A Suíça convidada às bordas do Tejo
Evento incontornável no outono, o Doclisboa - festival de documentários em Lisboa - este ano faz uma homenagem à Suíça, com uma seleção especial dedicada à produção do país.
O festival de Lisboa pensou grande para sua oitava edição. É o que admite o programador do festival, Augusto M. Seabra: “é o maior já realizado.”
Pela sua diversidade: competições oficiais de curtas e longas metragens, pré-estréias, masterclasses, retrospectivas de peso (Joris Iven, Jorgen Leth, Max Ophuls), e pela sua qualidade, o Doclisboa continua sendo um imperativo para o documentário europeu.
Durante onze dias o Doclisboa apresenta cerca de 204 filmes bem diferentes. Para julgar o tamanho da festa, basta olhar para a retrospectiva Joris Ivens, o cineasta holandês que os organizadores do Doclisboa apresentam como o “pai” do documentário moderno. Nada menos que 39 de seus filmes são apresentados em Lisboa, um acontecimento muito raro na história do cinema.
Identidade suíça
O que é então ser suíço? Augusto Seabra, escritor, crítico de cinema e programador do Doclisboa, observou que um artigo publicado no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) levantava a questão da identidade suíça, na maioria das vezes vítima de estereótipos de cartões postais, arranhada na década de 70 pela onda de filmes de língua francesa de Tanner,Goretta, Sauter ou Yersin.
Em seguida, foi necessário esperar Fredi Murer e Richard Dindo para abalar a imagem de Epinal. “A lógica seguida pelo Doclisboa é a de “tornar visível” uma vitalidade contemporânea, e é por isso que a Suíça, que produz um cinema de qualidade com filmes de grandes autores, merecia ser incluída na homenagem que prestamos todo ano a um determinado país”, acrescenta Sérgio Trefaut, diretor do festival.
“O festival tem uma postura política muito clara: mostrar exemplos diferentes dos que vemos aqui em Portugal. E no caso da Suíça, mostrar um documentário que recebe bom apoio financeiro e é geralmente distribuídos em salas”, diz o diretor do Doclisboa.
A homenagem ao documentário suíço não é a única surpresa do festival. O filme “God no Say so” de Brigitte Uttar Kornetsky compete na Seleção Internacional e outros três filmes suíços estão na seleção “Investigações”.
Uma política que recompensa
Em 2009, a Suíça foi convidada de honra do delicioso e imaginativo festival de animação “Monstra”. Também em 2009, o filme “La Forteresse” do ibero-suíço Fernand Melgar abriu a competição oficial do Doclisboa. E em setembro de 2010, foi a vez do festival de cinema GLS Queer apresentar a produção suíça do gênero.
“Para minha grande surpresa, a Suíça disse imediatamente que sim e nos preparou um programa de 24 filmes de qualidade. Oferecemos um coquetel para os cineastas convidados para a ocasião no emblemático cinema São Jorge de Lisboa: um verdadeiro sucesso. Para mim, e no que diz respeito ao cinema, Lisboa é como uma esponja: basta trazer água para aumentar sua capacidade de demanda”, explica com humor Rudolf Schaller, embaixador da Suíça em Portugal.
Sua pequena e dinâmica equipe não mede esforços para promover e valorizar a cultura suíça. O resultado é recompensador, visível. Graças à ressonância encontrada na Swissfilms, que financia a presença cinematográfica suíça nos festivais de Portugal – e do mundo.
Swissfilms tem uma estratégia de divulgação clara. “Nós achamos que não podemos ter apenas um filme em competição internacional. E a cinematografia de um país não se resume aos últimos lançamentos em sala. É uma história do país através de olhares diferentes. E é verdade que há 2 ou 3 anos somos bem cotados em Lisboa”, comenta Marcel Mueller, responsável da programação da Swissfilms, considerando que o Doclisboa oferece um programa de excelente qualidade.
Richard Dindo aclamado
Para o diretor do festival Doclisboa, o documentário suíço está perfeitamente integrado no programa do festival: pensar fora da caixa, mostrar para os portugueses produções que nunca seriam distribuídas no país. No entanto, os documentários apresentados no Doclisboa cumprem os critérios em vigor: filmes de arte, históricos e, por vezes, difíceis estão ao lado de filmes que Sérgio Trefaut, o diretor do festival, chama de “líricos”.
A crítica têm elogiado “Ernesto Che Guevara, le journal de Bolivie” de Richard Dindo, que narra os últimos meses da vida do revolucionário cubano a partir de seu diário. O público tem enchido as salas, como em ” God no say so ” de Brigitte Uttar Kornetzky, depoimentos sutis feitos na Serra Leoa. “O público entendeu a minha abordagem, e tem demonstrado interesse nela. É um público bem informado, apaixonado e exigente. E Lisboa é linda”, se alegra a cineasta Brigitte Kornetsky.
O crítico Augusto Seabra não hesitou em chamar o cinema suíço de “nômade”. Uma designação que não se daria a priori para a produção suíça. Mas o panorama apresentado no Doclisboa – como em outros festivais- lhe dá razão: os diretores da Suíça foram olhar outras partes do mundo. E voltaram com imagens impressionantes.
O Doclisboa é organizado pela associação APORDOC para o documentário criado em 1998 com o objetivo de divulgar e promover o cinema documentário.
Em 2002, Apordoc embarca na aventura Doclisboa, dando, em 2006, suas características atuais: a de um festival aberto ao público.
A audiência nos cinemas bate recordes (35.000 a 40.000 espectadores). O Doclisboa remete vários prêmios, incluindo três na categoria internacional. O primeiro, o prêmio da Cidade de Lisboa é dotado de 15.000 €.
Eclético, o Doclisboa convida grandes diretores internacionais, homenageia precursores, destaca um país, organiza “masterclasses” gratuitas e cria muitas iniciativas para os jovens.
O Doclisboa é realizado na segunda metade de outubro.
A Seção Homenagem de 2010 é dedicada à Suíça. O Doclisboa enfatiza que a polícia de apoio à produção cinematográfica suíça permite manter uma produção de qualidade, além da distribuição nos cinemas. No âmbito desta homenagem, uma outra é dedicada a Richard Dindo, autor de cerca de trinta filmes, quase exclusivamente documentários.
Na categoria “Investigações”, três filmes suíços: “Aisheen (still alive in Gaza)” de Nicolas Wadimoff”, La Cité du pétrole ” de Marc Wolfensberger e “Il Nuovo dell’italia sul” dePino Esposito.
Na Seleção Internacional, um longa metragem: ” God no say so ” de Brigitte Uttar Kornetsky.
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