíça apóia a posição da CFS “porque ela significa uma melhora da qualidade de vida para os atingidos e reduz a estigmatização”, afirma a organização num comunicado.

Essa opinião foi partilhada por uma vítima da Aids no México. “Finalmente me livrei da sensação de que represento um risco para a vida de outros”, disse o representante do grupo europeu dos ativistas dos tratamentos de Aids (EATG).

Críticas

A recomendação da Comissão Suíça para Questões Ligadas à Aids é vista com ceticismo no país e no exterior. Segundo a AHS, o cientista estadunidense Myron Cohen pediu pesquisas de longo prazo sobre o assunto.

Uma representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (Unaids) advertiu que a avaliação da CFS não vale para países pobres. Cerca de 90% dos estimados 33 milhões de portadores de HIV vivem em países em desenvolvimento.

Rolande Hodel, da ONG AidsfreeAfrica, teme a reação na África. “A mensagem (da CFS) é longa e vaga demais. As pessoas simplesmente vão acreditar que não há problemas em fazer sexo sem preservativo”, disse à agência de notícias AFP.

O pesquisador australiano David Wilson considera da recomendação da CFS perigosa demais. Junto com colegas da Universidade de New South Wales, em Sydney, ele calculou o risco que correm os parceiros que seguirem a recomendação suíça.

O resultado publicado na revista britânica de Medicina Lancet é alarmante: para homossexuais sob terapia que não usam camisinha, o risco de infecção quadruplica em relação a casais ou parceiros que usam preservativo, conclui o grupo de pesquisadores chefiado por Wilson.

Aumento dos casos de Aids na Suíça

A conferência sobre a Aids na Cidade do México é a primeira mundial e a primeira do gênero realizada na América Latina. Desde domingo (03/08), 25 mil pesquisadores, médicos, políticos e ativistas participam do encontro. A Suíça participa com uma delegação de 60 pessoas.

Segundo o relatório mais recente da ONU, 27 anos após o surgimento dos primeiros casos de Aids, a doença se estabilizou num nível altíssimo. No final do ano passado, 33 milhões de pessoas estavam infectadas com o vírus.

Quase dois terços dos portadores de HIV (22,5 milhões) vivem na África. No Leste Europeu e na Ásia Central o número de infectados quase triplicou para 1,6 milhão de pessoas desde 2001.

A América Latina tem 1,7 milhão de pessoas com HIV positivo, um terço deles no Brasil. Na Suíça, o número de casos de HIV aumentou levemente no primeiro semestre e deve chegar a 800 em 2008. Desde 2002, o número oscilava entre 722 e 793 casos; no ano passado foram diagnosticados 763 casos da doença.

Acesso a medicamentos

Um dos temas centrais da conferência é a questão do acesso aos medicamentos para o combate à Aids. Anualmente são gastos cerca de 10 bilhões de dólares para atendimento aos pacientes em todo o mundo (2,7 bi na América Latina).

Para atender a todos os portadores de HIV que precisam de terapia seriam necessários 11 bilhões de dólares na América Latina e até 54 bilhões mundialmente. O acesso aos medicamentos é vital, como mostra um estudo realizado pela Universidade de Berna e publicado na revista especializada britânica Plos Medicine.

Após comparar os dados de dois mil portadores de HIV da Cidade do Cabo (África do Sul) com os de mil pacientes suíços, os pesquisadores de Berna concluíram que o tratamento padronizado da Aids atinge resultados semelhantes nos dois país.

Apesar de os pacientes suíços terem recebido 36 substâncias antivirais e os sul-africanos apenas quatro, no período de um ano, em 95% dos casos analisados nos dois países o vírus não foi comprovado no sangue. Também os casos de reincidência foram semelhantes nos dois países.

Na Suíça, a terapia antiviral e o tratamento geral da Aids são cobertos pelo seguro de saúde obrigatório. Na África do Sul e em outros países pobres, esse tratamento se tornou gratuito nos últimos anos, graças a doações ou programas governamentais. Mesmo assim, em dezembro de 2007, apenas 429 mil dos 1,7 milhão de sul-africanos portadores de HIV puderam receber o respectivo tratamento.

swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)

33 milhões de portadores de HIV, 2,7 milhões de novos casos, 2 milhões de mortos

África ao sul do Saara: 22 milhões de infectados, 1,9 milhão de novos casos, 1,5 milhão de mortos

Oriente Médio e Norte da África: 380.000, 40.000, 27.000

Süd- und Südostasien: 4,2 Mio., 330’000, 340’000

Leste Asiático: 740.000, 51.000, 40.000

Oceania: 74.000, 13.000, 1.000

América Latina: 1,7 milhão, 110.000, 63.000

Caribe: 230.000, 20.000, 14.000

Leste Europeu e Ásia Central: 1,5 milhão, 110.000, 58.000

Europa Central e Ociendal: 730.000, 27.000, 8.000

América do Norte: 1,2 milhão, 54.000, 23.000

(Estimativas do Unaids para 2007)

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR