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A primeira escola de recrutas

Groupe de soldats lisant des cartes dans une forêt
Recrutas em um curso de leitura de mapas, por volta de 1995. VBS/DDPS

Duas vezes por ano, cerca de 8.000 a 10.000 moças e rapazes iniciam sua formação na escola de recrutas. A “ER” do exército suíço é quase tão antiga quanto o Estado Federal: a primeira de seu tipo ocorreu em 4 de setembro de 1849 em Winterthur.

A swissinfo.ch publica regularmente outros artigos do blog do Museu Nacional SuíçoLink externo sobre temas históricos. Esses artigos estão sempre disponíveis em alemão e, geralmente, também em francês e inglês.

Embora não houvesse um exército federal permanente antes de 1798, as várias alianças que, ao longo de 500 anos, levaram à criação do Estado Federal suíço sempre se basearam majoritariamente no desejo de ter uma defesa nacional comum. Até o século XVII, não havia nenhuma formação militar centralizada. Os rapazes aprendiam o ofícioLink externo em competições e jogos armados ou com mestres de esgrima itinerantes. Todos praticavam suas habilidades com arcos ou bestas e as demonstravam em festivais de tiro. Os soldados que prestavam serviço no exterior se formavam “na prática”, diretamente no campo. Munidos de novas experiências e habilidades aprimoradas, eles retornavam para compor o núcleo das tropas em sua terra natal e transmitir seus conhecimentos.

Dessin d une fête de tir
Festival de tiro na Basileia, por volta de 1610. Zentralbibliothek Zürich

Quando a pólvora passou a ser amplamente utilizada no campo de batalha, foi preciso coordenar a utilização de diferentes armas. Pela primeira vez, havia uma artilharia capaz de dar apoio à infantaria e à cavalaria. Uma instrução e um treinamento adequados mostraram-se necessários para garantir uma interação harmoniosa entre todos que estavam no campo de batalha. Durante esses exercícios, organizados em escala regional e conhecidos como “drill”, os soldados praticavam o manuseio de armas e os comandos correspondentes a fim de dominar a atuação em formação.

Dessin d un exercice militaire sur une place de Zurich
Exercício militar na Platzspitz em Zurique, 1758. Zentralbiliothek Zürich

As diferenças entre os cantões

Como a organização regional permaneceu até o século XIX, a formação dos militares na Suíça era de responsabilidade dos cantões. Consequentemente, havia muitos sistemas e filosofias diferentes, e o nível de instrução variava ainda mais. Em vários cantões, os treinamentos, que duravam alguns dias, eram realizados nas praças das cidadesLink externo. Em outros, como em Lucerna, os recrutas tinham que participar de doze tardes de formação militar aos domingos. Em 1815, alguns cantões estabeleceram escolas de recrutas centrais com duração de uma a cinco semanas. Em 1820, pela primeira vez na história suíça, tropas de diferentes cantões foram convocadas para um único campo de treinamento perto de Wohlen (Aargau). Em média, 3.000 homens participaram desses preparativos. Durante o dia, eles trabalhavam na coordenação de várias armas e, à noite, desfrutavam de uma atmosfera de camaradagem. Isso permitiu que soldados dos quatro cantos do país se conhecessem. Assim, desenvolveu-se um sentimento de pertencimento nacional entre as tropas, algo que ultrapassava as fronteiras dos cantões.

Tableau d un entraînement militaire au 19e siècle
Primeiro campo de treinamento federal perto de Wohlen, em agosto de 1820. Bibliothèque nationale suisse

E, como a Constituição Federal de 1848 citava como principal objetivo a independência da pátria frente às forças estrangeiras, a defesa nacional se tornou uma missão essencial para o jovem Estado Federal. Inicialmente, a Confederação se limitou a supervisionar as atividades militares dos cantões e a assumir a responsabilidade pela instrução das tropas técnicas e dos quadros superiores. A formação da infantaria permaneceu responsabilidade dos cantões por mais 30 anos.

Dessin d instructeur de l infanterie au 19e siècle
Instrutores treinando recrutas de infantaria, por volta de 1830. Bibliothèque am Guisanplatz

A primeira escola de recrutas federal

Nos Arquivos Federais, temos o registro da decisãoLink externo de organizar, pela primeira vez, escolas de recrutas federais para a cavalaria, em setembro e outubro de 1849. Em 4 de setembro de 1849, uma terça-feira, 64 rapazes participaram de uma formação em Winterthur. Mas, na época, os recrutas não precisavam se preocupar com serviços de guarda nos finais de semana e autorizações para sair, pois a “ER” durava apenas até sexta-feira. Os recrutas foram orientados por uma equipe de cerca de trinta pessoas, incluindo vários instrutores, um mestre de esgrima e um veterinário de equinos.

Dessin de dragons en uniforme autour d une cheval
Dragão com veterinário em frente a uma escola de equitação, por volta de 1855. Bibliothèque am Guisanplatz

Marcados por exercícios teóricos e práticos, os três dias incluíram muitos elementos que ainda hoje fazem parte do programa de formação de recrutas e moldam o cotidiano de sua vida militar: identificação das peças constitutivas das armas, conhecimento de leis marciais, marcha, desmontagem de armas, chamada ou até mesmo o apagar das luzes e o toque de alvorada. Nas semanas seguintes, outras duas escolas de recrutas voltadas para cavalaria foram realizadas em Bière (12 a 15 de setembro de 1849) e em Aarau (17 a 20 de outubro de 1849), reunindo militares das regiões correspondentes. Naquela época, portanto, a viagem até o local de treinamento era muito mais curta do que é hoje.

Dessin d un camp d entraînement du 19e siècle
Campo de treinamento na praça de armas em Bière, 1830. Bibliothèque de l’ETH Zurich

Embora as tropas técnicas tenham usufruído de uma formação uniforme a partir de 1850, a Confederação impôs apenas um treinamento básico de duração mínima para a infantaria, que também contava com um exercício final de batalhão. Essas normas, embora flexíveis, não eram obedecidas por todos os cantões e, portanto, o nível das habilidades dos soldados de infantaria permanecia díspar. A organização militarLink externo de 1874 acabou confiando o treinamento da infantaria à Confederação. Como os grupos ainda eram formados por região, os soldados da Suíça de língua francesa e os da Suíça oriental geralmente não se misturavam. Foi somente em 2004, com a introdução do “Exército XXI”, que essas tropas cantonais foram definitivamente abolidas. A duração da escola de recrutas também mudou consideravelmente ao longo dos últimos 175 anos. Enquanto aquelas primeiras escolas experimentais não duravam mais do que alguns dias, em 1850 os recrutas já passavam uma média de sete semanas nos quartéis. Da década de 1930 até a década de 1990, a ER teve a duração tradicional de 17 semanas. O treinamento aumentou para 21 semanas em 2004 e, desde 2018, dura 18 semanas, com o número de cursos de repetição sendo adaptado de acordo.

Depois de estudar inglês e ciências políticas, Alexander Rechsteiner trabalha agora no Departamento de Comunicação do Museu Nacional Suíço.

(Adaptação: Clarice Dominguez)

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