Combustível solar quer seduzir carros e aviões
A descoberta na Suíça de um combustível para carros e aviões feito com energia solar enfrenta agora seu principal desafio: conseguir um lugar ao sol no mercado.
Cientistas de duas universidades da Suíça desenvolveram uma nova maneira de fazer um combustível neutro em carbono. Eles esperam que ela possa se tornar comercialmente viável até o fim da década.
A técnica envolve a separação de água e dióxido de carbono dentro de um reator, concentrando a energia solar no ciclo termoquímico.
Os raios solares são concentrados até uma força de 1.500 sóis e direcionados em um reator contendo um óxido de metal chamado cerium. Água ou CO2 são inseridos e despojados de seu oxigênio pelo cerium criando hidrogênio e monóxido de carbono – conhecido como syngas ou gás sintético.
Esse gás pode ser facilmente transformado em combustível líquido para carros convencionais e aviões de linha. O processo inteiro só usa energia do sol e os veículos emitem apenas o carbono originalmente extraído da água ou do CO2 na criação do combustível.
Melhorar a eficiência
As primeiras experiências bem sucedidas – realizadas por equipes da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH Zürich), do Instituto Paul Scherrer, no cantão de Aargau, e do California Institute of Technology – aproveitaram cerca de 0,8% da energia solar utilizada na reação.
A próxima meta é aumentar a eficiência para níveis acima de 15%, de acordo com Aldo Steinfeld, professor de mecânica e engenharia de processos na ETH.
“No atual baixo nível de eficiência, o combustível produzido seria muito mais caro que os combustíveis convencionais”, disse à swissinfo.ch. “Quem vai pagar duas ou três vezes mais para reabastecer seu carro com gasolina solar ao invés da tradicional?”
“Mas, assim que alcançármos o alto nível esperado, estaremos prontos para o caminho da comercialização”, acrescentou.
A produção comercial do combustível solar deve ser possível até 2020, de acordo com a equipe. Para isso seria necessário construir instalações com torres solares para gerar os megawatts de energia solar equivalentes aos 2.000 watts usados nos testes de laboratório.
Barreiras comerciais
Tal projeto solicitaria, inevitavelmente, a participação da indústria e do capital de risco. Mas o setor de tecnologia limpa está cheio de boas idéias que não conseguiram vingar no mundo comercial, de acordo com Rolf Hartl, da “Swiss Oil Association”.
“O problema é que o resultado pode ser bem diferente no laboratório em comparação com a produção em escala industrial”, disse à swissinfo.ch. “É crucial implantar tais projetos no caminho certo”.
Rolf Hartl lembra da excitação inicial que houve com o projeto de substituir combustíveis fósseis por hidrogênio, há 20 anos atrás, e que hoje tem sido posto meio de lado por causa dos obstáculos do mundo industrial. “Mas eu não gostaria de ser muito negativo porque a energia solar é gratuita e abundante, o que torna este projeto muito interessante”, disse.
A decisão da ETH em não patentear a descoberta causou um certo espanto, já que a instituição estuda uma forma de comercializar a idéia. A ETH optou contra a proteção de patentes “para permitir mais pesquisas” durante os dez anos necessários para obter o sucesso esperado pelo setor industrial.
Mas Steinfeld está convencido de que combustíveis limpos produzidos com energia solar vão render bastante em um futuro bem próximo.
Uma das razões principais é que a abundância de energia solar gratuita tornaria o preço desse combustível menos volátil que a situação atual do petróleo e do gás. Além disso, a oferta ilimitada da energia do sol também ajuda a manter a estabilidade dos preços.
Steinfeld está convencido de que os argumentos ambientais terão a palavra final sobre o futuro do abastecimento mundial de energia.
“Em algum momento o preço dos combustíveis fósseis vai refletir a poluição que causam ao meio ambiente. Nós acreditamos que quando esses custos externos forem levados em conta, o preço da gasolina solar será o mesmo da gasolina convencional ou até mesmo mais barato do que ela”, declarou Steinfeld.
“Ainda levará alguns anos, mas tenho certeza que isso vai acontecer no futuro”.
Em 2010, a safra de spin-off (empresa que nasce a partir de um grupo de pesquisa) da Escola Politécnica Federal de Zurique resultou em 20 projetos de pesquisa comercializados no ano.
216 novas empresas foram criadas por pesquisadores e funcionários desde o início da estratégia de spin-off em 1996 – 104 só nos últimos cinco anos.
Apesar de 2010 ter ficado abaixo do número recorde de novas empresas registradas em 2009 (24), a tendência continua, apesar das difíceis condições econômicas.
As spin-offs receberam 784.000 dólares em prêmios em dinheiro no ano passado ganhando troféus como o Prêmio Inovação da Suíça.
A ETH Zürich afirma que suas empresas spin-off têm desfrutado de uma taxa de sobrevivência de 90% até agora.
O instituto vai sediar esse ano, pela primeira vez, um prêmio pan europeu criado para empresas spin-off acadêmicas. O “Academic Enterprise Awards” será realizado dia 3 de fevereiro.
Adaptação: Fernando Hirschy
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