Cientista suíço capta elo que faltava das abelhas
Pesquisador nas universidades de Neuchâtel (Suíça) e de Cornell (Estados Unidos), Christophe Praz conseguiu decodificar o elo que faltava para explicar a transição entre marimbondos caçadores e abelhas há mais de 120 milhões de anos.
Na entrevista a seguir, o pesquisador suíço também fala do fenômeno que vem dizimando as colmeias em todo o mundo.
Publicada na revista científica britânica Proceedings of the Royal Society B, essa pesquisa foi dirigida por Christophe Praz, mestre-assistente no laboratório de entomologia evolutiva da Universidade suíça de Neuchâtel.
É o resultado de dois anos de colaboração com uma équite da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, graças a uma bolsa da prestigiosa revista National Geographic.
Mas o sucesso não subiu à cabeça desse jovem pesquisador de 32 anos. Seu maior prazer é partir com seu material para Irã ou o Himalaia, à descoberta de algumas das 20 mil espécies de abelhas conhecidas.
swissinfo.ch: O que tanto facina nas abelhas?
Christophe Praz: Talvez seja devido às dificuldades das colônias de abelhas domésticas das quais se fala muito na mídia atualmente. A abelha a mel é muito importante porque a agricultura de nossos países depende dela.
Mas é verdade que abelha, o único inseto domesticado pelos homens há séculos, é fascinante pelo aspecto social de sua vida. Quando observados uma colmeia, é interessante ver como elas trazem do polem.
swissinfo.ch: E o que o atraiu para as abelhas?
C. P.: Eu sou antes naturalista e escolhi trabalhar com as abelhas solitárias, ou selvagens, que não vivem em colônias ou colmeias. O que me interessa é descobrir essa enorme diversidade de abelhas selvagens na natureza. Eu não conheço as 20 mil espécies conhecidas, mas trabalho no maior gênero que tem mais ou menos duas mil espécies que não estão todas descritas. Só aí já existe uma grande diversidade.
swissinfo.ch: O senhor diz ter descoberto o elo que faltava para explicar a transição entre o marimbondo caçador (carnívoro) e abelhas a polem (vegetarianas). Como o senhor explica essa transição?
C. P.: Devo confessar que há muita especulação porque é difícil voltar ao passado. Mas é o aparecimento das plantas a flores, há aproximadamente 150 milhões de anos – antes só havia coníferas e arbustos que se reproduziam por esporo (assexuadamente) – que deu origem à grande diversificação do número de insetos que começaram a se alimentar de polem.
Imagina-se que um grupo de insetos predadores descobriu a riqueza em proteínas do polem (tem 50%, muito mais do que num bife). Esses caçadores pouco a pouco levaram polem a seus ninhos e não mais presas para alimentar as larvas.
Quando dizemos ter descoberto um elo que faltava, é um elo que já existia do marimbondo à abelha. Mas, estudando a biologia de um grupo de abelhas, conseguimos situar sua idade muito antiga: mais de 100 milhões de anos, provavelmente o grupo mais primitivo e isso nos ajuda a compreender um pouco melhor como as abelhas apareceram na época dos dinossauros.
swissinfo.ch: Se adaptando constantemente, a abelha mostrou que é capaz de aprender e de improvisar. Por que agora ela enfrenta graves dificuldades com colmeias que desaparecem?
C. P.: De fato, a abelha é muito observadora, especialmente para selecionar novas flores. Atualmente, a abelha doméstica enfrenta problemas novos, vírus, doenças, patologias.
Aí não devemos ser inocentes : ela não vai aprender a se livrar delas. Durante centenas de anos, nós as selecionamos em função da docilidade, não em função de doenças. Então vai ser preciso deixar a natureza trabalhar ou mudar os critérios de seleção para obter uma espécie mais resistente às novas doenças.
Existem abelhas muito próximas da abelha doméstica vivendo em estado selvagem em certos países da Ásia, que são muito agressivas e fazem grandes colmeias impossíveis de se aproximar. Essas abelhas encontrar uma maneira de se livrar do varroa, esse famoso ácaro que dizima os enxames.
Certamente que, em algum lugar, um grupo de abelhas domésticas vai descobrir esta técnica dentro da espécie para selecionar as mais resistentes. De fato, a abelha é muito observadora, especialmente para selecionar novas flores. Atualmente, a abelha doméstica enfrenta problemas novos, vírus, doenças, patologias.
Aí não devemos ser inocentes : ela não vai aprender a se livrar delas. Durante centenas de anos, nós as selecionamos em função da docilidade, não em função de doenças. Então vai ser preciso deixar a natureza trabalhar ou mudar os critérios de seleção para obter uma espécie mais resistente às novas doenças.
Existem abelhas muito próximas da abelha doméstica vivendo em estado selvagem em certos países da Ásia, que são muito agressivas e fazem grandes colmeias impossíveis de se aproximar. Essas abelhas encontraram uma maneira de se livrar do varroa, esse famoso ácaro que dizima os enxames.
Certamente que, em algum lugar, um grupo de abelhas domésticas vai descobrir esta técnica dentro da espécie para selecionar as mais resistentes
Nascido em 1979 no Valais (sudoeste), Christophe Praz estudou biologia na Universidade de Berna fez doutorado em entomologia na Escola Politécnica de Zurique (EPFZ).
2008-2010: dois anos de pós-doutorado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, com uma bolsa da revista National Geographic para as pesquisas práticas.
Agosto de 2010: mestre-assistente no Laboratório de Entomologia Evolutiva da Universidade suíça de Neuchâtel.
As abelhas saíram de um grupo de vespas esfecídeas ou vespas cavadoras, com aproximadamente nove mil espécies. Essas vespas paralisam as presas, geralmente outros insetos e as levam para o ninho para alimentar as larvas.
A maioria das abelhas não produz mel. Fruto de uma seleção secular, a abelha doméstica é apenas uma das 20 mil espécies conhecidas no mundo, aproximadamente 2500 na Europa.
Se algumas centenas de espécies são sociais, a maioria leva uma vida solitária. Cada fêmea constrói seu ninho e cuida exclusivamente de suas larvas.
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