O desafio ecológico do petróleo na Guiné-Bissau
Na África, o problema da gestão equitativa e sustentenda do ouro negro está entre as várias preocupações da organização humanitária suíça Swissaid.
Ela é especialmente ativa na Guiné-Bissau, onde o arquipélago dos Bijagos está ameaçado.
É uma verdadeira corrida contra o relógio para salvar os Bijagos. Situada no Golfo da Guiné, importante zona de extração de petróleo na África, o arquipélago tem cerca de 80 ilhas e pertence à Guiné-Bissau.
O país, como tantos outros, aspira entrar no clube dos produtores africanos de petróleo, responsáveis por aproximadamente 12% da produção mundial. Com uma população entre as mais pobres do mundo, esse sonho é legítimo, afirma Samba Seck.
O guineense de 45 anos trabalha faz quase 15 para a Swissaid. Formado na França em gestão e sociologia, ele esteve em Berna, capital suíça, em meados de outubro. A Ong suíça, que comemora 60 anos de existência, acolheu os coordenadores dos nove países onde mantém programas de ajuda ao desenvolvimento.
Consciente das expectativas econômicas que suscitam os projetos petrolíferos no arquipélago dos Bigajos, Samba Seck luta para que a futura exploração seja conforme aos objetivos da Swissaid, ou seja, uma boa gestão dos negócios públicos e a instauração de uma economia sustentável.
“As empresas internacionais que exploram petróleo geralmente não são sensíveis aos problemas ambientais e sociais”, denuncia o guineense. Em países como a Guiné-Bissau , elas aproveitam até da instabilidade política e utilizam tecnologias caras.”
Patrimônio cultural
Essa prática poderá provocar uma catástrofe no arquipélago. Segundo espaço mais importante da África do Oeste para a migração de pássaros, os Bijagos também são muito ricos em fauna. Das sete espécies de tartarugas marinhas no mundo, cinco se reproduzem nas praias do arquipélago.
O ecossistema de mangues também tem um papel muito importante na reprodução. A fauna marinha tem 155 espécies de peixes e os pescadores da União Européia pagam para pescar na região.
Em 1996, a Unesco reconheceu o arquipélago como Reserva de Biosfera e o WWF – Fundo Mundial pela Natureza – o inscreveu na lista de suas 200 regiões ecológicas. Isso permitiu criar dois parques nacionais marinhos e uma área marinha protegida, o que não é suficiente na opinião da Swissaid e de Samba Seck.
Há cinco anos, portanto, ele trabalha para que o arquipélago seja declarado pela Unesco como patrimônio natural e cultural universal. Ele insiste sobre a importância cultural para a vida nas ilhas pois 24 delas são habitadas. Os “Bijogos”, divididos em etnias de origens diferentes, são animistas e conservam um modo de vida próximo da natureza.
“No arquipélago, todas as facetas da cultura bijagos são preservados. Trata-se de um patrimônio não apenas para a Guiné-Bissau, mas também para toda a África e para o mundo inteiro. Por isso essa declaração universal é necessária”, explica Samba Seck.
Concretamente, é preciso ir mais rápido do que as três empresas – uma brasileira, uma holandesa e uma africano-européia – interessadas em explorar petróleo nos Bijagos.
Situadas em águas poucas profundas na zona marítima fronteiriça do Senegal, as ilhas têm potencial para 2.400 barris por dia. É mais do que na Nigéria (2.200/dia), Angola (1.700) e Argélia (1.300/dia).
Repartir os lucros
“Na África em geral, nossos governos não são muito sensíveis aos problemas ecológicos e às tecnologias limpas. Eles estão mais preocupados com os lucros do petróleo como na Nigéria e no Chade. Nos opomos a essa visão exclusivamente econômica. A exploração do petróleo tem de ser pensada em função do meio ambiente e das populações que vivem nessas regiões”, sublinha Samba Seck.
Ele denuncia a má distribuição da renda do petróleo, tão problemática nos países africanos. Engajada no Chade por uma repartição equitativa desse dinheiro, Swissaid trabalha com ongs locais envolvendo o governo, a sociedade civil e as empresas.
O mesmo ocorre na Guiné-Bissau. No final de 2006, Samba Seck participou de um primeiro encontro nacional de reflexão acerca da exploração sustentável do petróleo e a boa governança dos lucros, onde as discussões foram muito difíceis.
“O governo apresentou o petróleo como uma matéria em que tinha direitos, nós pensamos que é patrimônio do povo guineense, explica. Talvez consigamos chegar ao um acordo para dizer que o petróleo é um recurso de contribuição ao desenvolvimento.”
swissinfo, Carole Wälti
Swissaid foi fundada em 1° de julho de 1948
A organização se chamava então Ajuda suíça à Europa. O objetivo era ajudar os habitantes dos países devastados pela guerra e refugiados na Suíça.
Em 1956, a Ajuda suíça à Europa decide agir também fora do Velho Continente. Em 1968, adotou o nome Swissaid.
Na área de cooperação ao desenvolvimento, Swissaid se distingue pela maneira de trabalhar.
Ela não envia delegados aos países do Sul, mas privilegia as forças de trabalho locais disponíveis.
Ela concentra sua ação num número limitado de países, atualmente nove (Índia, Birmânia, Tanzânia, Níger, Chade, Guiné-Bissau, Nicarágua, Equador e Colômbia).
Em 2007, Swissaid investiu 11,6 milhões de francos nos programas para um total de despesas de 18,3 milhões.
Ex-colônia portuguesa, a Guiné-Bissau é independente desde 1974.
Depois da independência, o país viveu múltiplos confrontos políticos.
Tendo chegado ao poder através de um golpe militar em 1980, eleito presidente em 1994 e depois deposto por uma rebelião militar em 1999, João Bernardo Vieira, 69 anos, foi reeleito presidente em 2005.
Um dos países mais pobres do mundo, a Guiné-Bissau é considerada um narco-estado, por onde transita parte da cocaína sul-americana.
Terceiro produtor africano de castanha de caju, o país tem outros recursos naturais (bauxita, madeira, petróleo, fosfatos).
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