Pescaria sobre a neve
O termômetro marca trinta graus negativos quando Markus Schober joga a isca no lago Oeschinensee através de um buraco feito no gelo.
A pesca nessas condições especiais é um grande prazer para o pescador suíço, especialmente no período mais duro do inverno.
O gelo foi quebrado, ou melhor dizendo, perfurado. Em pouco menos de dez segundo Markus Schober, cuja barba já está repleta de pequenos cristais brancos, puxa o perfurador de bordas afiadas.
O suíço limpa, então, as partículas de gelo acumuladas na superfície no buraco de aproximadamente vinte centímetros de diâmetro com uma espécie de coador. A ação precisa ser repetida diversas vezes nesse dia, o mais frio do inverno de 2012.
O lago localizado acima do vilarejo de Kandersteg, nos Alpes bernenses, está a 1600 metros de altura do nível do mar. Devido às altas montanhas que o circundam, o espaço acaba tendo temperaturas muito abaixo da média geral.
Trabalho dificultado
Preparar os anzóis é um desafio para Markus. Ele precisa retirar suas grossas luvas e fazer esse trabalho com as mãos nuas. Ao lado, uma pequena caixa contém as iscas feitas à base de peixe. Com o trabalho feito, o suíço esquenta as mãos em um saco com água quente. Ele começou a pescar aos doze anos de idade.
A vara já está pronta. Markus deixa as iscas nos anzóis passarem o buraco no gelo até que elas alcancem o fundo do lago, a uma profundidade entre dez e doze metros. Então começa a “bater” na linha: a linha é puxada com movimentos lentos e depois se deixa o peso afundar até encostar de novo nas pedras do fundo. “Isso provoca vibrações na água que terminam por atrair os peixes”, esclarece o suíço de 50 anos, que a cada inverno costuma pescar pelo menos dez vezes no lago Oeschinensee.
“Ele está chamando”, diz Markus repentinamente. Através das suas luvas ele sente que algum peixe começa a beliscar a isca. Então puxa rapidamente a linha, mas sente ao mesmo tempo em que o anzol não foi mordido. Então com uma calma estoica, continua a fazer movimentos lentos na linha.
Momento de alegria
Com a “chamada” seguinte, chega o momento de glória: finalmente um peixe mordeu a isca! Porém os punhos experientes de muitos anos percebem logo que o animal capturado tem dimensões muito reduzidas. De fato, o pequeno Salvelinus tirado do buraco no gelo não tem mais do que vinte centímetros de comprimento. “Fora do padrão!”, explica. Isso significa que o peixe está abaixo do tamanho mínimo permitido, que é de vinte e dois centímetros.
Markus tira as luvas, coloca suas mãos diretamente na água gélida, libera o peixe do anzol e este escapa rapidamente em direção ao fundo. Imediatamente ele seca as suas mãos com uma pequena toalha.
Peixes podem se queimar
“Se eu pego no peixe com as mãos secas, posso ferir o seu muco protetor e assim ele pode ter inflamações”, explica Schober. Além disso, não se deve colocar os peixes que o pescador quer libertar em cima da neve. “Se a temperatura de água está a trinta graus negativos como hoje, o peixe iria se queimar e morreria em poucas horas ou dias”.
A facilidade com que o pescador perfura o gelo com apenas alguns poucos movimentos, mas fortes, não se deve apenas ao gume afiado da lâmina. Apesar das temperaturas siberianas, a camada de gelo tem apenas de dez a quinze centímetros de espessura. Em cima dela encontra-se ainda vinte a trinta centímetros de neve compactada e mais vinte de neve solta.
“O gelo ficou tão espesso, pois somente há poucos dias é que a temperatura baixou bastante. Além disso, a neve solta funciona como um isolante térmico”, esclarece Markus, também colecionador de peças históricas para a pesca.
Gelo engana
Como pescador no gelo, ele não precisa apenas saber como capturar peixes, mas também como reconhecer o estado do gelo. Isso é fundamental para a sua sobrevivência, como mostrou o exemplo de outro companheiro de hobby no início do ano: as temperaturas estavam muito acima dos costumeiros vinte a vinte e cinco graus negativos e ele acabou quebrando o gelo e caindo no lago Oeschinensee.
“Ele caiu de cabeça. Mas graças a um amigo que estava com uma corda, foi possível salvá-lo”, conta o suíço. Frente ao incidente e também ao grande perigo de avalanches, as autoridades locais decidiram no momento fechar o acesso ao lago por dez dias.
Em sua carreira de pescador no gelo, ele já molhou os pés várias vezes. Mas para não arriscar queimaduras nos pés, sempre decidiu interromper a pescaria.
Nesse meio tempo, Markus instalou em um segundo buraco no gelo uma espécie de “dispositivo para peixes suicidas”, uma varinha de pesca presa na neve. A chance de capturar um peixe sem dar as tradicionais batidas na linha ou que ele morda repentinamente a isca é mínima. “Porém já aconteceu de um peixe se prender no anzol”, conta.
Temperatura relativa
Depois de pescar o segundo peixe “miúdo”, a ponta da vara de carbono curva-se de supetão. De fato: esse exemplar tirado por ele através do buraco no gelo já tem dimensões bem mais simpáticas para o suíço.
Ele mata o peixe dando-lhe um golpe na cabeça com o coador de ferro. Então, faz um corte com uma faca nas brânquias do animal. “Através da separação do coração e das brânquias, além do sangramento do peixe, ele pode ser considerado morto pelas regras da proteção dos animais”, explica Markus.
As presas são registradas então para a estatística, que deve ser entregue no final da temporada às autoridades cantonais. Se houver um controle e o pescador tiver na bolsa mais peixes do que o registrado, ele precisa pagar uma multa elevada. O juiz determina segundo os seus critérios a penalidade contra as leis de proteção aos animais, mas ela pode chegar até a mil francos, segundo a renda do infrator.
Os resultados de Markus não são considerados dos melhores: ele pegou somente um peixe de tamanho médio e três pequenos. Porém um pescador está preso ao seu destino: uns dias de sorte e outros de azar.
Pelo menos o suíço aproveitou o espetáculo da natureza que, no local, atrás das montanhas alpinas, faz o termômetro despencar até à marca de vinte graus negativos. Agora chega o momento de aproveitar o segundo prazer do dia: descer com rapidez a montanha em cima de um trenó até as salas aconchegantes do restaurante “Ermitage”.
A pesca no lago Oeschinensee, tanto no verão como no inverno, é um importante fator econômico no turismo da região de Kandersteg.
A temporada de pesca do gelo começa em 1° de janeiro, quando até 150 pescadores encontram-se sobre o lago. Alguns deles vêm da Alemanha ou até da Rússia.
A legislação helvética obriga que cada pescador tenha uma licença. A pesca também está limitada no lago: seis peixes por dia e por pescador.
Os peixes do Oeschinensee são colocados no lago por funcionários do próprio cantão, para que sejam pescados depois.
Dentre as espécies: trutas, perca fluviatilis e o salvelino.
É um dos métodos de pesca mais simples, empregando basicamente um ou vários anzóis na extremidade de uma linha de pesca.
A linha pode ser segura diretamente na mão do pescador, ou pode estar presa a uma cana-de-pesca, com ou sem molinete.
Geralmente os anzóis são iscados, quer com isca natural (pedaços de peixe, camarão ou lula, ou minhocas), quer com iscas artificiais, de plástico ou metal, com a forma duma das presas das espécies de peixe que se pretendem capturar.
A pesca à linha é realizada, tanto como uma atividade recreativa ou desportiva, quer comercialmente ou como forma de subsistência e pode ser realizada com ou sem embarcação.
A pesca de margem, no mar ou em lagos, é uma das formas mais populares de pesca recreativa. (Texto: Wikipédia em português)
Adaptação: Alexander Thoele
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