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Colômbia impede entrada de aviões americanos com migrantes deportados e exige tratamento ‘digno’

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A Colômbia anunciou neste domingo (26) que impediu a entrada de aviões militares dos Estados Unidos com migrantes deportados e se juntou aos pedidos do Brasil para que o governo de Donald Trump trate seus cidadãos com “dignidade”. 

O presidente Gustavo Petro também afirmou que mais de 15.000 americanos que vivem sem a documentação exigida na Colômbia “devem” procurar a autoridade migratória para “regularizar sua situação”.

“Um migrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece. Por isso mandei de volta os aviões militares americanos que estavam transportando migrantes colombianos”, escreveu Petro, um forte crítico de Trump, na rede social X.  

O mandatário de esquerda não especificou quantos voos americanos pretendiam aterrissar na Colômbia nem quantas pessoas transportavam. 

Petro acrescentou que só receberá migrantes deportados em voos “civis” e se forem tratados com “respeito”. 

“Em primeiro lugar está a dignidade da Colômbia e da América Latina. Os migrantes são seres humanos e sujeitos de direitos e devem ser tratados como tal”, expressou em uma série de publicações.

Uma fonte da Presidência colombiana afirmou à AFP que os Estados Unidos não realizaram o “devido processo que é seguido nesses casos entre os países”. 

– “O oposto dos nazistas” –

Este é o primeiro confronto de Petro com Trump, que assumiu a presidência em 20 de janeiro com promessas de mão pesada contra a migração irregular.

“Jamais me verão queimando uma bandeira gringa (americana) ou fazendo uma ‘ratzia’ (operação) para devolver os ilegais algemados aos EUA”, afirmou Petro.

“Nós, verdadeiros libertários, jamais agrediremos a liberdade humana. Somos o oposto dos nazistas”, acrescentou.

As autoridades americanas não responderam imediatamente às declarações do presidente colombiano. Mas o responsável pelas fronteiras de Trump, Tom Homan, disse em uma entrevista ao programa “This Week” da ABC, exibido neste domingo, que os migrantes poderiam ser enviados a um país terceiro caso as nações de destino originais se recusem a receber os voos. 

Desde a posse de Trump, os EUA haviam deportado até agora migrantes irregulares para Guatemala e Brasil.

– Brasil denuncia trato “degradante” –

O governo brasileiro afirmou no sábado que pedirá explicações aos EUA pelo “tratamento degradante” de 88 pessoas deportadas que viajaram algemadas na véspera.

Segundo relataram alguns dos migrantes à AFP no Brasil, os deportados viajaram de “pés e mãos” amarrados e passaram várias horas sem ar-condicionado, sem poder beber água nem ir ao banheiro durante o voo. 

Uma fonte do governo brasileiro explicou que a deportação deste fim de semana “não tem relação direta” com a operação iniciada após a posse de Trump, mas sim com um acordo bilateral de 2017 que já resultou em outras expulsões em anos anteriores.

Poucos dias antes da posse de Trump, a Colômbia assinou, junto com Brasil, México e outros países, uma declaração na qual expressavam sua “grave preocupação” pelo anúncio de uma deportação em massa de migrantes, uma medida que consideram incompatível com os direitos humanos. 

Em apenas uma semana no poder, o republicano ordenou várias medidas contra a migração ilegal, entre elas deportações, o envio de milhares de soldados para a fronteira com o México e a prisão de 538 pessoas em situação irregular, segundo a Casa Branca. 

Petro chegou a chamar de “perigosos” os comentários do predidente americano sobre a América Latina. 

Trump se referiu aos migrantes como “selvagens”, “animais” ou “criminosos” durante a campanha presidencial. 

Petro costuma culpar os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, pela migração, alegando que suas políticas extrativistas causaram pobreza nas nações em desenvolvimento. 

Durante seu governo, a importante rota migratória pela selva do Darién, na fronteira com o Panamá, quebrou recordes de registros de pessoas tentando chegar ao norte do continente. 

Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial da Colômbia e suas forças militares têm cooperado há décadas na luta contra as guerrilhas e os cartéis do narcotráfico.  

das/mel/jb/yr/jb

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