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555 testemunhos da guerra

Muitos eram capazes de morrer para defender a Suíça. swissinfo.ch

Como era a vida na Suíça na época da 2a Guerra Mundial? A pergunta é respondida por 555 depoimentos pessoais gravados em vídeo, agora exibidos em exposição itinerante.

Refugiados, pessoas comuns, judeus, ex-soldados, espiões, simpatizantes do nazismo ou vítimas falam sobre o período em que a Suíça quase cessou de existir.

Um dos períodos mais dramáticos na história helvética começou em 30 de janeiro de 1933. Na distante Berlim, Adolf Hitler acabava de ser nomeado chanceler da Alemanha.

Para grande parte dos suíços essa mudança no cenário político do grande vizinho do norte não representava uma grande mudança nas suas vidas. Porém em 1o de setembro de 1939, quando as tropas nazistas invadiram a Polônia iniciando a Segunda Guerra Mundial, tudo mudou.

Nunca a sobrevivência da Suíça foi tão ameaçada como durante os quase seis anos de duração do conflito. Para se defender ela mobilizou seus soldados, se armou até os dentes e esperou uma invasão das tropas nazistas, que acabou nunca ocorrendo.

Sessenta anos depois que os canhões se silenciaram, alguns desses suíços decidiram contar o que viveram. Tudo foi gravado em vídeo, material que é agora exibido numa exposição intitulada “L’Histoire c’est moi – 555 versões da história suíça entre 1939 e 1945”.

Apelo lançado nos jornais

Organizada pela associação “Archimob” (Arquivos da Mobilização, na sigla em francês), a exposição de vídeos-testemunho nasceu em 1998 a partir de uma idéia do cineasta Frédéric Gonseth. Dentro da polêmica criada pela publicação do relatório Bergier, um extenso estudo realizado por uma comissão independente sobre o papel da Suíça na Segunda Guerra Mundial e que provocou muitas polêmicas no país, ele queria dar sua contribuição.

“Os suíços tinham interesse de saber como se pensava naquela época e como o país funcionava”, afirma Gonseth. “Através do trabalho, oferecemos uma situação única de mostrar como eles viveram ou sofreram o tempo da Segunda Guerra Mundial”.

Para realizar o projeto, os organizadores lançaram em 1999 um apelo público através de anúncios de jornais, procurando voluntários que se dispusessem a contar sobre o passado. Mais de mil pessoas se apresentaram, incluindo um ex-ministro de Estado e também suíços vivendo no exterior. Os depoimentos mais marcantes terminaram em 555 fitas de vídeo, o que corresponde a mais de mil horas de conversa.

Depoimentos

Os visitantes da exposição “L’Histoire c’est moi” não precisam assistir todos os vídeos. Uma grande parte deles foi digitalizada e está à disposição em computadores. Três ou quatro teclas bastam para escolher e passar as fitas. A divisão em categorias – vítimas, conflito, a guerra e o dia-a-dia – ajudam na seleção.

Um se lembram do heroísmo das forças armadas: – “Se os alemães tivessem invadido, nosso exército teria recuado para a região de montanhas no centro do país”, lembra Heinz Brummer, ex-soldado, citando a estratégia chamada de “Reduit”. “As montanhas estavam aparelhadas com diversos níveis de armamentos pesados como canhões de diversos calibres. Eles nunca teriam atravessado o Gotthard!”.

Outros fazem o mea-culpa: – “Eu me simpatizava com o fascismo, pois a Itália era para nós um modelo nessa época”, conta Olivier Reverdin. “Nós detestávamos o comunismo e chegávamos mesmo a falar que eles comiam crianças”.

Outros lembram como sofreram: – “Eu na época estudava química em Zurique e pretendia ser oficial no exército. Porém meu comandante na época foi claro em dizer que não aceitaria um judeu como chefe de tropa”, revela Moritz Abrach.

Uns agradecem: – “Estava estudando engenharia em Viena, quando meus amigos disseram que as condições da Politécnica de Zurique eram melhores”, descreve emocionado o judeu húngaro emigrado Andor Fürst. “Vim para a Suíça e todos aqueles que me seguiram sobreviveram à Segunda Guerra Mundial”.

“L’Histoire c’est moi” até 2006

A exposição do projeto de vídeos vai até 22 de maio no Museu Nacional de Zurique. Depois ela será montada em Chur (10 de junho a 18 de setembro), Martigny (verão de 2005), Bellinzona (29 de setembro a 15 de dezembro) e finalmente no Museu Histórico de Baden (30 de setembro a 20 de janeiro de 2006).

Para acompanhar o material exibido, os organizadores do “L’Histoire c’est moi” lançaram também o livro “Landigeist und Judenstempel – Erinnerungen einer Generation zwischen 1930 a 1945” (Espírito do país e o carimbo judeu – lembranças de uma geração entre 1930 e 1945) através da editora Limmat e o DVD “Rückblickend/Regards em arrière” (Retrospectiva), com quatro horas de duração.

swissinfo, Alexander Thoele

Os diferentes projetos sobre o mais dramático período no século XX para a Suíça, os anos entre 1939 e 1945, tentam dar uma outra perspectiva para a história oficial.

Desde que foi colocada no banco de acusação por ter supostamente se aproveitado do Holocausto e colaborado com os regimes do Eixo, a Suíça vive uma fase de esclarecimento do seu verdadeiro papel durante a Segunda Guerra. Projetos como os 555 vídeos e o relatório “Bergier” são exemplos desse esforço.

Na exposição “L’Histoire c’est moi”, os vídeos são apresentados em formato multimídia através de computadores. O usuário pode escolher qual dos depoimentos quer assistir. São mais de 1000 horas de gravação.

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