Quarta-feira de cinzas. Ao invés de porta-estandartes e passistas, enfermeiros tomam conta do Sambódromo. Pandemia é o tema do Carnaval de 2021. Hora de lembrar da carnavalesca suíça Marie Louise Nery, falecidaLink externo em maio de 2020, que ajudou grandes escolas de samba no Rio de Janeiro a conquistarem o título.
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Alexander Thoele é de origem alemã e brasileira e ingressou na swissinfo.ch em 2002. Nascido no Rio de Janeiro, concluiu seus estudos de jornalismo e informática em Brasília e Stuttgart.
Como já dizia Jorge Ben Jor, “fevereiro, em fevereiro, tem CarnavalLink externo“. Porém no Brasil os festejos foram cancelados em quase todas as capitais. Lugares míticos como o Sambódromo, no Rio de Janeiro, ou o Anhembi Sambadrome, em São Paulo, são utilizados hoje como locais de vacinação, tão esperada por toda a população. Na Suíça, carnavalescos ferrenhos chegaram até a desfilar no cantão de Schwyz na segunda-feira (15.02), atraindo milhares de curiososLink externo às ruas do vilarejo Einsiedeln, apesar da proibição policial.
Poucos foliões sabem que, em 11 de maio de 2020, falecia no vilarejo de Morges, às margens do lago de Genebra, a figurinista e cenógrafa suíça Marie Louise Nery. Ela tinha 95 anos e foi considerada a primeira mulher carnavalesca do Rio de Janeiro. Sua história, relatada pela swissinfo.ch, é de uma estrangeira que chegou com pouco mais de trinta anos no Brasil e, como poucos imigrantes, influenciou a cultura brasileira, especialmente no teatro, literatura, artes, mas também no carnaval.
Quando Marie desembarcou no Rio de Janeiro em 1957, o presidente Juscelino Kubischek já governava o Brasil há um ano. Sob o lema “50 anos em 5”, o país viveu uma efervescência econômica, cultural e relativa estabilidade política que entrou para a história como “Os Anos Dourados”. Em 1958, a música popular brasileira chegou ao exterior trazendo consigo a Bossa Nova, marcada por sucessos como “Chega de SaudadeLink externo“, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e “Bim Bom”, de João Gilberto.
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Impressões de uma carnavalesca
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Fotos pessoais, lembranças, fantasias e alegria.
Nessa época os desfiles de carnaval ainda se realizavam no centro do Rio de Janeiro. A festa não passou despercebida por Marie Louise Nery. Em 1958, recebeu o convite para participar da comissão julgadora dos desfiles. Um ano depois, o carnavalesco Nélson de Andrade, presidente da GRES Acadêmicos do Salgueiro, convidou a suíça e seu marido, o cenógrafo e artista plástico Dirceu Nery, a desenhar os figurinos da escola. Foi uma revolução, como conta o livro “Escolas de Samba em Desfile”Link externo, publicado em 1969 pelos autores Hiram Araújo e Amaury Jório.
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“…Coube aos Acadêmicos do Salgueiro, na gestão de Nelson de Andrade, revolucionar a estrutura das Escolas de Samba ao introduzir inovações como: coreografia contada (outros dizem marcada), dinamização na concepção dos enredos, figurinos mais livres e modernos, teatralização no todo da escola pela criação de espetaculares “shows” ambulantes… Todas estas alterações – que viriam dar nova vida às Escolas de Samba – foram frutos de um trabalho de artistas de cultura erudita que encontraram nas Escolas de Samba um campo propício para o desenvolvimento de suas concepções de arte. Estes artistas foram: Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Nilton Sá e o casal Nery. A introdução destes artistas se deve a Nelson Andrade, um homem sem dúvida nenhuma de grande visão e que sentiu que o único caminho do SALGUEIRO – uma Escola pobre – seria renovar…” (ARAÉJO e JÉRIOLink externo, 1969, p. 122)
No carnaval de 1959, Marie Louise criou as fantasias do enredo da Salgueiro que lembrava a obra “Viagens pitorescas e históricas”, que o artista francês Debret escreveu durante sua viagem ao Brasil no século 19, acrescida de pinturas e desenhos. A Salgueiro ganhou então o segundo lugar. A novidade foram os elementos utilizados: “A beleza de elementos como enormes cestos de palha cheio de aves, cadeirinhas, guarda-sóis e outros que dançavam e pulavam, ao mesmo ritmo e de forma harmônica, maravilhou os olhos e engradeceu esse espetáculo”, escreve a pesquisadora Leila Bastos SetteLink externo, bolsista da CNPq.
Em 1960, a suíça realizou o carnaval da Portela, desenhando fantasias para o enredo intitulado “Festa d’o Casamento de D. Pedro”, levando a escola a conquistar o título. A participação de Marie Louise no carnaval durou até 1968, com criações alternadas para Salgueiro e Portela.
Hoje, Marie Louise Nery está enterrada no Cemitério Municipal de MorgesLink externo, com vista para o lago de Genebra.
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Morre na Suíça primeira carnavalesca do Rio
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