Última Ceia virtual tem iluminação suíça

A Última Ceia, pintada por Leonardo da Vinci, ganhou uma versão digital de altíssima definição. Um set fotográfico foi montado diante do mural desenhado na parede da igreja Santa Maria delle Grazie, em Milão.
A tecnologia suíça marcou presença no projeto através de uma das etapas mais difíceis: a iluminação usada nas sessões fotograficas.
Andaimes no alto e computadores embaixo ocuparam o salão aonde está a obra-prima. “O nosso principal desafio era o de não danificar a pintura, muito sensível aos raios ultravioletas e a temperatura do flash. Para obter as imagens tínhamos que iluminar o mural no momento da fotografia, pois a luz ao qual ele esta exposto era insuficiente para dar a qualidade necessária ao trabalho”, diz Mauro Gavinelli a swissinfo, diretor da HAL 9000, empresa italiana responsável pelo projeto.
Precisão, velocidade e alta tecnologia
O mural é normalmente iluminado indiretamente por dois holofotes laterais. A luz é projetada para o alto e o seu reflexo cai como um véu sobre a cena na qual Cristo faz o anúncio da traição. Para realizar as 1677 fotografias necessárias para a composição digital da Última Ceia os técnicos utilizaram um flash Elinchrom, da Elinca, empresa suíça.
O equipamento helvético de última geração, preso a um braço mecânico alemão adaptado especialmente para o trabalho, disparava a luz cada vez que a câmera japonesa, último modelo, abria e fechava o obturador. O sistema de iluminação, em sincronia com a máquina fotográfica de alta sensibilidade e de baixa emissão sonora, garantiram a idoneidade da operação e do mural.
Precisão, velocidade e alta tecnologia garantiram imagens com uma profundidade de campo e nitidez de cor duas vezes superior à qualidade das fotografias digitais normais.
“O sistema de iluminação foi projetado por nós, da HAL 9000, testado e aprovado pelo laboratório fotométrico do Instituto Central de Restauração, em Roma, ligado ao Ministério para os Bens e as Atividades Culturais. As sessões fotográficas duraram um total de nove horas. E o tempo de exposição total do mural à nossa luz foi tão baixo que mal poderia ser medido: ele equivale à luz difusa normalmente sobre a obra”, explica Mauro Gavanelli a swissinfo.
Quatro anos para o original
Tudo isso não seria possível sem sofisticados programas de computadores e processadores de dados. As dimensões do mural (4,6 por 8,8 metros) tornavam o projeto ainda mais complexo e difícil.
A imagem virtual da Última Ceia foi apresentada na sacristia do velho convento, a poucos metros da obra-prima original, localizada na parede central do antigo refeitório.
Ali dentro, Leonardo da Vinci, entre 1494 e 1498, deu as pinceladas de uma das pinturas mais discutidas, admiradas e estudadas de todo o mundo.
O resultado final do trabalho de digitalização está impresso numa fotografia com quase 17 bilhões de pixels. A riqueza de detalhes na luz da tela do computador revela as linhas preparatórias do mestre. Elas demarcavam a parede antes dele começar a pintar com a técnica a seco e a óleo. A olho nu, esse esboço é quase imperceptível.
“Não vi nada que não tenha visto antes. Mas é maravilhoso que esta visão possa ser dividida com todos”, disse Pinim Brambilla que, entre os anos de 1977 e 1999, trabalhou no restauro da Última Ceia.
Os seus retoques, praticamente invisíveis, surgem como magia em meio aos traços executados por Leonardo da Vinci. Eles passariam despercebidos se a imagem virtual não tivesse a capacidade de colocar uma lente de aumento num espaço mínimo de um milímetro quadrado.
Basta um clique
Para mergulhar nos segredos da Última Ceia basta um clique no computador. Se o acesso à imagem virtual é instantâneo, o mesmo não acontece com a obra prima original. Quem estiver interessado em vê-la de perto deve ter paciência, marcar uma visita com um mês de antecedência, já sabendo que poderá ficar diante do mural por apenas quinze minutos e a quatro metros de distância, pelo menos.
Os grupos são formados por 25 pessoas. Eles entram por uma porta do pátio interno da igreja. Ela somente é aberta quando a porta de saída já estiver fechada. O motivo é simples: evitar uma corrente de ar. O mural é tão delicado quanto uma aquarela e pode se ‘contaminar” com as impurezas do ar.
O controle da temperatura e da umidade do mural é eletrônico. A qualidade do ar também é monitorada 24 horas por dia. E já dá sinais de alerta. Se a poluição ambiental do lado de fora da igreja é filtrada, o mesmo não ocorre com as partículas em suspensão trazidas pelos turistas.
Elas somam quase mil por dia. “Temos um filtro que consegue eliminar 100% dos gases tóxicos externos como os dos escapamentos dos carros e 60% a 70% das impurezas trazidas pelos visitantes”, explica um funcionário da Superintendência para os Bens Arquitetônicos e Paisagísticos de Milão.
Em apenas um fim de semana, um milhão, trezentas e cinqüenta mil pessoas clicaram na Última Ceia de suas casas. O número é quatro vezes maior do que o número anual de visitantes do original.
“Acho que a Última Ceia virtual pode ser um complemento para vê-la ao vivo”, afirma um italiano, na fila para ver a obra desde julho e na porta de entrada da igreja Santa Maria della Grazie.
swissinfo, Guilherme Aquino, Milão
O resultado é um quebra-cabeças de 16.945.790.099 pixels.
O mural já tinha sido submetido a sessões de fotografia anteriormente, sempre com a tecnologia de ponta disponível na época.
No começo do século passado ele foi protegido com um grande vidro. Durante os anos 80 a Última Ceia também foi fotografada. Turistas e visitantes não podem registrar imagens do mural. Câmaras com ou sem flash não são permitidas.
A câmera usada no projeto de digitalização foi uma Nikon D2Xs com lentes AF_S Nikkor 600mm f/4D IF-E II
A imagem é resultado da elaboração de mais de 120 gigabyte de dados formatados por 1.677 imagens digitais.
Segundo a empresa HAL 9000, a imagem virtual da Última Ceia, é a maior em alta definição no mundo; foi concebida através de um software instalado em uma plataforma baseada num processador AMD Opeteron tm.
A imagem está disponível no site www.haltadefinizione.com mas a foto está protegida por copyright graças a um sistema de filigramas, espécie de marca d’água. No mesmo site se pode assistir ao vídeo dos bastidores da digitalização da Última Ceia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o mural foi protegido com sacos de areia. Eles o salvaram da destruição provocada pela queda de uma bomba durante o ataque aéreo realizado pela RAF, em 1943. As ondas de choque o teriam desintegrado, não fosse a proteção das pilhas de sacos de areia.
A úlltima restauração ocorreu entre os anos de 1977e 1999.
A digitalização da Última Ceia vai servir para estudos científicos e avaliação de restaurações passadas e de preparação para as futuras.

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