COP29: Suíça e o mundo sob pressão para realizar cortes de carbono
Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), que acontece na próxima semana no Azerbaijão, o mundo se pergunta quais avanços foram alcançados nas metas globais para o clima.
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“Brincando com o fogo”, “correndo contra o tempo”, “balançando na corda bamba planetária”: pesquisadores e autoridades que acompanham os esforços para manter o aquecimento global abaixo da meta crítica de 1,5°C têm transmitido mensagens contundentes no momento que precede a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Baku, no Azerbaijão, entre 11 e 22 de novembro.
“Chega de conversa fiada, por favor”, disse Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), no lançamento recente do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024Link externo, publicado pelo órgão.
Os autores do Pnuma alertam para uma “disparidade enorme entre a retórica e a realidade”. As emissões não estão diminuindo com rapidez suficiente e as nações – especialmente os países do G20, responsáveis por quase 80% das emissões globais – precisam ser muito mais ambiciosas e estabelecer novos compromissos “dramaticamente mais severos”, a fim de fechar a enorme lacuna de emissões.
Os países participantes vão discutir as metas de emissões em Baku e apresentar compromissos atualizados até fevereiro de 2025, antes das próximas negociações climáticas da ONU no Brasil.
Os pesquisadores do Pnuma afirmam que o “salto quântico” na ambição deve incluir uma mobilização global sem precedentes em prol de energias renováveis, proteção florestal e medidas de eficiência energética, entre outros. O objetivo é tirar o mundo do caminho atual, que leva a um aumento “catastrófico” de temperaturas de 2,6°C a 3,1°C acima dos níveis pré-industriais no decorrer deste século.
Mais de 40% das principais empresas, cidades e regiões do mundo ainda não estabeleceram metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com o grupo de pesquisa Net Zero Tracker. Na Suíça, a situação parece melhor. Mais de dois terços das 30 maiores empresas da bolsa de valores suíça têm metas de redução de CO2 para diminuir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa a zero até 2050. Alguns dos 26 cantões da Suíça também fizeram progressos em suas políticas climáticas e energéticas, especialmente no setor da construção civil, declarouLink externo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em agosto. Entretanto, há diferenças importantes entre as regiões do país e nenhum cantão está no caminho para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Feixes de esperança na energia solar e na energia limpa
Em meio às notícias sombrias sobre a lacuna de emissões, o crescimento estrondoso da energia limpa, em especial da energia solar, traz, por outro lado, um pouco de esperança. Na Conferência do Clima (COP28) em Dubai, em dezembro de 2023, muitos governos concordaram em triplicar a capacidade de geração de energia renovável até 2030, abandonando, para isso, os combustíveis fósseis.
O Pnuma estima que acelerar a implantação das energias solar e eólica significaria atingir 27% da redução total de emissões necessárias até 2030, e 38% até 2025. A interrupção do desmatamento poderia contribuir com uma redução adicional de 20%. As reduções restantes poderiam ser obtidas por meio do aprimoramento da eficiência energética, da eletrificação de edifícios, do transporte e da indústria, bem como da redução das emissões de metano das instalações de combustíveis fósseis.
Em seu relatório global energético anual, a Agência Internacional de Energia (AIE) mostraLink externo a energia solar ultrapassando a nuclear, a eólica, a hidrelétrica, o gás e, finalmente, o carvão, para se tornar a maior fonte de eletricidade do mundo até 2033.
A energia limpa está crescendo em um ritmo “sem precedentes”, segundo a AIE. Essa expansão, contudo, está ocorrendo paralelamente a um aumento na demanda por energia, incluindo a energia produzida pela queima de carvão. A AIE estima que a demanda por petróleo e gás deve atingir o ápice no final desta década, levando o mundo a um aquecimento de 2,4°C.
Ainda há um caminho “cada vez mais estreito, mas ainda viável” para se manter abaixo de 1,5°C, diz o relatório da AIE. Isso exigiria mais eletricidade limpa, eletrificação mais rápida e um corte de 33% nas emissões até 2030.
Suíça fez progressos nas metas de emissões?
A Suíça, por sua vez, se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 50% até 2030 – considerando valores comparados com os níveis de 1990; e em uma média de 35%, considerado o período de 2021 a 2030. Berna também prometeu emissões líquidas zero de CO2 até 2050.
Em 2022, a Suíça emitiu 41,6 milhões de toneladas de equivalentes de CO2 dentro do próprio país. Esse valor é comparável a países como a Noruega ou Portugal. No geral, as emissões ficaram 24% abaixo do nível de 1990.
O ministério suíço do Meio Ambiente permanece confiante de que a Suíça está no caminho certo para atingir seus objetivos. “Além das medidas tomadas internamente, as medidas no exterior também devem contribuir para atingir as metas”, declarou o porta-voz Robin Poëll à SWI swissinfo.ch.
Nos últimos anos, a Suíça tem investido em projetos climáticos no exterior, com o intuito de compensar parte de suas emissões – configurando-se assim como um dos países mais ativos na busca de acordos bilaterais permitidos pelo Acordo de Paris. Berna selou acordos climáticos com mais de uma dezena de países, incluindo Tailândia, Peru e Senegal. As opiniões dos países estão divididas no que diz respeito a reduções reais e genuínas de CO2 resultantes dos esquemas de compensação de carbono. Alguns grupos, como o WWF e o Climate Change Performance Index, têm criticado a opção da Suíça de fazer altos investimentos em compensações no exterior – que são mais baratas – em vez de fazer cortes importantes em casa.
A Suíça está progredindo, insiste Poëll: “As emissões nacionais caíram consideravelmente nos últimos anos. As evoluções em edifícios e na indústria são dignas de nota. Até 2030, as medidas contidas na Lei de CO2, que foi revisada, devem possibilitar a redução das emissões nacionais em cerca de 37% em comparação com os níveis de 1990”.
As reduções restantes de CO2 devem ser obtidas por meio de projetos de proteção climática no exterior, financiados pelo governo e por empresas como as importadoras de combustível, aponta o Departamento Federal do Meio Ambiente.
Esforços climáticos da Suíça são “insuficientes”
No entanto, o Climate Action TrackerLink externo (CAT), um grupo independente com sede em Berlim, que monitora a política climática em todo o mundo, questiona se a Suíça está realmente no caminho certo. Em sua última atualização, o CAT classifica a ação climática e o progresso da Suíça como “insuficientes”.
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A realidade da mudança climática na Suíça
O grupo afirma que as políticas e a legislação climáticas suíças estão melhorando, embora as metas sejam inadequadas, sobretudo quando se trata de cobrir as emissões domésticas de CO2. Para o objetivo de 2030, os parlamentares suíços decidiram não incluir na lei metas rígidas de redução de CO2 (ou seja, 75% de redução a ser realizada na Suíça e um máximo de 25% no exterior). O governo federal continua livre para tomar uma decisão nesse sentido.
“A Suíça está fazendo progressos significativos com suas políticas, aproximando-se do caminho certo para cumprir suas metas climáticas e compromissos internacionais”, afirma Judit Hecke, analista da CAT. “O verdadeiro desafio vem pela frente na fase de implementação”, completa.
O WWF e o Greenpeace Suíça são mais críticos. Eles têm sérias dúvidas sobre o impacto das leis recentemente promulgadas e o compromisso do governo suíço com a redução das emissões de gases de efeito estufa.
O Greenpeace ressalta que as metas e políticas suíças estão muito aquém daquelas de países europeus comparáveis: a UE tem uma meta de 55% para 2030; a Dinamarca de 70%; a Finlândia de 60%, com neutralidade de carbono até 2035; e a Alemanha de 65%. Além disso, a política suíça sofre com lacunas regulatórias significativas, como a falta de metas para o setor financeiro.
“A contribuição suíça para o financiamento da proteção climática deve ser dobrada para pelo menos 1 bilhão de dólares por ano devido à força econômica da Suíça e às emissões de gases de efeito estufa no exterior causadas pelo alto consumo da Suíça”, disse Georg Klingler, especialista em clima do Greenpeace Suíça.
“A política climática suíça para o período até 2030 vem sendo inadequada há anos e não está sendo aprimorada”, resume Klingler.
Edição: Veronica De Vore
Adaptação: Soraia Vilela
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