A mulher que é uma fera no ringue
Em agosto era a vez dos lutadores. Já em 23 de setembro são as mulheres que irão disputar o Torneio Feminino de Schwingen, a tradicional luta suíça, em Winterthur.
Apesar da bravura que demonstram no ringue, as mulheres ainda não são levadas a sério no esporte pelo bloco masculino. Úrsula Ruch, atual campeã em Schwingen, mostra que o sexo frágil não tem nada a esconder.
Nos seus cinco anos de carreira, ela já conquistou três coroas de louros, uma dúzia de sinos (um típico troféu entregue nos esportes tradicionais), um novilho e até mesmo um porco: Úrsula Ruch, 31 anos, originária do pequeno vilarejo de Krauchthal no Emmental.
Nessa região de vales próxima a capital suíça, ela cresceu e fortaleceu seus músculos. Em breve ela retornará ao seu trabalho como agricultora e posteriormente assumir a fazenda dos pais.
“Ruch Úrsula”, como é conhecida pelos amigos, vem de uma família de lutadores de Schwingen, o tradicional esporte suíço que se assemelha ao “sumô” japonês. Apenas há poucos anos ela descobriu que mulheres também podem entrar na raia. Aos 26 anos ela visitou pela primeira vez um torneio feminino. Três dias após ela estava vestindo o calção tradicional de couro, cujo nome em dialeto é “Zwilch”. “Ela é o nosso instrumento de trabalho, feita de um material extremamente resistente”, conta.
Na região que vive, Úrsula é a única lutadora. “O centro do nosso esporte está na Suíça central. É lá que estão as feras, ou melhor dizendo, as mulheres que realmente sabem lutar”, explica a jovem suíça.
Ela também é presidente da recém-criada Federação de Lutadoras de Schwingen. Nas horas vagas gosta de praticar outros passatempos como cantar em coros de jodel (canto alpino) e jogar cabo de guerra. “Eu adoro as tradições suíças”, conta Úrsula.
Um esporte para mulheres fortes
Assim como os homens que praticam Schwingen, também as mulheres são mais fortes do que a média. “Temos uma constituição mais musculosa do que a maioria das meninas. Trata-se de um esporte rude, onde os competidores se medem através da força e habilidade”.
Para a velha guarda, a presença feminina na raia é algo que precisa ainda ser digerido. Muitos homens não conseguem conceber que as mulheres não se contentem mais em ficar sentadas no banco como fãs ou familiares.
Depois de participar de um programa de televisão, Úrsula recebeu uma carta de um apreciador masculino do esporte, em que é chamada de várias palavras de baixo calão, além de outras agressões verbais.
“Esse tipo de reação não me incomoda, pelo contrário, eu até me divirto”, responde a jovem aos seus detratores. Ela prefere responder convidando as vozes críticas a assistir uma luta de mulheres para tirar suas próprias conclusões.
“Muitas pessoas não nos levam a sério, mas acho que esse comportamento está mudando aos poucos. Os homens estão reconhecendo as estruturas que montamos e também o desenvolvimento no esporte nesses últimos dez anos”, explica.
Os maus olhares dos mais tradicionalistas não tiram a motivação de Úrsula para continuar lutando. “Não queremos tirar nada dos homens”, replica. Ela não compreende por que muitos insistem em agredir as mulheres do esporte, argumentando que sua presença “destrói uma longa tradição helvética”.
Técnica cada vez mais importante
Úrsula Ruch aceita a inferioridade de força física das mulheres em relação aos homens. “Temos menos força imediata. Nós lutamos de uma forma menos explosiva. Alguns até gostam de dizer que lutamos em câmera lenta”, conta e ri ao mesmo tempo.
Porém no Schwingen o mais importante não é apenas a força, mas também a técnica e a maneabilidade. Outro fator muito importante é saber medir a força com o seu oponente de uma forma amigável. “Quem ganha na luta precisa sempre ajudar o outro a se levantar e depois espalhar um pouco de areia nos seus ombros. Essa tradição é algo sagrado, que mostra o respeito que temos pelo adversário”.
Os lutadores de Schwingen mantêm as tradições, amam a música popular e lançamento de bandeiras (outra conhecida tradição) e podem ser encontrados mais facilmente nas áreas rurais do que urbanas.
Já há muito tempo que não são apenas pessoas que exercem profissões tradicionais como queijeiro ou fazendeiro alpino que praticam o hobby. Dentre os lutadores estão funcionários públicos ou até policiais. “E também temos floristas, garçonetes e outras profissões. Não são apenas as camponesas que gostam de medir as forças”, acrescenta Úrsula.
Questionada se ela também vota em partidos conservadores, como se crê dos eleitores das áreas rurais, ela refuta veementemente. “Aqui estamos tratando de esporte e a política não tem nada a ver com essa historia”.
Aprender com os homens
As lutadoras de Schwingen dependem dos homens. Eles estão presentes na presidência da sua associação, atuam como juizes e também treinadores. Lentamente ocorre uma certa aproximação entre os dois lados, como mostra o exemplo da formação conjunta no esporte. Já a fusão das duas associações não é tema nem de debate. “Queremos continuar independentes”, reforça a presidente.
Um pouco de mistura ocorre nas categorias jovens: no campeonato feminino de 2007, rapazes e meninas entre sete e nove anos podem disputar entre si a medalha na serragem da raia. Ao mesmo tempo, meninas podem participar do campeonato juvenil, que ocorre em breve.
Já uma luta entre mulheres e homens permanece tabu. “Não faz sentido, pois somos fisicamente mais fracas do que os homens”, lamenta-se Úrsula. Para confirmar, ela pede à repórter para olhar rapidamente os lutadores. Não é raro que esses fortes rapazes tenham mais de dois metros e cem quilos de peso.
swissinfo, Gaby Ochsenbein
1980: o primeiro campeonato feminino em Spiez, no cantão de Berna. Mais de oitenta mulheres participam.
1992: fundação da Associação de Lutadoras de Schwingen…por um homem, Jakob Roggenmoser.
A associação tem 130 lutadoras ativas, das quais a metade é de meninas.
Na Suíça existem sete clubes de lutadoras de Schwingen.
Elas têm também uma revista, que é publicada três vezes por ano.
Desde 2006, Úrsula Ruch, agricultora de Krauchthal, no cantão de Berna, é a presidente da associação.
Schwingen é um esporte típico na Suíça. Ele se assemelha ao sumô japonês e tem sua origem nas tradições rurais do país.
A luta é realizada num ringue coberto de areia. O principal objetivo dos dois lutadores é forçar o adversário a tocar com as costas o solo.
Atualmente são conhecidos mais de cem diferentes golpes. Normalmente uma luta dura apenas alguns minutos. Os lutadorers dificilmente são feridos, mas podem terminar uma competição com algumas escoriações.
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