“Bonde dos imigrantes” percorre as ruas de Berna
Rostos de imigrantes estão impressos na lateral de um bonde que percorre a capital suíça durante todo o mês de novembro.
O principal objetivo do projeto é chamar a atenção dos passageiros e pedestres para a contribuição dos imigrantes, uma comunidade que já soma 27 mil pessoas, mais de um quinto da população total, em Berna.
O “Bonde da Imigração” inclui atividades informativas, culinárias e culturais que dão um toque de vitalidade ao clima frio e cinzento que reina durante esses dias na Suíça.
O projeto, lançado por Isabern (Departamento de Informação para Assuntos de Estrangeiros em Berna) em coordenação com 16 associações de imigrantes, pretende “destacar a contribuição dos estrangeiros à sociedade através do seu trabalho remunerado ou voluntários”, afirma Annina Indermühle.
Ela é chefe do setor de coordenação e comunicação da ISA, organização que trabalha há trinta e cinco anos para conseguir que os imigrantes – que chegaram à Suíça por necessidade, fugindo da violência; por curiosidade, para buscar outras perspectivas ou por amor – tenham as mesmas oportunidades que os suíços.
“Com o projeto do bonde queremos celebrar o 35o aniversário da ISA, reforçar nossos contatos com as associações de imigrantes da região de Berna e dar-lhes uma plataforma para tornar o trabalho mais conhecido na opinião pública”, aponta Indermühle.
“Já tivemos muitas reações positivas em relação ao novo visual do bonde e as ações que foram organizadas dentro dele. Por exemplo, o programa inicial, a pantomima da Associação América Latina Suíça ocorreu sem nenhum problema. Os passageiros prestaram atenção e até elogiaram os atores pela idéias”.
Procurando o trem
Menos sorte tiveram os integrantes da Associação Latino-americana Asolatino. Segundo o programa, eles iriam fazer uma apresentação em 3 de novembro, um sábado. Porém, por alguma razão – seguramente involuntária – não encontraram o trem que devia partir às nove da manhã.
O mesmo aconteceu com a jornalista que escreve esse artigo. Seguramente o desencontro foi causado por um problema de comunicação. Finalmente, depois de uma longa espera, o “Bonde da Imigração” chegou à estação central para iniciar o seu trajeto na rota Weissenbühl-Saali, dois bairros de Berna.
Cansados e com frio, mas com a meta cumprida
Quando o grupo entrou no bonde, eles logo começaram a fazer sua ação: pintar um rosto sobre uma tela estendida dentro do bonde. Porém o trabalho acabou sendo interrompido para que os participantes pudessem mostrar, assim como outros passageiros seus bilhetes válidos aos controladores. Essa é uma prática corrente na Suíça, onde os meios de transporte não têm roletas ou qualquer forma de controle de passagens. Por sorte, os cinco membros da Asolatino, incluindo a criança de seis anos, tinham os bilhetes.
“Estávamos esgotados e mortos de frio quando encontramos o bonde. A motivo por ter começado tão tarde foi o fato de termos sido interrogados pelos controladores, como se estivéssemos cometendo uma infração”, contou o colombiano Carlos Gómez.
“Só depois de explicarmos o projeto e mostrarmos os cartazes podemos continuar a ação sem precisar ter medo. Porém preciso dizer que nos sentimos humilhados de alguma maneira”, inclui na conversa um dos integrantes da Asolatino.
Nesse sentido, Annegret Hewlett, porta-voz da empresa de transportes Bern Mobil declarou que as ações organizadas no “Bonde da Imigração” são coordenadas pela ISA. Annina Indermühle lamentou o ocorrido e assegurou que “estes inconvenientes não irão mais se repetir”.
Uma ação que valeu à pena
Gloria Silvano, italiana que vive na Suíça há 28 anos, era a mais crítica. “Nós usamos essa camiseta com o logotipo da Asolatino, as pessoas nos observavam, mas ninguém sabia exatamente o que nós estávamos fazendo. Eu achava que o condutor iria anunciar nossa ação”, afirma.
“Nós conseguimos entregar os cartazes só aos mais curiosos, porém ainda é muito cedo para saber se esse tipo de ação pode ter sucesso”, lembra a colombiana Serna, outra integrante da Asolatino.
Apesar das dificuldades, os integrantes do grupo estão convencidos de que a ação valeu a pena. “De fato, alguns suíços se mostraram indiferentes, nos observaram à distância, porém houve outros curiosos que se aproximaram e perguntaram o que estávamos fazendo”, contou Gómez.
Sobretudo, as crianças mostraram abertamente sua curiosidade. Eles foram atraídos pela pintura, mas também pelo fato de um menino estar participando da criação da tela. Tratava-se de Carlos Andrés, de apenas seis anos.
“Vários jovens nos felicitaram pela grande expressividade da pintura”, analisou, convencido de que a experiência de um dia mostrou ao grupo que a integração é um processo lento e não sem dificuldades, com experiências positivas e negativas.
“No final, quando terminamos de pintar o quadro, nós saltamos do bonde para fazer uma foto. O condutor do bonde nos perguntou amavelmente se iríamos embarcar mais uma vez. Ele partiu sozinho quando lhes dissemos que iríamos ficar”.
Pontes entre a Suíça e a América Latina
Antonio Tangarife, colombiano de 43 anos, que chegou à Suíça por motivos políticos, lembra que a Asolatino surgiu como um grupo em 2000. Em 2003 ela se transformava numa associação. “Queremos difundir a cultura e a realidade latino-americana e apoiar as propostas de dignidade e justiça social em ambos os países”.
Ele ainda acrescentou que participa do projeto “para fazer presença, nos tornarmos conhecido e mostrar aos suíços que não são todos os estrangeiros que fazem coisas incorretas, mas existem aqueles que também gostam de promover arte e cultura. Elas nos ajudam a construir pontes para melhorar a convivência entre estrangeiros e suíços”.
swissinfo, Rosa Amelia Fierro
– ISA trabalha há 35 anos com a população de imigrantes de Berna. A organização aconselha, fornece informações diversas, oferece cursos de idiomas, dentre outras atividades.
– Ela financia suas atividades através da prestação de serviços para o governo federal, cantonal e da cidade de Berna, assim como às igrejas. Ela também recebe doações e contribuições de associados.
– Do projeto “Bonde da Imigração” também participam a ALAS, a Associação de Mexicanos de Berna (Amex) e o Grupo Atitude (brasileiros).
– Outros grupos também participam do projeto: Associação Eritréia do cantão de Berna, Federação das Associações turcas do cantão de Berna, Famira, Mulheres especializadas em imigração e integração, Federação das Associações de Trabalhadores Democráticos, Associação Cultural Curda, Samahang Filipina, Serviço para a Educação Tamil na Suíça e outras.
Em Berna vivem 27 mil estrangeiros e estrangeiras procedentes de mais de 140 países.
Na capital suíça e nos arredores existem mais de 300 associações de estrangeiros, 16 das quais participam do projeto “Bonde da Imigração”
Muitos imigrantes na Suíça trabalham nos hospitais, comércio, como informáticos, artistas, cozinheiros ou até mesmo como psicoterapeutas.
Além do trabalho remunerado, muitos imigrantes trabalham voluntariamente nas suas associações.
A oferta das associações vão desde cursos de idiomas, aconselhamento, informações e também organização de atividades políticas e desportivas.
Elas apóiam a integração dos imigrantes na Suíça.
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