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Cem velinhas para Louise Bourgeois em Basileia

Depois de ter sido exposta em Genebra e Zurique, "Maman" foi instalada nos jardins da Fundação Beyler, em Basileia swissinfo.ch

Para marcar o centenário da artista franco-americana, a Fundação Beyler, em Basileia (noroeste), optou por uma confrontação entre Louise Bourgeois e grandes mestres de sua coleção.

O “diálogo” das obras de Bougeois com Cézanne, Léger, Picasso, Bacon ou Giacometti formou uma magnífica exposição.

“O impulso criativo de toda a minha obra dos últimos cinquenta anos é a busca de minha infância”. “O inconsciente é um vulcão, não podemos fazer nada”. Essas frases ditas em um tom monocórdio e brusco, o rosto tão concentrado que parece voltado para o interior, são tiradas do filme de Camille Guichard que é apresentado como introdução à exposição.

Nascida em Paris de pais restauradores de tapeçarias, uma mãe adorada e um pai volúvel, Louise Bourgeois instalou-se em Nova York em 1938 depois de seu casamento com o crítico de arte Robert Goldwater, com quem teve três filhos.

A vida e a personalidade dessa mulher de baixa estatura, falecida aos 98 anos em 2010, são indissociáveis de seu trabalho, que se poderia dizer tecido de carne, de poesia, de emoção e de memória. Obedecendo a esta lógica subjetiva que lhe é própria, ela explora todas as formas e todos os materiais, inclusive suas próprias roupas. Sua linguagem exclusivamente autobiográfica faz de Louise Bourgeois uma artista contemporânea que escapa a todas as classificações.

O erotismo, o sexo e o gênero

São raras as mulheres artistas a escolher a via difícil do erotismo. Louise Bourgeois tem o tom sempre certo e além disso com humor e gentileza: “Eu sei que os homens gostam de seios grandes, então faço seios grandes”, diz ela no filme, dando de ombros. Em mulher emancipada, ela explorou o sexo e o gênero, com metamorfose de desejos, medos e fantasmas da infância para contar histórias que falam a cada um, o que explica, talvez, seu sucesso universal.

Em Riehn, perto de Basileia, a Fundação Beyeler escolheu marcar o centenário dessa artista incomum, a começar pela escultura monumental de dez metros de altura representando uma aranha ameaçadora intitulada “Maman”, que simboliza a mãe da artista, mas também sua própria condição maternal.

Depois de ter sido exposta em Berna, Genebra e Zurique, essa obra-chave está instalada agora no Parque Berower da Fundação Beyeler durante toda a exposição.

Representativas de todos os períodos, vinte esculturas, desenhos e instalações são apresentadas juntamente com obras de artistas da coleção Beyeler “com os quais Louise Bourgeois teve uma relação especial, que foram para ela presenças marcantes”, segundo os termos do conservador Ulf Küster, autor de um livro que acompanha a exposição*.

“A exposição apresenta um condensado da obra de Bourgeois que aborda os temos centrais de sua criação: seu interesse por outros artistas, sua relação conflituosa com sua própria biografia e sua vontade de traduzir emoções em suas criações artísticas”, acrescenta Ulf Küster.

Confrontações múltiplas

A obra que dá o título da exposição A l’infini, (2008) nunca tinha sido mostrada ao público suíço: 14 gravuras grande formato mostrando cruzamento de linhas se combinando, se separando para se encontrarem novamente. Esta série apresentada em torno do O homem que anda (1960) de Alberto Giacometti.

A confrontação com o artista suíço prossegue e se inversa com Cell XVII (Retrato) (2000), uma das temíveis caixas concebidas por Louise Bourgeois, com uma cabeça em tecido, frente ao retrato Caroline (1961) de Giacometti. Um Giacometti que também utilizou frequentemente uma caixa para definir um espaço dentro do espaço.

Assinalamos igualmente Red Fragmented Figure (1953) em companhia de Contraste de formes (1913) de Fernand Léger. Uma pilha de pedaços de madeira pintadas de vermelho em um haste metálica que responde à “ilusão de espaço e de mobilidade das formas que Léger também empilha, fazendo com que o olhar tenha um movimento imaginário”, explica Ulf Küster.

O cubista foi professor de Louise Bourgeois e lhe revelou a escultura, sua técnica predileta. “A escultura é a única coisa que me libera porque é tangível. Seria ainda melhor, talvez, com pessoas verdadeiras, que seriam como visitantes a casas vazias”, diz ela no documentário que lhe é dedicado.

Também é preciso ver os “diálogos” com Paul Cézanne e Pablo Picasso, mas também com Francis Bacon. Ela encontrava analogias com “as explosões de violência incontrolada” e “similitudes formais entre suas obras em três dimensões e as, em duas dimensões,  de Bacon”, destaca Ulf Küster.

E tem ainda, desta vez em solitária,The Waiting Hours (2007) et The Insomnia Drawings (1994/95), frutos da insônia que perseguiu Louise Borgeois durante toda a vida e acabou tendo um papel central em sua gestação criativa. Passage dangereux (1997), sua maior caixa  (Cell) com objetos simbólicos de sua infância e puberdade.

“O que fascina é diversidade de significados da arte de Louise Bourgeois: ela passou por cima do que, durante muito tempo, opôs a figuração e a abstração, contribuindo a dar uma interpretação particular da arte moderna, além do simples visível” conclui Ulf Küster.

«Louise Bourgeois», por Ulf Küster, conservador na Fundação Beyeler, em alemão e em inglês, 144 páginas, Hatje Cantz, 2011

Nasceu em 1911 em Paris de pais restauradores de tapeçaria, viveu em Nova York de 1938 até sua morte, em maio de 2010.

Início dos anos 1930: estudos de Belas Artes e diversas academias (notadamente com o cubista Fernand Léger).

1947: aborda a escultura com figuras totêmicas de madeira.

1951: na morte de seu pai, ela tem uma profunda depressão.

Início dos anos 1960: recomeça a trabalhar e descobre os materiais flexíveis (gesso, látex, borracha, tecido), mas também o mármore para criar obras bimórficas (frequentemente as partes sexuais).

Anos 1990, realização de quartos mágicos, os Cells, lugares em que reúne suas lembranças; aparece também a figura da aranha, que ela identifica à sua mãe.

Grande retrospectiva em 1982 no Museu de Arte Moderna de Nova York, depois, em 2007, na Tate Modern de Londres e, em 2008 em Paris.

“Louise Bougeois, ao Infinito”, por ocasião do centenário da artista franco-americana (1911–2010), apresenta vinte obras, incluindo esculturas de todas as décadas.

Fundação Beyeler, Riehen (Basileia), de 3 de setembro de 2011 a 8 de janeiro de 2012. Essa exposição foi concebida quando a artista ainda estava viva.

No  centro da exposição esta a famosa e maior escultura de aranha Maman (1999) e que já foi apresentada em Berna, Genebra e Zurique.

Diversas manifestações são previstas como conferências, concertos, inclusive em novembro com  

Jane Birkin que vai interpretar notadamente “Je t’aime moi non plus” de Serge Gainsbourg.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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