Transgênicos chegam à Europa
Syngenta, empresa suíça e a maior do mundo no setor agroquímico, recebe autorização da União Européia para vender no velho continente milho transgênico.
Comissão Européia decidiu ontem acabar com a moratória contra organismos geneticamente modificados.
Essa decisão irá permitir a Syngenta, empresa suíça com sede na Basiléia, a comercializar a espécie de milho doce patenteada com a sigla Bt-11, conhecida por resistir a um inseto (pyrale) e a um herbicida (glufosinate ammonium). Esse é o primeiro organismo geneticamente modificado a ser autorizado desde 1998. Sua comercialização será permitida durante dez anos.
A novidade é que, pela primeira vez, a Comissão Européia autoriza a venda de transgênicos nos seus mercados. A porta aberta deve servir a outros trinta produtos que estão na lista de espera para autorização. “O milho é apenas um produto entre outros”, constata Markus Payer, porta-voz da Syngenta. “A decisão da Comissão é um progresso do ponto de vista político”.
Porém a questão crucial continua: como o mercado e, por conseqüência, os consumidores irão reagir? Para o representante da empresa suíça a resposta é menos clara: – “Esse será um longo processo”.
O Bt-11 não será destinado ao consumo humano e também não será cultivado na Europa, pois do ponto de vista ecológico, essa nova espécie de vegetal poderá causar uma contaminação do meio-ambiente.
Preocupação nas cidades
A decisão favorável da União Européia termina com um debate de cinco anos sobre a utilização do milho doce Bt-11. Isso, pois a oposição popular ao transgênico foi considerável.
Segundo as pesquisas de opinião, muitos europeus, incluindo os suíços, temem o possível impacto causado pela utilização de transgênicos na alimentação e na natureza. Muitos acreditam até que a agricultura em larga escala dessas espécies “turbinadas” pelas mãos humanas representa um grave risco a saúde humana.
Sensíveis aos temores causados, os governos europeus terminaram por apoiar em 1999 uma moratória na introdução de produtos fabricados à base de transgênicos. Mesmo em 2004, os ministros europeus da agricultura não conseguiram entrar em acordo com relação ao uso do Bt-11.
Afinal, a Europa privilegiou durante anos uma política prudente em matéria de segurança alimentar e de legislação ambiental. No final do debate, é curioso identificar que a própria Comissão Européia liberou a utilização de transgênicos em todos os 25 países membros.
Autorização simbólica
Para os especialistas, a autorização do Bt-11 é mais simbólica, pois o milho genético será claramente identificado como “transgênico” assim que aparecer nas prateleiras de supermercado.
“Será muito fácil de reconhecê-lo”, lembra Markus Prayer, que constata, ao mesmo tempo, que essa decisão não terá praticamente impacto no faturamento total da Syngenta.
“Os transgênicos não correspondem a mais de 3% da venda geral no planeta, sendo que o Bt-11 representa apenas uma pequena parte do negócio”.
Guerra do milho
Em surdina, a decisão da Comissão Européia abre as portas de um novo mercado para empresas como a Syngenta e faz crescer a competição no mercado, sobretudo contra gigantes como os americanos da Monsanto.
As duas companhias brigam publicamente na questão do emprego de milho geneticamente modificado na América do Norte. Monsanto acusa a Syngenta de copiar seus produtos e tenta bloquear a utilização pela empresa suíça de uma técnica que permite cultivar plantas tolerantes aos glifosfatos, que resistem a um certo número de pesticidas comuns. Essa é uma tecnologia que permite aos agricultores a tratar campos de milho contra ervas daninhas, sem prejudicar suas colheitas.
Esse é o mais recente embate de empresas, na crescente concorrência mundial pelo mercado de transgênicos.
Syngenta foi criada em 2002 através da fusão das unidades agroquímicas dos gigantes farmacêuticos Novartsi e Astrazeneca. A empresa é atualmente um dos principais fornecedores mundiais de grãos e de tecnologias de controle de parasitas.
Monsanto espera crescer ainda mais, sobretudo devido ao aumento das vendas de milho geneticamente modificado. O setor deve ser tão lucrativo, que a empresa americana chegou mesmo a declarar na semana passada, que está abandonando os projetos de trigo transgênicos.
swissinfo, Jacob Greber
tradução de Alexander Thoele
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