César Ritz, o “rei” dos hoteleiros
César Ritz morreu há cem anos (25 de outubro de 1918). O empresário suíço que inventou a moderna hotelaria de luxo tinha doze irmãos. E era um dos 13 filhos de um pobre agricultor em um pequeno vilarejo nos Alpes suíços.
“Se você está doente e não sabe para onde ir, porque não ir ao lugar da moda: puttin’ on the Ritz”. A famosa canção do compositor americano Irving Berlin, de 1927, descreve o estilo elegante e decadente dos habitantes de Nova Iorque na época e é muito famosa. Mas poucos sabem quem foi “Ritz” e que alguns dicionários associam seu nome ao “luxo ostensivo”.
César RitzLink externo nasceu em 23 de fevereiro de 1850, no vilarejo de NiederwaldLink externo, nas montanhas do cantão do valais (sul). Por coincidência, esse é o aniversário de um outro concidadão mais contemporâneo: o chefe da cozinha Anton Mosimann, gastrônomo residente na Inglaterra e conhecido como o “cozinheiro da Rainha da Inglaterra”.
Quando ainda era criança, César Ritz cuidava muitas vezes das ovelhas do pai ao retornar da escola. Aos quinze anos se tornou aprendiz de sommelier em um hotel de Brig, estância turística no mesmo cantão. Porém não teve muito sucesso. “Você não dá para essa profissão”, disse na época o gerente do hotel e o demitiu. Porém antes deu o último recado: “Você precisa entender mais da hotelaria. E, me permita dizer: você não entende nada.”
A crítica não roubou a motivação do jovem de dezessete anos. Ele sabia que tinha “muita ambição, mas pouco dinheiro”. Então se mudou para Paris, onde trabalhou inicialmente como garçom até chegar no Voisin, um restaurante de luxo frequentado por muitas personalidades francesas.
Ritz tinha uma ótima memória e se esforçava em descobrir os desejos dos clientes: quais comidas preferidas, qual seria o vinho mais saboroso e a música mais agradável? O Príncipe de Wales, que se tornaria posteriormente o rei Eduardo VII, solicitou uma vez: “Ritz, você sabe mais do que gosto do que eu próprio. Prepare então um jantar segundo o meu gosto.”
O jovem Ritz retornou à Suíça, onde conseguiu um emprego de gerente do Hotel Rigi Kulm. Logo depois assumiu também a direção do Grand Hotel National, dois estabelecimentos de luxo às margens do Lago de Lucerna. Lá deixou uma forte impressão pela paixão aos detalhes e conhecimentos.
“O cliente tem sempre razão”
Ele dirigia os hotéis no verão. No inverno, acompanhava a alta sociedade europeia ao migrar em direção ao Mediterrâneo. Lá dirigiu hotéis em Nice, San Remo e Monte Carlo.
Em Monte Carlo descobriu os talentos do chefe francês de cozinha Auguste Escoffier, hoje conhecido como o pai da cozinha francesa. O suíço o contratou, em 1880, para dirigir as cozinhas do novo Grand Hôtel. Sete anos depois, Ritz e o francês abriram um restaurante em Baden-Baden, na Alemanha. Depois se mudou para Londres, onde viveu dez anos. A equipe em torno de Ritz-Escoffier atraiu os ricos e famosos na Inglaterra às noites nos hotéis The Savoy e, posteriormente, The Carlton.
Em 1898, o primeiro hotel de grande luxo, batizado Hotel Ritz – foi aberto na Praça Vendôme, em Paris. Logo depois, e, 1905 o suíço abriu o The Ritz Hotel em Londres. Dez anos depois, o Ritz Hotel em Madrid.
Ritz foi o primeiro hoteleiro a dizer “que o cliente sempre tem razão” (apesar de ter dito, na realidade, que os clientes nunca erram). Seu lema era: “Veja tudo sem olhar; ouça tudo sem ouvir; esteja atento sem ser servil; antecipe-se sem ser presunçoso. Se um cliente reclamar no restaurante de um prato ou do vinho, remova-o imediatamente e substitua-o, sem fazer perguntas.”
Ele também não poupou esforços na gastronomia. Sua estratégia era fazer a comida que as mulheres gostavam. Mulheres bonitas e bem vestidas tinham um papel cada vez mais importante nos restaurantes dos grandes hotéis. Até então, as mulheres aristocráticas não tinham hábito de comer em público.
Apesar de todo o sucesso e adulação, Ritz sofreu de depressão. Sua esposa francesa, Marie-Louise, revelou como estava insatisfeito. “O que alcancei? Nada”, teria declarado o empresário. Depois de um colapso nervoso em 1902, ainda continuou a trabalhar por mais quinze anos.
César Ritz faleceu aos 68 anos. Era 26 de outubro de 1918, em um hospital em Küssnacht, próximo à montanha Rigi e ao Lago de Lucerna, pouco antes de terminar a I Guerra Mundial. Foi enterrado em Paris, mas depois os restos mortais foram levados ao seu vilarejo natal, em Niederwald. Hoje, turistas estrangeiros podem seguir os passos do empresário através de uma trilhaLink externo especialmente feita para homenageá-lo.
Adaptação: Alexander Thoele
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