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A Suíça vista e retratada por Corot

O Cais de Pâquis em Genebra, 1842. © MAH, photograph: Yves Siza

Em Genebra, o Museu Rath abre suas portas para o pintor francês Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875).

Fala-se muito de seu imenso talento, mas menos do fato de que sua mãe era suíça, costureira de profissão. Entrevista com Paul Lang, curador da exposição.

“Corot na Suíça” é um sonho de beleza que floresce lentamente de uma sala a outra. Ambiciosa no seu conteúdo (óleo sobre tela, desenhos, negativos de vidro, gravuras), a exposição no Museu Rath (Genebra), permite ao público reencontrar um terreno familiar: a natureza “Romande” (do nome da região suíça de expressão francesa), pintada com amor por Corot. Este é o tema principal deste evento que tem tudo de uma retrospectiva. Porque a exposição também reúne retratos do mestre e outras maravilhas inspiradas na floresta de Fontainebleau e na Itália, para onde Corot fez várias viagens. No entanto, nunca tão numerosas quanto as suas estadias na “Romandie”. Para melhor falar sobre o assunto, um encontro com Paul Lang, curador da exposição.

swissinfo.ch: Há décadas que as paisagens lacustres e os Alpes expressam a imagem estereotipada de um país de beleza idílica. Como a natureza da Suíça, pintada por Corot, se distancia desses clichês?

Paul Lang: Ela se distancia porque não tem relação com o sublime, ao contrário da vasta pintura paisagista em voga no século XIX. Por sublime, quero dizer o inatingível: o toque que cultiva um sentimento de perigo. Ora, o que Corot mantém em sua pintura é exatamente o oposto: é o apaziguamento. Com sua modéstia, ele elimina tudo o que é dramático, dando preferência à estética do cotidiano.

swissinfo.ch: O que deve ser entendido por cotidiano aqui?

PL: Em um dos quadros pintados por Corot na zona rural de Genebra, em Dardagny, em 1850, vemos, por exemplo, uma mãe conduzindo sua filha para a escola. Esta cena não é, como se poderia imaginar, o motivo principal da tela. A chave está em outro lugar. É a atmosfera serena e a clareza de expressão que dá à obra de Corot um colorido do Mediterrâneo.

Para o pintor, como eu disse, a Suíça é um sossego, mas também uma “filial” da Itália. Mais uma vez, a natureza suíça tomada do cotidiano escapa de todos os clichês, pois a luz é trabalhada de forma inesperada. Note que Corot, que fez várias viagens para a Suíça, sempre conseguiu juntar sua pintura e a estadia no país com o verão. O sol era assim o seu melhor aliado.

swissinfo.ch: “A Suíça filial da Itália”, como o Senhor diz. No entanto, nem uma única pintura de Corot realizada no Ticino …

P.L: O artista fez desenhos e um óleo sobre tela “As Banhistas de Bellinzona”.

swissinfo.ch: Mas o quadro “As Banhistas de Bellinzona” foi realizado a partir de uma lembrança. Pelo menos é o que se diz na exposição.

P.L: Sim, de fato. Podemos dizer, contudo, que neste quadro o Ticino está representado em um motivo arquitetônico, que é a cidadela de Bellinzona, que aparece em segundo plano. As banhistas, por sua vez, dão ao quadro uma quietude recolhida, a marca típica de Corot, que se distingue assim dos outros paisagistas de sua geração.

swissinfo.ch: Existe uma plenitude em Corot que lembra a melancolia de Rousseau em seu “Devaneios de um caminhante solitário”. Falso ou verdadeiro?

P.L: É verdade. Principalmente porque a natureza suíça permitiu que Corot, o francês, fugisse da vida agitada de seu país, em plena revolução industrial. Os campos e planícies representavam para ele lugares poupados. Um refúgio. Em uma de suas cartas a um pintor, ele cita justamente Rousseau , dizendo que ele, como o filósofo, também é apaziguado pelo espetáculo que oferece “o lago de Genebra e suas encostas maravilhosas”.

swissinfo.ch: O que esquecemos, ou não sabemos, é que Corot era suíço por parte de mãe, filha de um soldado de Friburgo. Ela influenciou realmente o amor ou interesse que o filho tinha pelo país?

P.L: A mãe de Corot era costureira. Ela viveu em Paris, onde tinha seu ateliê, e onde era conhecida. A influência que tinha sobre seu filho é essencialmente artística. Quando criança, o artista deve ter visto um conjunto de materiais, tecidos e cores que, certamente, ajudou a refinar o seu gosto. Dito isto, eu não acho que a nacionalidade de sua mãe teve um impacto decisivo na sua pintura, especialmente porque ela nunca viveu na Suíça. No máximo, pode-se falar de atavismo em Corot.

Eu acho que o que mais o encantava aqui era a relação que ele tinha com alguns artistas e famílias daqui, como os Bovy, que muitas vezes receberam ele em casa, em Gruyères, onde, aliás, ele pintou alguns de seus quadros.

swissinfo.ch: Na Bélgica, se diz frequentemente que há um Magritte em cada casa que se preze. Podemos dizer a mesma coisa com Corot na Suíça?

PL: Na casa de todo suíço alemão eu diria que sim. O que é irônico, pois Cornot nunca ficou nessa parte da Suíça. Acho que isso se explica pelo fato de existir nessa parte do país uma tradição de colecionar obras de arte bem maior do que na Suíça francesa. Além disso, a segunda parte da exposição é dedicada à presença dos quadros de Corot nos nossos acervos privados e públicos. O visitante pode constatar que o maior acervo público está em Genebra. Por outro lado, o que é privado está mais na Suíça alemã. Em cidades como Basileia ou Zurique pode-se imaginar, quase sem exagero, a presença de um Corot em cada casa.

«Corot na Suíça», exposição em cartaz no Museu Rath, em Genebra, até 9 de janeiro de 2011.

Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) nasceu em Paris, filho de pai francês e mãe suíça (do cantão de Friburgo).

Estuda no colégio de Rouen em 1807. Prossegue então, em 1815, um aprendizado de tecelão, em Paris.

Em 1822, começa seus primeiros passos na pintura e entra no ateliê de Achille -Etna Michallon.

A Suíça é o país que visita com mais frequência. A Confederação está presente em sua obra de 1825, quando, em viagem para Roma, pára em Lausanne.

Seu apego ao país é devido principalmente a razões familiares e aos vínculos que mantém com muitos artistas daqui, principalmente com Barthelemy Menn.

A Suíça retribui o carinho que ele sente por ela através da presença considerável de sua obra em acervos públicos e particulares em todo o país.

(Adaptação: Fernando Hirschy)

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