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Artista brasileiro mostra “caos” na Suíça

Turistas, 2010 Alex Flemming

“Caos” é o nome da mostra do artista plástico Alex Flemming que pode ser visitada até 17 de maio em Basileia. O brasileiro expõe 21 telas, resultado dos últimos quatro anos de trabalho.

Os quadros são inspirados em fotografias tiradas pelo artista, que retratam situações rotineiras de seus amigos ou de pessoas que fazem parte de seu dia-a-dia.

A nova série de Flemming retoma a tradição renascentista dos retratos, mas com uma visão contemporânea, com grande influência do grafite – nos anos 80, o artista paulistano morava em Nova York e era um dos protagonistas da “street art.” O uso da fotografia sempre permeou os trabalhos de Flemming e pode ser considerada a espinha dorsal da nova série, Caos.

Antirretrato

Mas a fotografia é apenas uma ferramenta para registrar um momento e servir de base para a criação da tela. Não se trata de uma exposição de retratos convencionais, com o foco no detalhe de expressões. Muito pelo contrário. “As pessoas são reconhecíveis, mas pode-se ver através delas”, diz Flemming. “Uma espécie de antirretrato”, explica. Os contornos de seus braços, rostos e outras partes do corpo são apenas delineados. Os olhares são difusos – e muitas vezes escondidos por óculos escuros ou máquinas fotográficas.

Fundo preto e prata

Os personagens aparecem em situações do dia-a-dia: um garçom serve uma cerveja, uma mulher toma um café ou turistas passeiam protegidos por guarda-chuvas. As cenas são desenhadas sobre um fundo intenso preto e prata, marcado por pinceladas bem fortes e sobre o qual o artista retrata seus personagens.

“Esse fundo chamo de caótico e deu o nome à série”, diz Flemming. De acordo com o artista, embora as pessoas sejam reconhecíveis, seus personagens não têm pele e remetem o leitor da obra ao caos do fundo. “Metaforicamente, esse fundo representaria a morte, sempre presente em meus trabalhos”, explica.

Vida, morte e o além

Ao longo de sua carreira, Flemming define três  temas como fundamentais e sempre presentes em seus trabalhos: a vida, morte e o alem. “São importantes para mim: a vida como o sexo e a morte como uma passagem para o além”, diz. “Respeito a continuidade da vida nesses três patamares e, claro, a única certeza que temos é a da morte.”

No que se refere à arte, o artista considera importante pautar-se pela cor, forma e conceito, mas não exclui a política. “ Para mim a arte é política, mas não panfletária”, explica.

Arte, política e beleza

Depois, na série Body Builders chamou a atenção para os horrores das guerras.  Sobre fotos de corpos bem delineados e sarados, o artista desenhou áreas de conflitos e de guerras no mundo. “Embora mostre mensagens políticas, a arte tem de ser bela e absolutamente sedutora. Para isso existem os artistas”, diz.

 Na exposição de Basileia, uma tela mostra os policiais de São Paulo. “Retrato uma polícia agressiva de que sempre tive medo”, diz.

Cor e brasilidade

Os obras de Flemming têm sido expostas internacionalmente e incluem fotografia, pintura, gravura, poesia, entre outras plataformas. Há muitos anos mora fora do Brasil.

Filho de um piloto e de uma comissária de bordo, ele sempre correu o mundo e considera fundamental viajar e conhecer novas culturas para o seu trabalho. “Sou brasileiro com muito orgulho”, diz. Para alguns críticos,  a brasilidade pode ter enaltecido mais uma das muitas qualidades de Flemming, considerado um colorista de mão cheia.

Alex Flemming nasceu em São Paulo, em 1954. É fotógrafo, pintor, escultor, artista multimida e poeta. Mora em Berlim.

Em 1981 viajou para NovaIorque, período que recebeu influência da Street Art, especialmente com o uso de grafite e estêncil.

Nos anos 70, suas gravuras contra a tortura foram editadas num livro pela Editora da Universidade de São Paulo – Edusp.

Em 2001/2002, a série Body Builders consistiu na fotografia de corpos esbeltos e sarados, mas desenhados com imagens e mapas de áreas de conflitos ou guerras.

Uma de suas obras mais conhecidas são os painéis da Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas anônimas e poemas.

As telas custam de 13 a 21 mil francos.

A exposição pode ser visitada às quartas-feiras e sextas-feiras, das 14 às 18 horas; quintas-feiras, das 14 às 20 horas, até 17 de maio.

Basileia

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