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Suíça e Brasil retomam negócios após a crise (segunda parte)

O secretário de Estado, Jean-Daniel Gerber Keystone

Jean-Daniel Gerber é um homem atento ao que acontece no cenário econômico mundial. Responsável por conduzir recentes reformas em seu país, o secretário de Estado de Economia da Suíça iniciou pelo Brasil uma visita à América Latina na qual pretende qualificar relações com algumas economias emergentes.

Além disso, Gerber acompanha de perto a crise econômica na UE e as rusgas recentes com os Estados Unidos.

Acompanhado por uma comitiva formada por empresários suíços, Gerber teve no Brasil reuniões com o ministro do Planejamento, Nélson Machado, com a prefeita em exercício de São Paulo, Alda Marco Antonio, e com dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Leia a seguir a entrevista exclusiva concedida pelo secretário de Estado à swissinfo.ch no dia 8 de julho:

swissinfo.ch: Qual sua avaliação da recente crise vivida pela União Européia e que tocou mais particularmente a Grécia?

Jean-Daniel Gerber: É uma crise extremamente grave, mas eu suponho que as medidas que foram tomadas pela União Europeia com o suporte da comunidade internacional, como a criação de um fundo de garantia de US$ 700 milhões de reserva, foram a melhor solução. Eu espero e acredito que isso vai se sustentar. Entretanto, nós devemos ter uma segunda crise, comparável a que vivemos no ano passado. Portanto, nós temos naturalmente algumas dúvidas.

Para a Suíça foi uma coisa muito ruim essa crise grega, porque nós dependemos fortemente da União Européia – 60% das exportações suíças vão para a União Européia e 70% das importações vêm da União Européia – portanto nós temos todo o interesse que a União Européia funcione bem. O franco suíço ganhou muito em valor, assim como o real aqui no Brasil.

Naturalmente, se existe crise de mercado na Europa, o franco suíço é considerado como uma moeda de segurança, que não terá desvalorização. Por isso, todos compram francos suíços, o que encarece a moeda e penaliza, por consequência, nossas exportações.

swissinfo.ch: Existem novos acordos bilaterais com a União Eurupeia em vista?

J-DG: Nós estamos negociando dois ou três novos acordos com a União Européia, um sobre eletricidade, outro sobre livre comércio no domínio agrícola e um terceiro sobre a aceitação da Suíça no domínio da saúde, sobretudo no que concerne às medidas sanitárias sobre produtos alimentares.

Nós negociamos também com a União Européia a adesão da Suíça ao Sistema Galileu, que é um sistema europeu que corresponde ao GPS americano.

swissinfo.ch:Por falar nos Estados Unidos, como estão as relações econômicas com a Suíça depois do episódio do sigilo bancário?

J-DG: Os Estados Unidos são o segundo mercado de exportação para a Suíça, portanto é um país extremamente importante. Depois que nós resolvemos o Caso UBS com os americanos, depois que o acordo com os Estados Unidos foi ratificado e assinado pelo Parlamento suíço, as relações com o subsecretário de Estado responsável pela economia nos Estados Unidos passaram-se muito bem. Se o Parlamento suíço não tivesse aceitado o acordo com os EUA, eu suponho que o encontro que tivemos com o subsecretário teria sido nulo.

swissinfo.ch: Desde que assumiu o cargo, o senhor promoveu algumas reformas na economia suíça. Pode falar um pouco sobre elas?

J-DG: As reformas que fizemos são importantes e explicam porque temos uma taxa de crescimento mais elevada do que outros países. Eu citarei três ou quatro.

A mais importante certamente é o acordo sobre a livre circulação de pessoas, que teve como conseqüência uma imigração na Suíça de pessoas altamente qualificadas nos dois ou três últimos anos. Em segundo lugar, nós temos uma lei dupla sobre os cartéis, o que acarreta que a competitividade tenha aumentado.

Em terceiro lugar, nós concluímos um grande número de acordos de livre comércio com o Japão, o Canadá, o México, o Chile e a Colômbia.

Eu vou ao Peru para assinar um acordo de livre comércio. Nós também criamos um mercado doméstico unificado, o que não existia na Suíça.

Nos últimos três anos nós introduzimos, em nível constitucional, um freio ao endividamento, o que faz com que, contrariamente a outros países, a gente tenha um endividamento razoável na Suíça. O orçamento da Confederação, dos cantões e das comunas foram saneados.

swissinfo.ch: Ainda restam reformas a fazer?

J-DG: No que concerne às reformas a fazer, há certamente o custo da saúde, que está em crescimento constante. É preciso encontrar meios de reduzir esse crescimento.

Em segundo lugar, os seguros sociais estão muito altos e precisamos tentar estabiliza-los. Nós teremos uma votação no próximo dia 26 de setembro para o saneamento dos seguros em caso de desemprego. Os seguros de invalidez e de velhice também devem ser revistos.


Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro, swissinfo.ch

Na primeira parte da entrevista, Gerber fala das relações e dos problemas entre a Suíça e o Brasil. (clique sobre o mesmo assunto).

Jean-Daniel Gerber defende que a economia suíça se adapte às novas realidades exigidas pelo processo de aquecimento global. Ele afirma que alguns projetos já estão em curso: “Lamento muito que Copenhague não tenha sido um sucesso. Os acordos que nós concluímos no domínio do comércio, das finanças, etc, têm pouca influência sobre o clima. A Suíça tem um certo número de acordos com organizações como o Banco Mundial, o PNUD e o PNUMA, onde nós tentamos financiar projetos de adaptação às mudanças climáticas”.

Em relação ao Brasil, a idéia é reforçar as importações de biocombustíveis para a Suíça: “Com o Brasil, nós temos igualmente um certo número de projetos na Amazônia. É claro, também, que a Suíça deveria ser mais ofensiva para importar biocombustíveis. Infelizmente, nós temos uma legislação nesse domínio que praticamente torna impossível ao Brasil exportar seus biocombustíveis para a Suíça”, lamenta Gerber

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