Suíça faz lobby por melhor eliminação de lixo eletrônico
O governo suíço quer fazer pressão por meios mais eficientes de remoção de dejetos eletrônicos durante uma conferência internacional sobre o lixo.
Enquanto cresce o comércio internacional, aumenta cada vez mais a quantidade de resíduos tóxicos potencialmente transportados ao Terceiro Mundo. Sua incorreta remoção tem um forte impacto negativo sobre a saúde humana e o meio ambiente.
Os delegados suíços pretendem compartilhar sua própria experiência no tratamento de velhos aparelhos eletrônicos durante a 9ª Conferência das Partes na Convenção da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos, que abre hoje (23 de junho) em Bali, Indonésia.
Os esforços das autoridades helvéticas para assegurar o tratamento correto do chamado “e-waste” são apoiados pelo grupo ecológico Greenpeace, que faz um apelo aos participantes do encontro internacional para criar novas leis que cubram a eliminação de eletrodomésticos, como telefones celulares ou computadores.
Nos últimos anos, a Suíça encorajou o setor privado a organizar a remoção ecológica e a reciclagem do número crescente de telefones celulares que vão parar no lixo.
Em Bali, a delegação suíça fará pressão sobre os participantes da conferência para criarem semelhantes parcerias para tratar dos computadores velhos.
“Falamos principalmente da questão dos telefones celulares, mas é possível expandir o debate e dizer que o lixo eletrônico, em geral, é um problema quando a produção aumenta”, declara Thomas Kolly, chefe da divisão internacional do Ministério do Meio Ambiente. “No final, todos esses aparelhos acabam sendo jogados fora”.
Sucata
A questão do lixo eletrônico será um dos cavalos de batalha da “Basel Action Network” (Ban), ONG americana com secretariado em Genebra que participa da também da conferência.
Como denuncia a ONG no seu site, cada vez mais aparelhos eletrônicos usados são vendidos e exportados pelas nações mais ricas para uma suposta reutilização nos países em desenvolvimento. Porém, a realidade é que muitas vezes eles não são mais reutilizáveis ou passíveis de conserto e terminam como sucata eletrônica, sendo depositados em grandes lixões ou mesmo queimados, ações que provocam grandes danos ao meio ambiente e à saúde humana.
Para combater o problema, a Ban reivindica a introdução global de testes obrigatórios e o monitoramento antes qualquer exportação de lixo eletrônico.
Martin Besieux, do Greenpeace International, concorda com a proposta. O grupo ecológico exige medidas adicionais para tratar da questão do lixo eletrônico. Ele exorta os participantes da conferência em Bali a apoiar a criação de uma legislação internacional que exija dos fabricantes assumir os custos da reciclagem ecológica dos seus produtos, custos estes que poderiam ser incorporados aos preços.
O Greenpeace elaborou uma lista das empresas que responderam positivamente à idéia ou já a estão implementando na sua própria cadeia de produção. Como forma de pressionar a opinião pública, o grupo ecológico depositou 500 computadores usados na frente da sede geral da multinacional Philips na Holanda, uma semana antes do início da conferência em Bali.
“Talvez estejamos em um momento, onde a indústria de eletrônicos poderia mostrar para outras setores da economia a melhor forma de eliminar o lixo e ser ecológico”, afirma Besieux à swissinfo.
Evitar acidentes
Em Bali, cerca de 170 países irão debater o tema da conferência, cujo principal objetivo é estender a atual proibição de exportação de lixo para países em desenvolvimento que não tenham a infra-estrutura necessária ou o conhecimento para realizar um tratamento que não seja danoso ao meio ambiente ou à saúde pública.
A Suíça é uma das principais defensores da Convenção da Basiléia e colabora estreitamente com a secretaria internacional da organização baseada em Genebra, cujo chefe também é um suíço.
Kolly declara que houve um desenvolvimento positivo desde que a convenção foi aceita pelos países signatários. Ela foi ratificada por sessenta países, embora os Estados Unidos, Canadá e Austrália ainda não tenham assinado. “Certamente já houve bastante progresso. Foi a primeira vez que o tráfego de lixo foi realmente tratado e regulado por um tratado internacional”. Porém o chefe da divisão internacional do Ministério do Meio-Ambiente ressalta a necessidade de uma ação global para impedir que o problema ganhe dimensões incontroláveis.
Elas impediriam graves acidentes ambientais como o ocorrido em 2006, quando o navio cargueiro Probo Koala, jogou sua carga de lama proveniente de aterros sanitários químicos originários da Europa nas ruas e terrenos de Abidjan, na Costa do Marfim. Resultado: sete pessoas morreram e mais de 40 mil tiveram de ser tratadas por náuseas, problemas respiratórios e hemorragias nasais. “Temos de fazer todo o possível para impedir esse tipo de acidente. A convenção é um instrumento que pode ser útil nesse sentido”, reforça Kolly. “Se você olha a quantidade de lixo que está se empilhando atualmente, sabe que precisamos agir o mais rápido possível”.
swissinfo, Jessica Dacey
De acordo com especialistas, a eliminação de um metro cúbico de lixo tóxico custa entre 400 e 680 dólares na Europa, quinze vezes mais do que em países africanos ou asiáticos.
O Programa de Meio-Ambiente das Nações Unidas (United Nations Environment Programme – UNEP) estima que 50 milhões de toneladas de lixo originário de eletrodomésticos são produzidas anualmente.
Um estudo realizado em 2005 pela Basel Action Network concluiu que 75% da sucata de TVs e computadores transportada para a Nigéria para “reutilização” termina sendo queimada ou enterrada.
A 9ª Conferência das Partes da Convenção da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos se realiza em Bali, Indonésia, de 23 a 27 de junho de 2008.
O tema da conferência é o efeito do tratamento de lixo para a saúde humana e vida.
O objetivo é tratar da questão do tratamento de lixo como promovido pela Convenção da Basiléia nas agendas nacionais e internacional.
A Convenção da Basiléia – um dos três tratados que visam proteger a saúde humana e o meio-ambiente – foi assinada em 1989 para impedir que países ricos exportassem seu lixo tóxico para os mais pobres. As outras duas são a Convenção de Roterdã sobre substâncias químicas e a Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes.
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