Suíço desenvolve nova terapia contra diabetes
O pesquisador Marc Donath, professor da Universidade de Zurique, desenvolveu uma nova terapia que inibe a ação do tipo mais comum de diabetes (o tipo 2), que atinge meio milhão de suíços.
Primeiro vencedor suíço do Prêmio Novartis de Pesquisas sobre Diabetes, Donath atribui a doença a uma espécie de infecção das células, uma hipótese que foi muito contestada. Em entrevista à swissinfo, ele admite que ainda vai demorar muito até essa idéia ser aceita.
Cerca de 90% dos diabéticos têm a doença do tipo 2 – na Suíça, são cerca de 500 mil pessoas. Muitas delas são idosas e são obrigadas tomar medicamentos e injeções diárias de insulina.
Os pacientes de diabetes do tipo 2 não conseguem produzir insulina suficiente para controlar o nível de açúcar (glicose) no sangue. Com o tempo, as células beta, produtoras de insulina no organismo, morrem.
Donath, professor de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Universitário de Zurique, identificou a substância responsável pela morte das células – e a bloqueou. O bloqueador foi testado com sucesso em seres humanos. A nova terapia desperta o interesse da indústria farmacêutica e alimenta a esperança de que os diabéticos possam viver sem medicamentos e a injeção diária de insulina.
swissinfo: Como é a vida de um diabético do tipo 2?
Marc Donath: No início, os pacientes podem reduzir sua demanda de insulina mudando seu estilo de vida. Mas, assim que a células beta falham, eles precisam de medicamentos e, com o tempo, das injeções de insulina.
Trata-se de uma doença crônica, cuja evolução pode ser freada, mas ela continua avançando. Após 10 a 20 anos, a insulina produzida pelo corpo tem de ser substituída pela injetada. Ao fazer as injeções, sempre se precisa ter em mente o nível do açúcar no sangue. Isso exige várias medições por dia.
swissinfo: Como o senhor atacou o problema?
M.D.: Primeiro tivemos de entender porque as células morrem. Identificamos a Interlecuina-1 como causa. Esta molécula é produzida pelas próprias células. Aplicamos então um bloqueador de Interlecuina-1 beta e testamos isso no ser humano. Os resultados foram publicados em 2007. Conseguimos provar que o bloqueio muda a evolução da doença. Assim os pacientes melhoraram o teor de glicose no sangue e – mais importante ainda – eles mesmos passaram a produzir mais insulina.
Este ano usamos um bloqueador com efeito de longo prazo e viu-se que ele é seguro. Agora basta fazer uma injeção para atingir melhores níveis de glicose no sangue por um mês. Em outras palavras: basta uma injeção por mês. Foi impressionante observar também que a produção de insulina pelo próprio paciente aumentou 26% por mês. Após três meses, esse aumento foi até de 52%.
Não se trata aqui de uma terapia de sintomas e sim apenas dos níveis de glicose no sangue. Mas nós realmente influenciamos a evolução da doença. Podemos inibir o avanço progressivo da doença.
swissinfo: Seria um grande avanço se os pacientes precisassem de apenas uma injeção por mês.
M.D.: Trabalhamos com várias empresas para que isso seja viável o mais rápido possível. Seria realmente um alívio para os pacientes, especialmente os que precisam tomar tantos remédios e injeções e que às vezes esquecem. Vai demorar uns três anos até os primeiros produtos serem lançados no mercado. Outros medicamentos são esperados para daqui a 5 ou 7 anos.
swissinfo: Houve muito ceticismo no início de sua pesquisa?
M.D.: Isso é freqüente na ciência, quando se derruba um paradigma. Nós descrevemos um tipo específico de infecção. Foi difícil convencer as pessoas de que uma infecção tinha algo a ver com diabetes do tipo 2. Principalmente na Europa houve muito ceticismo.
É muito importante que agora outros grupos independentes confirmem nossa descoberta. Isso, afinal, é o que convence a comunidade científica.
swissinfo: Como o senhor vai testar a segurança de sua terapia em relação aos efeitos colaterais?
M.D.: Primeiro, é preciso definir a dose certa. Na terceira fase, vêm os testes de segurança. A segurança sempre é um tema quando se trata de medicamentos, especialmente quando o assunto é diabetes, porque outros medicamentos contra essa doença não foram suficientemente seguros.
Mas estou otimista porque pacientes com artrites reumática tomam medicamentos semelhantes praticamente sem problemas de segurança. Como sabemos muito bem o que fazemos biologicamente, não devem ocorrer efeitos colaterais.
Na pior das hipóteses, se esse medicamento não puder ser vendido por problemas de segurança, pelo menos apontamos um rumo para a pesquisa. Se esse remédio específico não for o correto, poderão ser outros que funcionem pelo mesmo princípio.
swissinfo, Isobel Leybold-Johnson, Zurique
Marc Donath, 44, é professor de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Universitário de Zurique.
Nascido em Genebra, divide seu tempo entre o consultório, os laboratórios de pesquisa e tarefas de administração.
Ele recebeu o Prêmio Novartis, de 27,6 mil francos, no dia 9 de setembro de 2008, em Roma, durante o Congresso da Associação Européia para Estudos do Diabetes.
Muitos pacientes de diabetes são obesos. A maioria tem entre 40 e 59 anos. A doença, que é crônica, também avança entre crianças e jovens.
Na Suíça, 6% a 7% da população sofrem de diabetes. A origem da doença pode ser genética.
Estima-se que, nos próximos 20 anos, haverá cerca de 380 milhões de diabéticos no mundo, o que significaria uma epidemia.
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