PlanetSolar preparado para entrar em águas piratas
Após uma breve escala em Mumbai, o barco suíço PlanetSolar passa agora pela costa do Paquistão em sua volta ao mundo solar de 50 mil quilômetros.
Fundador do projeto e membro da tripulação, Raphael Domjan conta à swissinfo.ch o incrível acolho que o barco solar vem recebendo e os enormes desafios pela frente, enquanto se preparam para cruzar a zona infestada de piratas do Mar da Arábia.
O MS TÛRANOR PlanetSolar, de 17,3 milhões de dólares, que navega sob pavilhão suíço, é o maior navio solar do mundo voltado à sensibilização para as energias renováveis.
Cinco membros da tripulação estão a bordo do enorme catamarã movido a energia solar, sob o comando do capitão francês Erwan Le Rouzic.
swissinfo.ch: Seu barco recentemente escapou de tempestade ao largo da costa indiana. Como tem lidado com o mar agitado?
Raphaël Domjan: Até agora o barco nunca precisou buscar refúgio em um porto para se proteger das tempestades. Sempre que havia ventos muito fortes estávamos no meio do oceano.
Na Austrália, havia ventos de 50 nós (cerca de 100 quilômetros por hora), com ondas de sete a oito metros de altura. No meio dessa situação é difícil saber o que o barco pode aguentar.
Mas ao completar dois terços da viagem, o barco provou ser muito sólido e seguro. A única coisa quebrada foi uma pilha de louças.
No caso de ventos fortes, a principal ameaça seria que o barco fosse impulsionado em direção ao litoral. Com as baterias vazias e nenhum motor isso seria perigoso. Temos que manter o olho aberto no tempo para navegar com a energia que temos disponível. Eu ajudo o capitão com as observações da Météo France, que tem sede em Toulouse e nos ajuda a identificar correntes e as melhores rotas.
swissinfo.ch: Como vocês são recebidos em cada escala?
RD: Em cada lugar que o PlanetSolar para faz a primeira página dos jornais locais. Nós sempre fomos muito bem acolhidos, exceto, talvez, em Cingapura.
Em todos os lugares que paramos as pessoas tinham ouvido falar de nós. No Oceano Pacífico, e, em particular nas ilhas Galápagos, tivemos algumas experiências fantásticas. No meio do Pacífico, alguns pescadores nos pararam porque tinham visto uma reportagem sobre o PlanetSolar em um canal de televisão do Equador.
Isto também se deve ao design futurista do barco, que tem 35 metros de comprimento, 26 metros de largura e três andares de altura. Não é um navio de carga ou um navio de cruzeiro, mas é três vezes maior que o barco da América Cup.
swissinfo.ch: E como o Alinghi, vocês navegam sob pavilhão suíço.
RD: O barco foi registrado em Basileia, como todos os navios de carga e iates oceânicos. A tripulação hasteia a bandeira suíça sempre que chegamos ao porto e que há gente para descobrir o que pode ser feito com a tecnologia solar. Explicamos que já navegamos 45 mil quilômetros – a circunferência do globo – de Mônaco, de onde zarpamos, usando só a energia do sol e nenhuma gota de combustível. Esta energia solar também alimenta tudo a bordo, as luzes e os equipamentos de cozinha, por exemplo.
swissinfo.ch: Vocês percorreram um longo caminho, mas ainda há perigos à frente, principalmente os piratas que atacam no Golfo de Aden.
RD: A partir de Mumbai, estaremos cruzando o Mar Arábico e o PlanetSolar é esperado na Cúpula Mundial de Energia do Futuro 2012 em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, em meados de janeiro. Nós, então, atravessaremos o Golfo de Aden, muito perigoso. Não podemos atravessá-lo sem um sistema de segurança que estamos desenvolvendo agora. Existem várias estratégias possíveis para impedir ataques de piratas.
Navegaremos pela costa, passando por Aden e Djibuti até o Mar Vermelho e o Canal de Suez. Nesse ponto, estaremos praticamente em casa. De lá, iremos para Mônaco, onde está prevista a chegada na primavera de 2012.
swissinfo.ch: Atualmente existem dois projetos de volta ao mundo solar: Solar Impulse – o avião solar do aventureiro suíço Bertrand Piccard – e o barco de vocês. Como é possível que uma pequena nação alpina realize dois projetos de tal tamanho?
RD: Na verdade, a Suíça é pioneira na energia solar. A primeira corrida de barcos solares foi realizada no lago de Neuchâtel, em 1960. O primeiro rali de carros solares – o Tour de Sol – aconteceu em 1985, entre Romanshorn (leste)e Genebra (oeste).
O país sempre foi um excelente polo de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia solar, como por exemplo, a célula Grätzel, inventada por Michael Grätzel, da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).
O que é mais incrível, é que os dois projetos nasceram a apenas 60 km de distância – um em Lausanne e outro em Neuchâtel. Isso não é nada perto do tamanho do nosso planeta. A Suíça deve se orgulhar disso.
A Suíça tem uma imagem que precisa ser defendida no exterior que é diferente da neutralidade e dos bancos. É importante mostrar que a Suíça também está envolvida em desafios tecnológicos e que temos uma responsabilidade global para proteger nosso planeta e o futuro de nossos filhos, dando um sentido positivo e otimista para a palavra progresso.
Fibra de carbono. O barco avança movido por duas hélices gêmeas em fibra de carbono com quase dois metros de diâmetro, ou seja, duas vezes maior do que nos barcos convencionais de mesmo tamanho. A propulsão é melhor.
Precisão. ”Como as hélices de carbono são reguláveis e que a força de propulsão também pode ser regulada com exatidão, é possível renunciar à instalação de pontas do leme tradicionais”, explica o site Internet techno-science.net
Potência. Os quatro motores elétricos, dois por casco, têm uma potência máxima de 120 kW e uma eficiência energética de 90%.
A noite? O principal desafio colocado pela navegação solar é compensar as horas noturnas. As novas tecnologias permitem armazenar essa energia, graças a baterias especiais.
Fonte: PlanetSolar
Adaptação: Fernando Hirschy
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