18 meses com viciados
Michael von Graffenried acompanhou por 18 meses o cotidiano de dependentes de drogas em Berna. Suas fotos panorâmicas estão agora expostas em várias cidades da Suíça.
Da dependência, ao tráfico e à prisão: fotos mostram o submundo de um casal de viciados em heroína e consumo de drogas leves.
Os cartazes podem ser vistos em onze cidades suíças, incluindo Zurique, Genebra e Berna. No período de festas, quando muitos passantes estão estressados com a compra de presentes de natal, não são poucos os que fazem uma pausa para admirar essas imagens chocantes.
Uma delas mostra um velho colchão repleto de manchas de sangue no meio de uma sala, cujo tapete está coberto de lixo e seringas usadas. A inscrição abaixo explica: – “Enquanto Peter estava na prisão, Astrid aproveita a oportunidade para viver no seu apartamento”.
Chocar os suíços
Essas e outras 30 fotos, exibidas atualmente no centro cultural Kornhaus em Berna, mostram a história de um casal suíço de dependentes de heroína e o drama de duas vidas.
Os dois não pertencem à ficção: eles se chamam realmente Peter e Astrid e, apesar das aparências desgastadas pelas décadas de consumo de drogas, têm apenas 43 e 41 anos. Mesmo com a efêmera notoriedade, eles continuam vivendo nas ruas de Berna e necessitam diariamente de mais doses.
O autor das fotos é o suíço Michael von Graffenried, 47 anos e vivendo há treze em Paris. Aos jornalistas presentes no vernissage em Berna, ele é sucinto para explicar o motivo da campanha: – “De vez em quando, a Suíça precisa receber uns eletrochoques”.
18 meses no submundo
Michael pertence a uma das famílias mais tradicionais e ricas de Berna. Seu pai é dono de jornais, rádios, bancos, companhias imobiliárias e terras. Porém, ao contrário do resto da família, ele decidiu se dedicar às artes.
Para realizar o projeto intitulado “Rosana, Astrid, Peter e os outros”, o fotógrafo acompanhou durante dezoito meses o duro cotidiano de viciados em drogas em Berna.
Para isso ele começou a freqüentar o centro de acolhimento “Contact”, um prédio não muito distante da estação central de trens. Lá funciona o programa de assistência pública, onde os dependentes recebem metadona (a droga utilizada para substituir gradualmente a heroína) e seringas descartáveis. Ao mesmo tempo seus visitantes podem tomar um banho, lavar as roupas ou ter consultas médicas.
Diariamente centenas de suíços e estrangeiros freqüentam suas salas. Suas idades variam entre a adolescência e os chamados “vovôs” da droga, pessoas com mais de cinqüenta anos com uma carreira de até trinta de dependência.
Michael von Graffenried escolheu o casal Peter e Astrid como figurantes principais da sua história. As trinta fotos mostram o dia-a-dia de um grupo de viciados: a procura desesperada por drogas, as brigas, a prisão, a liberdade recuperada e a recaída na dependência.
Riscos do projeto
O trabalho não foi absolutamente sem riscos. “Houve situações, como quando a polícia invadiu o apartamento de Peter e perguntou para mim onde ele estava e eu não pude responder, ou aquela em que Astrid pediu que eu escondesse os pequenos envelopes de heroína”, conta Michael.
Ele decidiu ser um ator passivo. Nem a polícia foi informada, nem os traficantes foram auxiliados. “Porém em alguns casos, eu estava beirando na ilegalidade, como me explicou um amigo advogado”.
Depois que o fotógrafo ganhou a confiança dos dependentes, ele passou a se movimentar mais livremente nesse submundo de Berna. Seu único receio é que lhe pedissem dinheiro ou roubassem sua câmara. “Aprendi que em situações de emergência, um dependente pensa primeiro na droga, depois em si próprio ou nas outras pessoas”. Porém nada lhe ocorreu. Michael acredita que existia uma relação de confiança muito grande entre ele e os dependentes.
Função pedagógica
Em Berna, a exposição de Michael von Graffenried será exibida até 16 de janeiro. Depois ela vai para outras cidades da Suíça.
Na opinião do fotógrafo, a importância de mostrar as imagens do mundo da droga está na mensagem. “Em primeiro lugar, eu lembro que elas são pessoas absolutamente comuns e que caíram, por um motivo ou outro, na dependência”, ressalta o fotógrafo e completa, “em segundo, é que o problema da droga está muito longe de ser solucionado no nosso mundo”.
Um dos presentes na abertura da exposição em Berna era Jakob Huber, que dirige o centro de acolhimento Contact há vinte anos. Para o assistente social, as cenas de dependência ajudam as campanhas realizadas nas escolas.
“O que sempre dizemos aos jovens é que qualquer forma de vício é um risco; trata-se de uma roleta-russa, onde se brinca com a vida. Porém muitos precisam de tempo para descobrir que se já tornaram dependentes”.
swissinfo, Alexander Thoele
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