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As conexões do pífano suíço

As bandas descem do palco para tocar no meio do público no final do encontro em Olinda. swissinfo.ch

Em março de 2009 um artigo neste site sobre as origens do pífano procurou estabelecer relação entre o pífano suíço e o do Nordeste do Brasil. Foram levantadas algumas hipóteses, sem valor de pesquisa, que poderiam levar à conclusão de que o instrumento pudesse ter origem suíça.

Voltamos ao tema agora pois acaba de ser realizado em Olinda, Pernambuco, dias 25, 26 e 27 de novembro o II Tocando Pífanos.





































Em março de 2009 um artigo neste site sobre as origens do pífano procurou estabelecer relação entre o pífano suíço e o do Nordeste do Brasil. Foram levantadas algumas hipóteses, sem valor de pesquisa, que poderiam levar à conclusão de que o instrumento pudesse ter origem suíça. Como esperado, houve reações e esclarecimentos de internautas atentos que ajudaram a colocar mais luz sobre o assunto. O texto não tinha maiores pretensões, a não ser de levantar um tema para uma discussão mais ampla e este objetivo de certa forma foi atingido.

Voltamos ao tema agora pois acaba de ser realizado em Olinda, Pernambuco, dias 25, 26 e 27 de novembro o II Tocando Pífanos. Havia gente de 9 estados brasileiros: Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba, Paraná, Pernambuco e Sergipe. Além de palestras e debates sobre temas relacionados ao pífano foram realizadas duas oficinas – uma sobre a aplicação de um método de pífano original, comandada pelo musicólogo José Claudio de Oliveira Lino, de Botucatu, SP e a outra pelo “pifeiro” João do Pife, de Caruaru, tido como um dos maiores mestres do pífano no Brasil. Esta segunda foi essencialmente prática pois, além de mostrar como cortar e furar as tabocas que são transformadas em instrumentos musicais, João do Pife ensina a afinar os pífanos. À noite, as 6 bandas de pífanos presentes ao evento se revezavam na Praça Laura Nigro para brindar a população de Olinda com shows bem concorridos.

Com o sucesso do evento os participantes decidiram encaminhar um documento ao Ministério da Cultura pleiteando esforços no sentido de tombar  a banda de  pífanos como patrimônio imaterial da cultura brasileira. Argumentos não faltam: bandas de pífanos fazem parte da identidade nacional de maneira sólida, comprovadamente há, pelo menos, 400 anos; estão incorporadas a diversas manifestações culturais, sejam festas tradicionais, religiosas ou profanas; o pífano é instrumento de inclusão social e integração comunitária. Com efeito, tem sido reconhecido, informalmente, como símbolo nacional. O grupo se propõe a juntar sólida documentação e enviá-la à Brasília.

Reconhecimento oficial à parte, pois o processo é burocrático e o caminho tortuoso, o fato é que o II Tocando Pífanos cumpriu seu objetivo de reunir grupos de interessados no instrumento para discutir seu atual estágio de desenvolvimento no Brasil bem como sua execução ampliada no território nacional. Constata-se que, apesar de ter origens nordestinas – incluído aí o norte de Minas Gerais – amantes do pífano são encontrados também nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, assim como, praticamente, em todo o País.

Conexões suíças

Em razão do artigo postado neste site ano passado, fui convidado a fazer uma palestra no encontro de Olinda apresentando as hipóteses sobre as origens do pífano. Claro, aí já tinha bem mais informações e já sabia, por exemplo, que o pífano já estava no Brasil quando os holandeses chegaram o que derruba a hipótese de ter sido o pífano introduzido no País por eles.

A pedido do organizador do evento, Amaro Filho, da Página 21, fiz um levantamento sobre o uso do pífano noutros países, sobretudo na Suíça, o que provocou enorme curiosidade. Contando com a colaboração atenciosa da Associação Suíça de Tambores e Pífanos, tive oportunidade de mostrar vídeos e fotos sobre a intensa utilização do pífano no carnaval da cidade de Basiléia bem como exibir trechos dos desfiles de bandas de pífanos dos diversos cantões suíços por ocasião de comemorações diversas.

A reação à apresentação foi bastante positiva pois grande parte dos participantes desconhecia que o pífano fosse um instrumento tão internacionalizado. Claro que ver os suíços engalanados nos desfiles de rua deixaram os pifeiros brasileiros surpresos diante da diferença de ambiente onde o instrumento é praticado. Da mesma forma,

 surpreendeu a informação de que a Associação Suíça de Tambores e Pífanos foi fundada há mais de 100 anos, que atua por todo o país e que tocar pífano na Suíça é algo levado muito a sério. O positivo, do lado coincidente das informações que levei, foi a constatação de que, tanto no Brasil como na Suíça o amor, a dedicação dos pifeiros pelo instrumento é praticamente igual, apesar das diferenças culturais e ambientais.

Entusiasmo

O entusiasmo que marcou o encerramento do II encontro Tocando Pífanos, de Olinda representa uma garantia da realização do terceiro evento, ano que vem, provavelmente na simpática cidade pernambucana, embora o organizador, Amaro Filho, tenha levantado a possibilidade de torná-lo itinerante.

Itinerante ou não, o importante é que a experiência continue como forma de consolidar os laços entre os amantes do pífano que, constata-se, são muitos no Brasil e que necessitam de algum elo, de um ponto de encontro que lhes permita uma visão mais detalhada do que ocorre com este movimento nas diversas regiões brasileiras.

Como vimos em Olinda este ano o pífano é amplamente utilizado não apenas no nordeste mas também em Minas, São Paulo e Rio. Quem sabe se nos próximos encontros não vamos nos surpreender com exibição de grupos de outros estados onde até agora se desconhecia sua execução. O que se pretende efetivamente é que novos grupos se juntem aos atuais dando ao pífano características efetivamente nacionais.

O nome pífano é amplamente utilizado no Brasil mas o mesmo instrumento é chamado por vários outros nomes no País. Banda de Pífanos, Banda de Pife, Música de Pife, Zabumba, Cabaçal, Esquenta-Mulher, Banda de Negro, Terno, são alguns deles utilizados nos dicionários de folclores, entidades ligadas às artes populares e outras instituições.

O interessante é que estas bandas surgiram e praticamente se concentraram no nordeste brasileiro indo do Recife, passando por Caruaru, no Pernambuco e indo até a região do Cariri, no sul do Ceará. Tenho registro de existência de grupos similares nos estados de Goiás e Minas Gerais onde atendem por outros nomes – Banda de Couro (Goiás), Musga do Mato e Pipiruí (Minas Gerais).

Assim como sua denominação varia, a composição das bandas também tem diferenças, mas seus instrumentos básicos são dois pífanos, um surdo, um tarol e um bombo ou zabumba.

O pífano é o comandante da banda. É um instrumento semelhante à flauta, feito de taquara, uma madeira muito comum nas matas do sul de Pernambuco. É encontrado em três tamanhos: 65cm a 70cm, chamado Régua Inteiro, 50cm, o Três Quartos e o de 40cm, Régua Pequena. O som do pífano muda de acordo com o tamanho. Cada pífano tem sete orifícios, sendo seis para os dedos e um para os lábios (sopro). O segredo, tanto da confecção quanto da execução do pífano, é passado de pai para filho.

Em geral os componentes das bandas são trabalhadores que se ocupam da agricultura de subsistência. Não têm formação musical e tudo o que tocam é de ouvido. Suas apresentações pelo Nordeste são muito concorridas mas mesmo noutros estados brasileiros atraem bastante público. Alguns grupos excursionaram pelo exterior e tiveram ótima receptividade.

Entre as músicas mais executadas estão Asa Branca, Valsa, Mulher Rendeira, A Briga do Cachorro com a Onça, Sabiá, Guriatã de Coqueiro, A Ema Gemeu no Pé do Juremá, entre outras. Há várias dezenas de bandas de pífanos pelo Nordeste, mas uma das mais conhecidas é a de Caruaru, fundada pelos irmãos Biano, Sebastião e Benedito, em 1924, que já tocou até para Lampião em Tacaratu, quando o cangaceiro foi pagar uma promessa.

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Pernambuco

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