Tragédia reacende discussão sobre suicídio (II)
No país dos Alpes, 1296 pessoas se suicidaram em 1999, último ano em que o Departamento Federal de Estatísticas registrou o número. Dessas pessoas, 106 deles tinham apenas entre 15 e 24 anos.
Para professor suíço, quebrar o tabu sobre o suicídio e discutir abertamente sobre o tema na sociedade é melhor caminho para diminuir as estatísticas.
Ao contrário do que normalmente ocorre, a imprensa suíça noticiou abertamente sobre o suicídio do jovem de 19 anos na escola em Köniz. Apesar do acordo informal e ético que existe entre os jornais, para evitar de contar detalhes sobre suicídios que possam influenciar outras pessoas, o suicídio de Marc parece confrontar-se com as estatísticas: a Suíça é um dos países recordistas na Europa em número de suicídios, superada apenas pela Hungria, países escandinavos e a Áustria. Porém no grupo de jovens, a Suíça encontra-se no topo.
Segunda causa de morte depois dos acidentes de tráfego
No país dos Alpes, 1296 pessoas se suicidaram em 1999, último ano em que o Departamento Federal de Estatísticas registrou o número. Dessas pessoas, 106 deles tinham apenas entre 15 e 24 anos. Isso significa que a cada três dias, um jovem se suicida na Suíça.
Suicídio é também a segunda causa mais freqüente de mortes para os jovens até 24 anos, depois dos acidentes de tráfego. E esses números são apenas a ponta do iceberg: especialistas calculam que para cada suicídio realizado, existam dez tentativas.
Esse problema é considerado um grande tabu na Suíça. Porém a gravidade das ocorrências, começa a despertar um sentimento na sociedade de que algo precisa ser feito.
Congresso para discutir o problema
Em 2000, o jornal Berner Zeitung noticiava sobre o caso de suicídio de uma criança de 9 anos, que se enforcou ao lado de um parque infantil em Lausanne. Em Pfyn, cantão de Thurgau, um garoto de 13 anos atira na cabeça num banheiro público. Também no mesmo ano, jovens escolares protestam em silêncio pelas ruas de Genebra, depois que um colega da escola se matou. Ao mesmo tempo, eles criaram a associação “Stop Suicide”.
Para debater o problema, 600 especialistas reuniram-se no primeiro congresso interdisciplinar sobre o suicídio, que ocorreu em Berna de 7 a 8 de maio de 2002. Sob o título “Suicídio – eu não quero morrer”, os participantes chegaram a conclusão que é importante falar sobre o tema. Eles reivindicaram, ao mesmo tempo, a criação de programas nacionais ou mesmo centros de prevenção do suicídio.
Problema da sociedade moderna
“Infelizmente não temos na Suíça nenhum projeto nacional para combater o suicídio. Países como a Austrália gastaram, há pouco tempo, 34 milhões de dólares australianos, em esquemas de prevenção do suicídio. Isso mostra uma realidade: jovens são o futuro da sociedade. Nós temos que fazer algo para que eles se sintam bem. Suicídio e tentativas de suicídio são um sinal de que os jovens têm problemas e mostram em que estado se encontra uma geração”, explica Konrad Michael, professor da Universidade de Berna e médico no setor de psiquiatria social, onde são atendidas muitas pessoas que já tentaram suicídio.
E quais as razões para que tantas pessoas queiram abandonar de forma violenta a vida, num país considerado como um dos mais ricos do mundo e de melhor qualidade de vida?
“A sociedade na Suíça é muito competitiva. A família também vive atualmente um processo de desintegração. Comunicação também é um dos grandes problemas do suíço: ninguém consegue falar de problemas, nem com sua própria família. O sistema social e econômico também facilita uma extremada individualização: hoje ninguém depende mais de ninguém. A solidão transformou-se num grande problema”, tenta explicar Michael.
Quebrar com o tabu
Para o professor suíço, o suicídio nunca é alto repentino, mas sim o ponto final num processo que já dura há algum tempo. Dos sinais que uma pessoa emite, mostrando o risco do suicido, encontram-se a depressão, isolamento, situações traumáticas e também alusões ao suicídio.
Contrariando a crença de que o tema “suicídio” é um tabu e não deve ser falado, Konrad Michael acredita que falar sobre os problemas pode ser o primeiro passo para evitar o suicídio. “A realidade é que apenas uma pequena parte dos potenciais suicidas procura ajuda especializada. A solução é o tema ser discutido abertamente na sociedade, para que as pessoas conheçam os sinais de risco. Assim como o governo conduz campanhas para diminuir os casos de AIDS e acidentes de transito, também uma grande campanha deve ser organizada para conscientizar a sociedade do problema e fazer com que as pessoas em risco procurem ajuda especializada”.
Números de ajuda
Na Suíça existem serviços anônimos que funcionam por telefone. Os dois números – 143 e 147 – são os mais conhecidos. O primeiro é um serviço conduzido por voluntários, que trabalham 24 horas por dia. Chamado “Mão Estendida”, o número 143 serve não só para pessoas que correm o risco de suicídio, mas também qualquer um que precise de aconselhamento ou apenas conversar.
O segundo serviço – o número 147 – é um serviço 24 horas realizado pela associação suíça “Pro Juventute” e voltado para crianças e jovens. O custo das ligações é praticamente nulo. Os voluntários são treinados para indicar as pessoas especialistas ou locais de tratamento, caso seja necessário.
swissinfo, Alexander Thoele
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