Suíça se destaca como polo científico e tecnológico
O diretor da Escola Politécnica de Lausanne (EPFL), Patrick Aebischer, esteve em Budapeste para a nomeação dos seis projetos científicos que irão concorrer ao financiamento de 2 bilhões de euros da União Europeia.
Três dentre eles estão sendo desenvolvidos na Suíça, incluindo dois na própria EPFL. Entrevista à swissinfo.ch na capital húngara.
Na semana passada, uma grande parte do vasto Centro de Convenções de Budapeste foi transformada em uma vitrine de know-how tecnológico e inovações eletrizantes. Entre as salas onde os responsáveis da área de tecnologias futuras e emergentes (FET em inglês) faziam suas apresentações, dezenas de stands mostravam as realizações de seus laboratórios.
Entre os “brinquedinhos” ultrasofisticados, os robôs estavam por toda parte, cada vez mais humanoides e móveis. E o que também podia ser visto em todos os stands eram as letras “E-P-F-L”, em seus logotipos vermelhos para a sigla em francês Ecole Polytechnique Federale de Lausanne.
Dos seis projetos, dos quais serão escolhidos dois “flagships” de um bilhão de euros cada um (ver ao lado), dois estão sendo desenvolvidos pela EPFL, que também está colaborando com outros dois. A Politécnica de Zurique (ETH) também está bem presente. Ela co-dirige um projeto e também participa de outros dois. Nada mau para um país que nem sequer é membro da União Europeia!
É fácil entender por que Patrick Aebischer ostentava tamanho sorriso. Reeleito recentemente a um quarto mandato de chefe da instituição, o diretor da EPFL saboreava, na Hungria, um resultado que ele próprio considera ” absolutamente fora de todas as expectativas”.
swissinfo.ch: Por que a Suíça é tão forte em ciência e tecnologia?
Patrick Aebischer: A Suíça tem uma longa tradição de qualidade e excelência. Ela também tem uma abertura acadêmica, que é uma importante chave para esse sucesso. Desde a sua criação, há mais de cinquenta anos, que o Fundo Nacional Suíço de Pesquisa escolhe seus projetos pela qualidade. E isso é percebido e respeitado por muitos pesquisadores. Por isso temos essa capacidade de atraí-los até nós, oferecendo-lhes um local propício para desenvolver uma boa ciência. E inovar.
swissinfo.ch: Em nossas faculdades, metade dos alunos e dos professores são estrangeiros. Você acha que o passaporte é importante para os cientistas?
P.A.: Espero que não! Esse multiculturalismo, onde as pessoas se sentem à vontade, é uma chance para Suíça. Somos capazes de atrair cérebros estrangeiros, mas também suíços que gostariam de voltar depois de alguns anos no exterior.
É bom para um cientista ir ao exterior para se familiarizar com outros sistemas. Especialmente em se tratando da Suíça francesa, onde não seria possível fazer uma escola grande, com uma área de recrutamento de cerca de um milhão de pessoas, se não tivéssemos esta abertura, que considero muito importante.
E por outro lado, é importante que os suíços saibam que têm uma capacidade, que podem estudar no exterior e voltar a fazer ciência na Suíça.
swissinfo.ch: Sobre a escolha dos dois projetos que serão elevados a categoria “flagship” (emblemático), as seleções foram feitas até agora com critérios científicos. Mas a escolha final será política…
PA: Claro, os critérios políticos, econômicos e financeiros vão intervir. E é aí que a Suíça é certamente menos forte do que na primeira rodada, que foi puramente científica. Devemos ser cuidadosos em ter pesquisadores de outros países importantes, para que nossos projetos sejam apoiados também por pesquisadores europeus que não trabalham na Suíça.
swissinfo.ch: Quais são as chances de ter dois suíços na final?
PA: Poucas… o pior seria não ter nenhum! Mas espero, em todo caso, que tenhamos um. Porque tem também um projeto como o FuturICT, que está baseado em Londres, mas tem a ETH por trás. O que eu acho mesmo é que não devemos olhar muito para as cores das bandeiras e dos passaportes.
No entanto, precisamos que o Parlamento e toda a classe política deem seu apoio, financiando alguns dos projetos, que é essencial para conseguir pelo menos um, se não dois.
swissinfo.ch: Os dois vencedores devem ganhar um bilhão de euros cada um. Mas, na verdade, a União Europeia não vai financiar todo esse dinheiro…
PA: Isto está sendo discutido. Fala-se de 30 a 50% da Europa e o resto dos Estados-Membros. É por isso que os projetos com importantes bases em diversos países têm mais chances de conseguir o bilhão prometido.
swissinfo.ch: A Suíça continua fora da União Europeia. Finalmente, o estatuto de não-membro não parece ser um problema para os cientistas…
PA: Até agora nem tanto, é verdade, se levarmos em consideração apenas a dimensão científica.
Mas, como você sabe, existem outros acontecimentos políticos agendados. O desastre para a Suíça seria que, de repente, por causa de uma cláusula guilhotina [um tratado internacional rejeitado pelo voto popular, o que anularia os outros, incluindo o de livre circulação, ndr.], ela perdesse sua ligação com a Europa. Isso seria trágico para a área científica do país.
FET para “Tecnologias futuras e emergentes”
(Future and Emerging Technologies), é um programa europeu de apoio à pesquisa nas áreas das tecnologias da informação e da comunicação. Financiou 526 projetos em 22 anos, com orçamentos que aumentam de forma constante (370 milhões de euros no período 2007-2011). O objetivo é apoiar a pesquisa “de longo prazo e de alto risco que tem o potencial de transformar radicalmente a sociedade científica e tecnológica de amanhã”.
Flagships para “porta-estandartes”.
São os dois projetos que a Comissão Europeia vai atribuir no próximo ano, 1 bilhão de euros para cada um, ou pelo menos 100 milhões por ano durante dez anos. Eles devem ser de grande escala, visionários, fundamentados cientificamente, apoiados politicamente e financeiramente sólidos e ter “o potencial de fornecer soluções para alguns dos maiores desafios da sociedade.”
Adaptação: Fernando Hirschy
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