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Claude Nobs ou a eficácia do sonhador

"O máximo do pessimismo? Usar suspensórios e cinta", brinca Claude Nobs, que usa somente suspensórios! swissinfo.ch

O Festival de Jazz de Montreux (FJM) viverá a partir de 1° de junho sua 39a edição, sempre dirigido por seu fundador, Claude Nobs.

Entrevista com um homem que, apesar de atuar como patrão, sempre soube preservar o essencial: o sonho e a paixão.

O encontro ocrre em Territet, ao lado de Montreux, no escritório do festival, instalado na casa em Claude Nobs nasceu, em 1936.

É que “Funky Claude”, como foi chamado pelo grupo Deep Purple no hino ao hard rock “Smoke on the Water”, já percorreu várias vezes o planeta inteiro mas é também um homem que cultiva suas raízes.

swissinfo: Estamos às vésperas do 39° Montreux Jazz Festival… Quais são os sintomas de que o festival está chegandol?

Claude Nobs: Isso depende do ano. Pode ser muita anxiedade, nervosismo. Este ano, eu dividí mais o trabalho, talvez devido uma operação que que tive de fazer no início de janeiro. Uma cirurgia não quer dizer que fiquei de fora, ao contrário: pude me envolver com outras coisas e me comprometer com outros projetos.

Por exemplo, estive em Dusseldorf, na Alemanha, algumas semanas atrás, numa cerimônia presidida por Paul McCarteney, para lutar contra as minas anti-pessoais. Então percebí que gostaria de dedicar parte do meu tempo para lutar contra essa praga.

O fato de ter me distanciado de certas tarefas, apesar de ficar muito próximo dos músicos, me dá para este ano, em todo caso, uma certa serenidade. A pré-venda funcionou bem, o programa é bem equilibrado … Estou contente, portanto, de começar dia 1° de julho.

swissinfo: A idéia de “passar o bastão para outro” passa pela sua cabeça ou dirigir o FJM é como pelo Papa: um ofício até a tumba?

C.N.: Não, não quero um fim desses! Tenho uma equipe que está pronta para assumir o festival. Aliás, em janeiro, não havia garantia que eu saísse vivo de minha operação.

O que é, talvez, um pouco mais complicado é como retomar o caderno de endereços, pelo qual sou um pouco mais apegado… Mas agora que o barco navega há 39 anos, creio que o nome de Montreux bastará para continuar a fazer um grande festival.

swissinfo: O festival tem hoje um extraordinário banco de dados áudio e vidéo. O sr. criou a ‘Montreux Sounds’ para administrar esse patrimônio?

C.N.: É uma pequena empresa que criei e que tenho com meu parceiro
Thierry Amsalem. Quando o festival foi vendido em duas partes, o nome ficou com a Fundação do Festival de Jazz de Montreux e eu comprei os arquivos para minha empresa e que se encontram numa espécie de “bunker” que construimos no chalé on moro, em Caux, acima de Montreux.

Durante muitos anos, não os utilizamos. Fizemos cópias em formato numérico para não perder qualidade e só agora começam a sair os primeiros DVDs de concertos de Montreux. Publicos 30 nos últimos dois anos mas temos 3.500 horas de som e imagem. Ainda há muito por fazer.

swissinfo: O FJM, também é uma ’marca de qualidade’ que o sr. exportou para São Paulo, Sapporo, Tokyo, Detroit, recentemente a Singapura e brevemente a Marrakech…

C.N.: Sabemos que em Montreux não podemos ir muito além por causa da capacidade em salas e do movimento de pessoas nas imediações do festival. Então optamos por vender o nome, o que nos permite apoiar outros festivais e, ao mesmo tempo, fazer publicidade para Montreux e para toda a Suíça.

O nome se exporta bem mas também à fórmula que reúne concertos pagos e concertos gratuitos, ateliês dados por músicos conhecidos, concursos (este ano em Montreux tem concurso de voz, piano e guitarra), apresentação de arquivos e participação de grupos locais. Desse formato exportamos tudo.

Certas cidades precisam de apoio promocional, de ajuda para contratar artistas. Podemos então encontrar patrocinadores. Um patrocinar em Montreux também pode ter interesses em Singapura ou Shangai.

swissinfo: O sr. está cercado de jovens colaboradores. Segundo o sr.,como eles vêm o patrão Claude Nobs?

C.N.: Isso é preciso perguntar a eles … Creio que sou um patrão meio atípico. A porta do meu escritório está sempre aberta e sou inimigo de reuniões organizadas. Só faço reuniões quando necessário. Por outro lado, é muito importante que a informação circule. Através de e-mails internos, todo mundo pode saber o que o outro está fazendo, o que evita aquelas reuniões que não acabam nunca.

No mais, tenho minhas crises de nervos e de carinho, isso é conhecido! Mas geralmente tenho uma atitude que não é a do diretor autoritário, mas de um colega ou de um amigo. A gente se entende bem.

swissinfo: A respeito do olhar alheiro… O sr. militou na campanha pela lei da união homossexual aprovada em junho. O sr. também sai na imprensa com seu companheiro. Por que o sr. abandonou a discrição anterior ?

C.N.: Minha vida privada era discreta mas era um segredo de polichinelo. Vivo com um companheiro há 18 anos, todo mundo sabia. E aí pensei que o que estava em jogo era importante. E estávamos diretamente envolvidos. Com o Thierry, se um morresse de uma hora para outra, os direitos de sucessão eram tão complicados que todo o arquvo deveria ser vendido, parte por parte.

Além disso tinha ainda a questão do reconhecimento normal, a possibilidade de visita a hospitais, por exemplo. O “pacs” para mim é a solução mais lógica. Não há casamento nem adoção, é simplesmente um reconhecimento que duas pessoas que vivem juntas têm certos direitos.

Por outro lado, o que eu jamais apoiei são os desfiles de homossexuais. Não me imagino de peruca e salto alto participando de uma “gay-pride”! Não acho que isso seja necessário. Pode-se ser uma pessoa normal, ter uma vida e uma atitude normal, e ter suas próprias tendências no plano sexual e afetivo.

swissinfo: Todo mundo muda… mas de um jovem aprendiz de cozinha a patrão de um festival reconhecido internacionalmente, o que não mudou em Claude Nobs?

C.N.: O que não mudou é que continuo e continuarei sendo um sonhador. Tento também ter uma certa humildade. Acho que ainda tenho muito a fazer e muita coisa que gostaria de fazer melhor.

Acho que também continuo a ser curioso e até fantasista. Não fui muito bom na escola e é por isso que meu pai me pediu, de maneira militar, que eu decidisse em 24 horas que aprentizagem em iria fazer…

Continuo a ser próximo da natureza. Garoto, eu ia fazer barragens nos rios, brincar na floresta perto da casa onde estamos agora. Havia uma gruta onde, com meus amigos, íamos fumar uma ramas de planta e ficávamos todos doentes depois!

Continuo muito apegado à natureza, talvez ainda mais hoje ue antes.

Também mantenho uma certa simplicidade… Não gosto de festas, aperitivos, badalação, essas coisas. Recebo toneladas de convites mas nunca vou.

Entrevista swissinfo, Bernard Léchot
Tradução, Claudinê Gonçalves

O 39° Festival de Jazz de Montreux ocorre de 1° a 16 de julho.
Ele ocorre em vários espaços mas o cerne do festival é o Centro de Congressos, com as salas Stravinsky e Miles Davis e o Cassino Barrière (para a programação jazz). Há ainda o festival “off”, gratuito.
Paralelamente ainda ainda os concursos instrumentais e os ateliês.
Em 2006, para comemorar os 40 anos, será publicado um livro intitulado “Milagres em Montreux”.

– Claude Nobs nasceu en 1936 em Territet, ao lado de Montreux. Formou-se cozinheiro e trabalho no serviço de turismo de Montreux, como contador.

– Suas duas paixões são as viagens e a música. Sua paixão pelo jazz e pelo blues levou-o a organizar concertos em sua região.

– Lançou em 1967 a primeira edição do Festival de Jazz de Montreux, que rapidamente abriu-se a outros gêneros musicais: pop, rock, blues, MPB, reggae e, mais tarde, rap e techno …

– Desde 1973, ele é diretor para a Suíça da WEA, que detém as marcas Warner, Elektra e Atlantic.

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