Arquitetos discutem cidade ideal e sustentável
O Congresso Mundial de Arquitetura, em Torino, buscou a cidade ideal e sustentável com ajuda de especialistas de mais 100 de países, entre eles a Suíça.
O evento transformou a cidade, no norte da Itália, num tecido urbano vivo e repleto de novas idéias.
Delegações de todo o mundo marcaram presença no principal encontro de arquitetos do planeta. Elas vieram testemunhar as próprias mudanças locais e descobrir os próximos movimentos da arte de inserir o homem na coletividade.
Através dos temas da cultura, da democracia e da esperança, a edição 23 apresentou a arquitetura como um espelho da sociedade, sim, mas fundamentalmente, a ferramenta com a qual iniciar as transformações capazes de melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Sob o slogan geral do Congresso, “Transmitting Architecture”, a Suíça, terra natal de Le Corbusier, compareceu com alguns de seus trunfos: o cuidado com o homem e o seu meio e a segurança e a logística das novas construções baseadas na tecnologia de vanguarda.
Durante cinco dias, quase todos os maiores nomes da arquitetura internacional, como Kengo Kuma e Massimiliano Fuksas, participaram de mesas redondas e debates públicos numa miríade de pautas, discussões sobre o futuro das cidades, as soluções e os seus problemas. Os encontros foram no Lingotto e no Palavela, dois baluartes da moderna arquitetura de Turim, cada um ao seu tempo, um marco na cenografia da cidade. A Suíça foi destaque em dos temas principais do Congresso, o da herança deixada para as futuras gerações.
Exemplos suíços
As cidades de Neuchâtel e Oberlikon foram usadas como exemplos nas discussões sobre a transmissão do habitat aos filhos dos moradores de hoje. Essas localidades serviram de exemplo sobre a construção de uma relação de recíproco apreço entre os moradores e os seus espaços urbanos, privados ou públicos. E estão respondendo com ações concretas a como passar um contexto melhor para quem vem adiante.
Elas seguem o curso da história se transformando de acordo com as necessidades de seu tempo, criando assim condições ideais para evitar o êxodo, valorizando a memória urbana afetiva e, acima de tudo, dando aos seus habitantes uma perspectiva de desenvolvimento em sintonia com o meio ambiente. Os exemplos suíços estavam na boa companhia de Roma, Bolzano, Estocolmo, Hamburgo, Lisboa, Dresden, Bad Langensalza, Herouville St-Clair, entre outras.
O tema do meio ambiente, tão caro aos helvéticos, ganhou um grande destaque no Congresso. Ele permeou todas as discussões e encontros. Como viver e construir um futuro com mais qualidade, menos custo e, acima de tudo, respeito às melhores condições de vida?
As respostas não são simples e ninguém tem a fórmula mágica. Mas elas passam pelo desenvolvimento sustentável, pela reciclagem, pelo diálogo entre as gerações e dos arquitetos com as comunidades e a administração pública, pela valorização de novos materiais e tecnologias e pelo redimensionamento do papel do arquiteto.
Para Leopoldo Freyre, relator geral do Congresso, “é necessário tirar a arquitetura do isolamento, se projetam edifícios belíssimos sem um confronto com a realidade que o circunda”. A idéia geral é que não se deve conceber um projeto sem levar em conta a função maior de agregação social do arquiteto.
Derrubar barreiras e ajudar na interação das comunidades em tempos difíceis de imigração e migração – quer de outros países, quer do campo para as cidades – serve para incrementar a qualidade de vida. A recuperação de áreas degradadas, como as periferias e velhas áreas abandonadas a si próprias, através da reurbanização, com a inclusão das melhorias dos serviços públicos, restitui os valores de cidadania e resgata a dignidade dos moradores.
Tecnologia de ponta
A qualidade das novas construções deve estar em sintonia com as necessidades da coletividade para o bem-estar geral. A Suíça participa de um dos principais projetos europeus de segurança e manutenção de grandes obras. O Polytect pesquisa o uso de tecidos técnicos contra os efeitos naturais do tempo na pavimentação e nas paredes expostas ao ar livre, entre outros objetivos, como roupas de proteção para médicos e operários, por exemplo.
Em uma das centenas de eventos culturais e técnicos que giraram ao redor do congresso estava o Architex, uma mostra das novidades no campo do tecido sintético aplicado às novas construções. Entre 136 empresas da Europa e dos Estados Unidos estava a companhia helvética Smartec S.A. Ela integra o projeto Polytec, de pesquisa multilateral, patrocinado pela Comissão Européia.
Oleodutos, rodovias, barragens de hidrelétricas, prédios, enfim, obras que possam colocar em risco a vida humana e causar danos ao meio-ambiente, são prioritárias no uso futuro dos geotecidos. Eles são uma trama de fibra ótica com, por exemplo, kevlar ou fibra de carbono, ou outro material resistente, que são colocados como uma fina camada dentro das obras. Estas espécies de membranas inteligentes separam o muro, o tubo, a parede do mundo externo. Neste caso, a companhia suíça propõe um sistema de fibra ótica capaz de monitorar as mínimas deformações e a temperatura de estruturas de concreto, por exemplo.
O engenheiro Angelo Figgino, da Smartc S.A, explica que o sistema proposto pela companhia identifica as rachaduras praticamente com margem de erro zero. “Ao longo de um eixo com 30 km podemos localizar e quantificar o problema com precisão absoluta. A nossa tecnologia funciona emitindo um sinal ótico que é retro-refletido pela fibra ótica inserida no tecido e, uma vez processados os dados, podemos medir a deformação metro por metro”.
O projeto Polytect esta’ em fase de pesquisa e na iminência de ser testado. Uma vez avaliado pela Comissão Européia, que co-financia os estudos, o produto pode chegar ao mercado internacional. A tecnologia de ponta minimiza ao máximo os riscos de desabamentos e de vazamento de fluidos. Quanto mais cedo o problema for localizado, menores serão as chances de ocorrer uma tragédia humana ou um desastre ambiental.
swissinfo, Guilherme Aquino, Turim
Dados importantes
600 conferencistas convidados. Entre eles arquitetos de renome internacional, mas também sociólogos e filósofos, urbanistas.
Delegações de 119 países: Austrália, Índia , Brasil, Japão, Geórgia, Venezuela, Bangladesh, etc….
Dez mil profissionais da arquitetura e estudantes se inscreveram no Congresso.
O Nobel pela Paz, Muhammad Yunus participou como convidado especial.
Pela primeira vez uma cidade italiana foi anfitriã do Congresso Mundial de Arquitetura. Barcelona, Pequim, Berlim e Istambul já tinham hospedado o evento em edições anteriores.
O Congresso é realizado pela União Internacional dos Arquitetos (UIA), que tem um milhão e meio de filiados em 126 nações.
60 eventos paralelos aconteceram em vários locais da cidade.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.