Cineasta de Zurique lança filme com Nana Caymmi
Depois de "Música é Perfume", um belo documentário com Maria Bethânia em 2005, o cineasta franco-suíço, Georges Gachot, lança "Rio Sonata" com Nana Caymmi.
O filme, que levou seis anos para ser produzido, acaba de entrar no circuito comercial em Zurique, Berna e Basileia e vai participar de festivais no Brasil, Argentina e Canadá.
“Por enquanto estou arruinado, mas feliz”, afirma o diretor Georges Gachot, em conversa com swissinfo.ch. Depois de ter investido um milhão de francos suíços em Maria Bethânia, Música é Perfume, Gachot diz que investiu 600 mil em Rio Sonata.
“Nana não aparece no título do filme porque é menos conhecida no exterior e também porque Caymmi é difícil de pronunciar em outras línguas. Mas Rio Sonata tem tudo a ver com Nana”, explica Gachot. E tem mesmo por duas razões: o filme foi todo rodado no Rio e Nana estudou música clássica desde os quatro anos de idade e continua gostando. Ela conta no filme que ela e o irmão Dori, muito presente no filme, tinham a mesma professora de piano de Nelson Freire, o célebre pianista.
“Nós éramos bons, mas o Nelson era velho. Quando saíamos da aula e entrava o Nelson, se a gente não tivesse que voltar pra casa, dava vontade de ficar atrás da porta ouvindo o Nelson tocar.”
Duro de deixar Bethânia
O filme já entrou no circuito comercial de três grandes cidades suíças: Zurique, Berna e Basileia. Também tem exibição agendada nos festivais de São Paulo, Buenos Aires e Vancouver. Rio Sonata tem 84 minutos e foi rodado em vídeo HD e em Super 8 e copiado posteriormente em 35 milímetros, explica Gachot. A televisão suíça SF é coprodutora o diretor negocia contratos com o Canal Brasil e com o GNT.
Rio Sonata tem 32 canções e levou seis anos para ser concluído. “Encontrei Nana quando rodava o filme com Bethânia, em 2004, e a ideia desse filme surgiu ali. Trabalhávamos com Bethânia e eu e minha equipe ouvíamos Nana o tempo todo no carro. Filmei durante cinco anos, em várias viagens ao Rio. Quando comecei a montagem – que durou um ano e meio – percebi que era difícil sair do mundo de Bethânia para entrar no mundo de Nana, que é muito diferente”, conta Gachot.
Dorival e Nana
Dorival Caymmi, em cena de arquivo, conta que quando a filha balbuciava, ele ouvia Nana e então ficou o apelido. Ao lembrar que começou a estudar música com quatro anos, Nana diz que, “muito preguiçosa, só começou a cantar aos 16”. Fala de seu amor pela música clássica, por Claude Debussy Ravel, Tchaikovsk e pela pintura impressionista de Monet. Ela conta que nunca gostou de barulho e que se daria bem no mundo deles. “Não gosto de barulho, gosto de cores.”
Ao descobrir o gosto de Nana pelo impressionismo, Gachot acabou fazendo um filme impressionista. Em Rio Sonata, são raras as cenas típicas de sol e praia do Rio de Janeiro. O Rio de Gachot agora é o da chuva, dos faróis dos carros na noite, do mar agitado e das nuvens que escondem a paisagem e até o Cristo Redentor.
Mas o filme é um documentário musical e Nana canta em estúdio, em teatro e ao ar livre. Ao todo são 32 músicas, escolhidas de seu longo repertório, sempre alheio aos modismos. “Eu era casada com Gil na época do Tropicalismo e essa música não me dizia nada”, conta Nana. “Eu sempre cantei o que gosto”, precisa.
Dori e outros
O irmão Dori sempre compôs para ela e está muito presente no filme, com uma cumplicidade evidente entre os dois. “Agora a gente tá ficando velho e cada vez mais intolerante um com o outro”, diz Dori.
Outros artistas falam de Nana no filme. Gilberto Gil conta do tempo em que foram casados, João Donato, Martinália, Erasmo Carlos. Tem arquivos do Festival da Canção de 1967 e de Nana cantando com Tom Jobim, em 1971.
Milton Nascimento diz que, quando chegou ao Rio tinha grande admiração por duas cantoras, Elis e por Nana. Ele se orgulha de ambas terem gravado músicas suas e revela que sempre gostou de eco nas músicas porque, quando menino, as montanhas de Minas foram suas primeiras parceiras.
Logo no Brasil
O fato de algumas das músicas que canta terem feito sucesso nas novelas merece um comentário de Nana: “a música ta aí e ninguém liga, entra na novela e estoura; vai entender a cabeça das pessoas!”
Nana canta várias músicas do pai Dorival Caymmi e diz que “meu pai é a fonte de tudo isso; ele fez mais de 130 músicas, todas maravilhosas.”
Respondendo a uma pergunta que não aparece, Nana pensa e responde: “eu canto porque acho que dou força a muita gente”.
O público brasileiro logo poderá ver Rio Sonata. Georges Gachot garante que o filme entrará no circuito comercial no Brasil até o final deste ano.
Georges Gachot.
Nasceu em Neuilly sur Seine, na França.
Chegou à Suíça aos 18 anos de idade para estudar engenharia elétrica na Escola Politécnica de Zurique (ETH).
Apesar da formação técnica, sua paixão era o piano. Juntando o útil com o agradável, o francês começou a trabalhar em 1990 na produção de videoclipes para a gravadora Naxos.
Desde 1996 ele produz seus próprios filmes. Tornou-se conhecido através da realização de documentários de músicos e compositores famosos.
Seu retrato da pianista argentina Martha Argerich recebeu em 2002 o Prêmio Itália. No Camboja Gachot também realizou três filmes longa-metragens sobre o país e a obra do pediatra e violoncelista suíço Beat Richner.
Em 2005, sai Maria Behânia, Música é Perfume.
Em 2010, Rio Sonata, também um documentário musical com Nana Caymmi.
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