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Entrevista Aurel Aebi – Co-fundador do Atelier Oï

Aurel Aebi no MADE
Aurel Aebi, em palestra na MADE, ressalta sobre a importância da escolha do tipo dos materiais em projetos arquitetônicos e de design. swissinfo.ch

Cofundador do atelier suíço Oï, o designer Aurel Aebi esteve no Brasil para uma apresentação durante a MADE (Mercado, Arte e Design), feira que reúne algumas das principais empresas desses segmentos. 

Sob o título “Handmade Industry”, ele falou para uma plateia extremamente atenta, descrevendo projetos que deixam claro como a arquitetura e o design interferem de fato na vida das pessoas. A feira foi realizada em agosto no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Aebi destacou a importância dos materiais como ponto de partida para elaboração dos projetos, sejam arquitetônicos, cenográficos ou qualquer outro. Para ele, a maneira como esses componentes impactam a vida das pessoas e o ambiente é determinante para sua escolha. Por isso, antes mesmo de se pensar no como fazer qualquer trabalho, para ele é fundamental conhecer bem o que será usado. Uma questão, primordial, até mesmo para livrar as próximas gerações de problemas ainda maiores em relação à sustentabilidade.

Reconhecido pela criatividade e inovação de projetos assinados para grandes empresas, como Louis Vuitton (Nomades Collection), Bulgari, B&B Italia, Nestlé, Rimowa e tantas outras, Aebi veio ao Brasil desta vez a convite do Switzerland Tourist, que participou da MADE divulgando o “Swiss cities designed for you” – programa que mostra o país como destino para apreciadores de cultura, arte, design e arquitetura. A seguir, a entrevista completa com Aebi, que em 2018 estará novamente no Brasil para uma exposição dos trabalhos do seu escritório no Museu da Casa Brasileira.

swissinfo.ch: O senhor apresentou aqui várias ideias para várias soluções arquitetônicas e de design, deixando claro que ter ideias não é problema, mas sim o processo.

Aurel Aebi: Sim. É que qualquer um tem uma ideia. Você sai com seu amigo, bebem alguma coisa, têm ideias: “Opa, podemos fazer isso ou aquilo!”. Mas no dia seguinte, quando você acorda, ainda meio tonto, e tem que trabalhar e o processo começa. O processo é a sua vida, é a combinação diária das nossas experiências, das nossas novas conexões com pessoas, e tudo isso nos dá ao final o produto. Não é apenas uma ideia. É um processo contínuo para coisas que, às vezes, requerem anos, para outras que podem ser mais rápidas, mas o objetivo é sempre o caminho (processo) e não apenas a ideia. Isso é o que temos aprendido.

swissinfo.ch: O senhor disse: “É tudo sobre conteúdo e seres humanos”.

A.A.: Para nós é sempre importante termos a percepção daquilo que vai atender a uma pessoa. Quando tocamos um material, como ele é: quente, frio… Quando temos um muro, uma passagem, com que ele te conecta, como ele te “convida”? Então, sempre é tudo sobre formas, pessoas, sobre tudo que está ao nosso redor. Quando você tem um muro vermelho como esse (referindo-se as paredes do local do evento que participou), trata-se de arquitetura e design. Mas para que serve? É para nós, seres humanos. Então, não é como estar em um museu e admirá-lo: “Ó, é um lindo design!”. Para nós, as coisas que estão ao nosso redor são feitas em bases humanas, são feitas para pessoas.

swissinfo.ch: E por isso os materiais são tão importantes para o senhor.

A.A.: Sim, porque de outra forma você faz apenas desenhos. Imagine que vamos fazer um sapato. Você o desenha e pensa: qual material eu vou usar? Plástico, couro…? Mas cada material reage, influencia de uma forma. Então, nós, na verdade, começamos pensando o que é bom para os pés, o que é bom para o entorno? Depois seguimos com as linhas que definem a forma. É uma outra maneira de pensar, de encontrar a solução usando o material.

swissinfo.ch: Ainda ouvimos muito que design é funcionalidade.

A.A.: A frase diz: “Form follows function (a forma segue a função). Mas nós dizemos: form follows emotion (a forma segue a emoção). É uma outra forma de dizer. Ao final você vai sentar em uma cadeira. Mas a questão é que quando você compra, isso acontece por conta da emoção. Por que você quer uma cadeira e não a outra? Alguma coisa acontece que te leva a essa escolha. Função para mim é uma questão de lógica, é a sua profissão fazer algo que no final vai servir para sentar. Porém, para mim, mais importante do que a função é a emoção que aquilo causa nas pessoas.

swissinfo.ch: Você que já esteve no Brasil várias vezes, o que diria para um País que é tão rico em ideias, mas ainda, em geral, tão deficiente nos processos?

A.A.: Para fazer, para desenvolver algo é preciso ter em mente essa emoção. Vocês têm o privilégio de serem emocionais. Para mim, o Brasil é realmente um País emocional. É importante não pensar em ter uma ideia, fazer uma cadeira e pronto, acabou. Na Suíça ou na Alemanha o pensamento é sempre de fazer e depois refazer melhor. Ou seja, o que se cria não acaba na criação em si. Você faz, refaz melhor e transforma. Não se trata apenas em fazer, mas em dar continuidade. Como diz o provérbio, o caminho é o objetivo. Então é um longo processo e você otimiza o que faz.

swissinfo.ch: O ano que vem você fará uma exibição no Brasil, no Museu da Casa Brasileira. Poderia nos antecipar mais alguma coisa?

A.A.: Temos um grande amigo curador que nos falou sobre o Museu da Casa Brasileira, que demonstrou interesse em mostrar o processo para o desenvolvimento de mobiliário. E nós não fazemos apenas arquitetura; fazemos arquitetura, mas também design, design de interiores, cenários. Vamos mostrar essas abordagens interdisciplinares na apresentação dos nossos trabalhos.

swissinfo.ch: O que o senhor poderia falar hoje sobre design como conceito?

A.A.: Para uma série de coisas nós podemos gastar menos materiais. Temos de pensar, de ter em mente a escolha do processo e as questões ligadas a sustentabilidade. São três coisas fundamentais, porque de outro modo as próximas gerações realmente terão problemas.  

swissinfo.ch: O que se atrela com o que o senhor falou anteriormente sobre o uso da tecnologia, certo?

A.A.: Sim, a tecnologia tem nos permitido tudo. Hoje apertamos um botão para qualquer coisa, tudo é simples, rápido…Mas não podemos nos esquecer de pensar.

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