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Um aventureiro a serviço da proteção ambiental

O casal Moss durante a viagem ao Araguaia (foto: Julio Fiadi) Julio Fiadi

Ele é um herói dos nossos tempos e, em seu trabalho, alia o ancestral desejo humano por aventura e liberdade à moderna preocupação com a preservação ambiental da Terra.

Nascido na Suíça e naturalizado brasileiro, o engenheiro mecânico, empresário e aviador Gérard Moss vem realizando ao longo de duas décadas uma série de projetos e expedições que estão ajudando os homens e mulheres a conhecer melhor as belezas e também as fragilidades do nosso planeta.

Por terra, ar ou água, Moss já levou seu trabalho a mais de cem países, sempre aliando suas expedições à pesquisas científicas relacionadas com questões ambientais. No Brasil, onde vive desde 1983 e conquistou bom espaço na mídia após aparecer em uma série de reportagens no programa Fantástico, da Rede Globo, o suíço-brasileiro é uma figura conhecida e admirada por aqueles que lutam em defesa do meio ambiente.

Gérard Moss ganhou notoriedade entre os brasileiros graças ao seu projeto Brasil das Águas. À bordo de um hidroavião e acompanhado pela mulher, a fotógrafa Margi Moss, ele percorreu o país de norte a sul durante 14 meses, entre outubro de 2003 e dezembro de 2004, e coletou para análise nada menos que 1.160 amostras de água doce de inúmeros rios e lagos brasileiros. Apoiado pela Petrobras, o projeto, além de usar o inédito método da coleta por hidroavião, permitiu que o casal Moss e sua equipe em terra elaborassem um amplo painel das condições de qualidade das águas no Brasil. Divulgados num dos programas de maior audiência na tevê, os resultados do trabalho tiveram grande penetração na sociedade: “Além do levantamento da qualidade das águas, foi feito um trabalho de alerta e conscientização”, afirma Moss.

Brasil das Águas

Atualmente, Moss está levando a cabo o projeto Sete Rios, que é um desdobramento do projeto Brasil das Águas. Iniciado em maio de 2006, o Sete Rios, como o nome revela, tem como alvo sete rios espalhados pelo Brasil. Com base nos resultados das análises obtidas na fase anterior, Moss e sua equipe querem agora envolver às populações ribeirinhas e os demais usuários com a preservação ambiental dos rios de suas regiões. Além de novas coletas, o projeto promove palestras nas principais cidades próximas aos rios escolhidos e leva os ribeirinhos em expedições de barco nas quais eles adquirem maior conhecimento ambiental sobre seus rios.

Além de tentar identificar oportunidades de desenvolvimento sustentável para as populações que vivem às margens dos rios, o Sete Rios tem também como objetivo, segundo a apresentação do projeto, “identificar os principais riscos que ameaçam os sete rios, observando aspectos como ocupação desordenada das margens, utilização intensiva de agrotóxicos, uso do solo, erosão, condição da mata ciliar, tratamento de esgoto, lançamento de efluentes ou proximidade de lixões”.

O projeto teve início num dos principais e mais belos rios brasileiros, o Araguaia (que atravessa os estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Pará), e sua seqüência abrange os rios Grande (Bahia), Ribeira (Paraná e São Paulo), Miranda (Mato Grosso do Sul), Guaporé (MT), Ibicuí (Rio Grande do Sul) e Verde (MT). Com exceção do Araguaia, que foi uma escolha da equipe do Brasil das Águas, os rios foram escolhidos durante um workshop realizado em 11 de abril do ano passado na cidade de Brasília.

Na opinião de Moss, o projeto Sete Rios está trazendo a dimensão humana que faltava ao Brasil das Águas: “Realizamos no Brasil das Águas um trabalho importante em termos de pesquisa, mas faltava o lado humano. O Sete Rios está nos permitindo conhecer melhor as preocupações dos ribeirinhos. Estamos também experimentando essa magia de poder mostrar para o ribeirinho o rio inteiro, inclusive com vistas aéreas, para ele o conhecer melhor e ter noção de que vive em um ambiente que é todo interconectado da nascente até a foz. É um trabalho diferente dos outros e esse contato com as pessoas está sendo muito importante para nós”, diz.

Expedições continuam

Enquanto o mundo celebrar o Dia da Água, nesse 22 de março, a equipe do Sete Rios estará em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, se preparando para completar a quarta expedição do projeto, dessa vez no rio Miranda. A primeira parte dessa etapa foi realizada no início de fevereiro, quando Moss sobrevoou o rio para fazer um reconhecimento aéreo prévio de suas condições. Entre os dias 23 e 28 de março, o Sete Rios passará pelas cidades de Bonito, Jardim, Miranda e Corumbá, onde serão realizadas palestras sobre as condições ambientais do rio e expedições em barco com grupos de ribeirinhos. A etapa do rio Araguaia foi a primeira a ser cumprida pelo projeto, em maio e junho de 2006. Em seguida, foram realizadas as etapas dos rios Grande (setembro de 2006) e Ribeira (novembro de 2006). Até o fim de 2007, serão cumpridas a três últimas etapas do projeto, nos rios Ibicuí, Verde e Guaporé.

Afluente da margem esquerda do rio Paraguai, o sinuoso rio Miranda tem extensão de aproximadamente 800 quilômetros. Localizado entre dois pólos turísticos da região _ a cidade de Bonito e o Pantanal _ o Miranda, segundo o levantamento já feito pela equipe do Sete Rios, sofre com o despejo de esgoto não-tratado e com o impacto ambiental resultante de grandes empreendimentos agrícolas, como o plantio de arroz irrigado e a pecuária extensiva: “O rio Miranda está localizado em uma região muito importante para o Brasil e para o mundo, uma vez que são muito poucos os pântanos que existem nessa forma. A região do Pantanal merece toda a atenção da preservação, pois além de os rios estarem sendo cada vez mais castigados pela ação humana, acreditamos que, por causa das mudanças climáticas, essa região vai sofrer mais do que a média nacional”, afirma Moss.

A consciência ambiental de Moss só fez aumentar ao longo desses quase vinte anos de expedições em diversos pontos do planeta: “Ganhamos uma percepção do que é a Terra realmente hoje e sentimos essa urgência absoluta de tentar fazer nossa parte. Só do ar você vê a dimensão do estrago feito pelo homem, essa degradação radical e gradual. Olhar estatísticas sobre queimadas e desmatamento é uma coisa, mas ver e vivenciar isso pessoalmente choca a gente. Eu e Margi hoje nos dedicamos totalmente a fazer a diferença. Nós temos a mídia, nós temos instrumentos para mostrar aquilo que vemos do ar. Essa é nossa contribuição, além de financiarmos pesquisas científicas para dar um conteúdo sério ao nosso trabalho”, diz.

“Brasil e Suíça têm papel a cumprir”

Ao mesmo tempo cidadão da Suíça e do Brasil, dois países abençoados pela natureza, Moss acredita que ambos ainda podem ajudar muito no combate ao aquecimento global: “O Brasil precisa se dar conta da importância da riqueza que ele tem nas mãos e dar muito mais prioridade para os recursos naturais que nós temos e que centenas de outros países não têm, como a floresta amazônica, como a cobertura vegetal, como a chuva. São elementos dos quais o brasileiro tem que se dar conta. A grande tarefa hoje é convencer nossos dirigentes que nós temos que investir a curto e médio prazo para preservar aquilo que a gente ainda tem”, diz.

O papel da Suíça, no entendimento de Moss, deve ser outro: “A Suíça hoje em dia é um país muito bem estruturado e organizado, mas talvez nós tenhamos agora que ‘pagar’ um pouco pelo nosso desenvolvimento e ajudar países como o Brasil em termos financeiros e de tecnologia para que nós possamos enfrentar esse futuro imediato sem cometer nesses países os mesmos erros que foram cometidos na Suíça. Hoje, a Suíça já conseguiu recuperar boa parte dos erros que cometeu. Recuperamos os lagos e rios, isso é maravilhoso, mas há 40 anos atrás também tínhamos uma grande quantidade de rios e lagos poluídos. Já fizemos esse percurso, que custou caro, e hoje temos que investir para, de uma maneira mais barata e eficiente, evitar que países como o Brasil cometam os mesmos erros”.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

A primeira viagem de avião que Gérard Moss fez sozinho_ ainda como passageiro, é claro _ aconteceu quando ele tinha apenas quatro anos de idade e se deslocou da casa da mãe, na Suíça, até a casa do pai, na Inglaterra. Desde então, ele não parou mais de viajar. Sua primeira longa viagem como piloto, numa aventura terrestre, aconteceu quando Gérard tinha 13 anos e partiu, acompanhado por quatro amigos, de Lausanne até Paris em uma pequena frota de “mobilletes”.

Gérard Moss já deu duas voltas ao mundo pilotando um avião. Na primeira vez, entre 1989 e 1992, a bordo do monomotor Romeo e acompanhado pela esposa Margi, ele percorreu 120 mil quilômetros e 50 países em quatro continentes e atravessou dois grandes oceanos: o Atlântico Sul e o Pacífico Sul. Na segunda vez, em 2001, Moss realizou o projeto Asas do Vento e, sozinho, deu a primeira volta ao mundo em avião motoplanador, o Ximango. Ele completou a volta ao mundo em 100 dias.

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