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“Um país não tem futuro sozinho”

A Fundação Jean Monnet e o Centro Europeu da Cultura convidaram Barroso à Lausanne. Keystone

Em visita à Lausanne, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, clama a Suíça a encontrar uma solução para a disputa sobre os incentivos fiscais dados pelos cantões a grandes sociedades.

Barros defendeu a adesão da Suíça à União Européia. Na sua opinião, um país que está sozinho no meio da globalização não tem futuro.

“A união dos países europeus está mais adaptada do que nunca para enfrenta os grandes desafios da globalização, seja em questões energéticas, de poluição ou de segurança” declarou José Manuel Barroso durante sua visita à Universidade de Lausanne na quinta-feira (12 de outubro).

Para o presidente da Comissão Européia, um país solitário fica “perdido” no fluxo da economia e sua influência política é reduzida quase à insignificância.

A força da Europa hoje em dia é de ter realizado em cinqüenta anos “o sonho” de uma união forte de 27 membros, que alia solidariedade e “respeito às diferenças”, ressaltou Barroso no seu discurso.

Ele conclamou os presentes a rejeitar “as quimeras populistas” e o “retorno ao populismo”, que voltam a se tornar mais uma vez uma ameaça no continente após as recentes derrotas da construção européia.

Escolha razoável

Frente aos Estados Unidos, à Rússia “mas ostensiva nas suas demonstrações de poder”, à Índia ou à China, os líderes políticos devem ter a coragem de dizer que é necessário “utilizar a dimensão européia”. Se alguns deles não fazem esta escolha com o coração, “todos deveriam fazê-la com a razão”. Caso contrário, “eles terão que se curvar às decisões tomadas pelos outros”, advertiu o presidente da Comissão Européia.

Questionado sobre suas convicções em relação à Suíça, um país que até hoje se recusa a aderir à União Européia, José Manuel Barroso declarou que “ela está muito mais implicada economicamente na UE do que alguns países-membros”. Afinal, “a Suíça é hoje muito mais dependente da Europa do que ela percebe”, observa o português, sem esconder um sorriso irônico.

Povoado de Asterix sem os romanos

“Mas nós não fazemos nenhuma pressão para que a Suíça se torne membro da União Européia. Respeitamos plenamente sua escolha”.

O presidente da Comissão estima mesmo que a presença da Suíça refratária no coração da Europa mostra que a UE não é “um império imperialista”. A Suíça seria um pouco “como um povoado gaulês, mas sem os romanos que desejam conquistá-lo”.

Questionado durante seu discurso sobre a disputa entre a Suíça e a Comissão Européia na questão dos incentivos fiscais oferecido por alguns cantões às grandes multinacionais, José Manuel Barroso conclamou o governo helvético a se esforçar para encontrar uma solução ao problema.

“Dispomos de uma grande abertura de espírito, mas pensamos efetivamente que a questão também pede um esforço mais concentrado por parte das autoridades suíças”.

Encontrar uma solução

“Destaco aqui a excelente relação que temos com os suíços”, declarou Barroso, ao mencionar os plebiscitos populares na Suíça, cujos resultados foram favoráveis à integração européia. “Esperamos poder encontrar uma solução”, disse ao concluir o discurso.

Antes da conferência, José Manuel Barroso visitou brevemente a Fundação Jean Monnet para a Europa, que organizou o evento em parceria com o Centro Europeu de Cultura de Genebra. Ele felicitou as duas instituições pelo seu trabalho em prol da Europa e lembrou “os momentos importantes para sua vida, vividos na Suíça quando era estudante”.

O presidente da Comissão Européia também saudou a memória do professor Henri Rieben, “o mais Europa dos habitantes do cantão de Vaud”, que consagrou sua vida à construção européia e à fundação.

No momento de se instalar no seu novo escritório, pois o prédio “Berlaymont” em Bruxelas estava de reforma, Barroso contou que a biblioteca ainda estava vazia. Como presente, o português recebeu dos organizadores suíços os célebres “Livros vermelhos” editados pelo professor Rieben.

swissinfo com agências

Para a Comissão Européia, os privilégios fiscais oferecidos por certos cantões suíços a empresas estrangeiras fere o Acordo de Livre Comércio firmado entre a Suíça e a UE em 1972.

Os incentivos fiscais beneficiam em grande parte grandes holdings estrangeiras. Apesar delas terem suas sedes em algum país da UE, seus lucros terminam sendo taxados na Suíça.

A UE solicitou a Suíça a abandonar esta prática fiscal e de se adaptar às exigências da união. Ela pede aos países-membros de lhe fornecer um mandato com vistas a negociações com a Suíça, cujo principal objetivo é encontrar uma solução ao impasse.

O artigo 23.iii do Acordo de Livre Comércio estipula que “toda ajuda pública apta a distorcer ou ameaçar de distorcer a concorrência ao favorizar certas empresas ou tipos de produção” é contrário ao acordo.

Os acordos de 1972 abrange exclusivamente o comércio de certos bens (produtos agrícolas e industriais).

A Suíça estima que a taxação de grandes sociedades não está incluída nos acordos.

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