Talento espanhol na sede suíça da Google
O motor de procura mais popular no mundo abriu há pouco tempo em Zurique um novo centro europeu de pesquisas. Lá trabalham 400 especialistas de 40 diferentes nacionalidades, dentre eles Joaquín Cuenca e Eduardo Manchón, fundadores do Panoramio, site que foi comprado pela Google há pouco mais de um ano.
Os dois espanhóis se mudaram para Zurique para continuar o desenvolvimento da sua idéia com a melhor infra-estrutura possível.
Os dois jovens amigos de Alicante, no sul da Espanha, continuam desenvolvendo a bem sucedida idéia do site de fotos diretamente nos laboratórios do gigante informático em Zurique. É a primeira compra que a Google realizou de um produto desenvolvido na Espanha.
Panoramio.com é uma comunidade virtual, onde os internautas podem compartilhar gratuitamente suas fotos com a localização cartográfica exata de onde elas foram tiradas no ‘Google Earth’ e, mas recentemente, também no aplicativo ‘Google Maps’.
Seu propósito é ilustrar o mundo com imagens das pessoas que viajam. Atualmente o site dispõe de sete milhões de fotos tiradas em todas as partes do mundo e dois milhões de usuários.
A operação foi supostamente a segunda na história da Google – após o YouTube – em que a companhia americana não adquiriu basicamente tecnologia, mas sim apostou em conteúdo e na comunidade de usuários.
Pizzas e refrigerantes
Manchón e Cuenca criaram Panoramio em 2005 quase sem querer e com um investimento mínimo. “Alugamos um servidor por 100 dólares mensais. O gasto principal nesse momento era com pizzas e refrigerantes. Mais tarde começamos a ganhar com a publicidade que aparecia na página”, explica Cuenca à swissinfo.
Nesse ponto, Manchón complementa: “Trabalhávamos no projeto durante o nosso tempo livre, apesar de dedicarmos muitas horas a ele, por vezes até durante a noite. Ambos tínhamos empregos diferentes, porém tivemos que abandoná-los quando nos metemos a fundo no Panoramio.”
Provedor de Google Earth
Mas tarde a Google lhes pediu permissão para colocar imagens arquivadas no Panoramio dentro do aplicativo Google Earth.
Em dezembro de 2006, o portal espanhol se converteu em provedor de imagens do Google Earth, o que trouxe um enorme aumento de tráfego na web. Panoramio começou a se tornar muito mais conhecido e o número de cliques aumentou exponencialmente. Como indica Cuenca, este passo “permitiu uma popularização do projeto e trouxe mais tráfego na Internet”, multiplicado por 30 no primeiro dia – com milhões de páginas vistas a cada mês.
Pouco mais tarde, em julho de 2007, Google anunciou a compra de Panoramio – por um montante não revelado, mas que segundo a cadeia de notícias SER poderia chegar a seis milhões de euros – o que deu muita satisfação a um dos sócios fundadores. “Ficamos muito contentes e alegres com a notícia”, segue Cuenca. “Interpretamos a aquisição como uma conseqüência natural da integração do Panoramio ao Google Earth”, conclui Manchón.
Mudança para a Suíça
Os dois empreendedores espanhóis se mudaram para Zurique há apenas um ano, apesar de nunca terem imaginado viver um dia na Suíça. “O certo é que estamos muito bem aqui. A imagem de sobriedade que tem a Suíça vista de fora nos surpreendeu positivamente”, relata Cuenca. “Zurique me encanta pela sua natureza e a vida que tem. Estamos viajando para conhecer pouco a pouco a Confederação Helvética”.
Por sua parte, Manchón comenta que a integração foi fácil. “As pessoas falam inglês se temos um problema com a língua, mas sempre agradecem quando falamos algo em alemão. Elas são simples, cumprimentam na rua dando um sentimento de proximidade. “É como estar em um grande vilarejo e isso facilita bastante a integração”.
Perguntado sobre as diferenças entre a Espanha e a Suíça, no setor da tecnologia, Joaquín Cuenca acredita que na península ibérica os jovens se lançam mais a desenvolver suas idéias devido aos baixos salários pagos pelas empresas estabelecidas. “Se você só ganha mil euros, é mais provável que comece a pensar em ter seu próprio negócio. Na Suíça a tecnologia está mais orientada para o desenvolvimento do setor bancário, que move muito dinheiro. “Porém esta realidade impede ou limita a aparição de pequenos projetos”.
Sorte ou talento
No que diz respeito à sorte ou competência necessária para o sucesso do Panoramio, ambos deixam claro que o trabalho é o segredo. “Temos talento, mas não somos Einstein”, reconhece com modéstia Bacia. “Não se trata de uma loteria e o que funciona não é só a boa sorte, pelo contrário. Quando algo não funciona, a razão não está na má sorte. Não é aleatório. Eu entendo que no nosso caso a sorte não foi um fator fundamental”.
Comunidades de futuro
Ao analisar o futuro, Manchón acredita que as comunidades virtuais e redes sociais vão girar, por exemplo, em torno do tema dos mapas, sobretudo devido ao aumento de dispositivos que utilizam a tecnologia GPS nos carros, câmaras e em outros elementos.
Cuenca prevê a simplificação das infra-estruturas que amparam as redes sociais. “Hoje em dia a moda é o Facebook ou o Myspace, dentre outros. Empresas como Google ou a Amazon buscam simplificar a parte técnica para permitir que todo mundo possa levar a cabo seu experimento de aplicação social”.
A opinião, ratificada por Manchón, que indica que o “complicado é criar estas comunidades, que são pesadas e complexas. A busca vai na direção de se ter algo mais compactado e menos complexo”.
De todas as formas, o investimento necessário e os custos para criar esse tipo de empresas são cada vez mais reduzidos. “Alugar um servidor custa hoje em dia apenas nove euros por mês”, lembra Manchón.
Empreendedores do mundo, tomem nota…
swissinfo, Iván Turmo
Começou a jogar com computadores a partir dos 8 anos de idade.
Formado em física pela Universidade de Valência e em informática pela Universidade Paris Sud XI.
Membro ativo da comunidade de software livre GNOME.
Trabalhou em companhias de Paris como programador em:
Celium (2000-02)
Wizart (2002-05)
Começou a dedicar o tempo integral ao site Panoramio em março de 2006.
Formado em psicologia pela Universidade de Valência. Dois anos na Universidade de Bergen (Noruega).
Psicólogo especializado na interação pessoas-computador.
Trabalhou no campo de usualidade e desenho de interfaces durante os últimos sete anos.
Desde 2001, ele escreveu mais de 120 artigos de usualidade, metodologia de investigação nos sites Ainda.info (página pessoal) e Alzado.org (co-fundador).
Durante três anos trabalhou no banco online laCaja.es em Barcelona.
De 2004 a 2007 foi consultor independente de usualidade.
Google tem atualmente 12 centros de pesquisa e desenvolvimento na Europa.
Eles estão localizados em Londres, Aarhus (Dinamarca), Trondheim (Noruega), Lulea (Suécia), Cracóvia (Polônia), Moscou e St. Petersburg (Rússia), Haifa e Tel Aviv (Israel), Dublin (Irlanda), Munique (Alemanha) e Zurique (Suíça).
Nas suas operações na Europa, Oriente Médio e África, a Google emprega 2.500 pessoas.
Com 350 funcionários, o centro de pesquisas de Zurique já é o maior da Google fora dos Estados Unidos.
Dentre as especialidades da filial estão o desenvolvimento do Google-Maps, Gmail, a otimização do sistema de anúncios e também um papel central no desenvolvimento de novos produtos.
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