Claudia Andujar nasceu em Neuchâtel e herdou o sobrenome do ex-marido espanhol de quem se separou pouco antes dele servir na Guerra da Coréia.
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Aos 84 anos, ela continua a morar em São Paulo, onde chegou em 1955. “Eu vim para visitar a minha mãe que tinha vindo para cá atrás do namorado húngaro com quem se casaria aqui… e acabei ficando. Gostei muito do país, muito mais do que dos Estados Unidos”.
A infância e a adolescência foram marcadas pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, na Hungria. “Estávamos sempre fugindo. Meus pais se separaram antes da guerra. Meu pai e toda a família dele eram judeus da Transilvânia e, em 1944, foram levados para um campo de concentração e todos morreram”, lembra ela que somente escapou porque o namorado da mãe era um policial e alertou sobre a chegada dos nazistas na Hungria ocupada.
Autodidata, ela começou pela pintura. Eu nunca estudei em escolas de belas artes ou de fotografia. Em Nova York, para onde eu fui a convite de um irmão de meu pai, visitava os museus e galerias. Quando chegava em casa, começava a desenhar e a pintar quadros abstratos”, relembra. Lá, ainda trabalharia como intérprete na ONU.
Do interesse artístico para a fotografia foi um pulo. “Eu comecei a fotografar no Brasil. Estava muito interessada em conhecer o Brasil, o povo brasileiro. Eu viajava bastante para o litoral, por exemplo, onde era possível eu ir. Não era apenas ligada ao pessoal de São Paulo. E ali começou o meu interesse pelos índios, que também fazem parte do povo”, diz Claudia Andajur.
O começo foi difícil. Ela dava aulas de inglês e começava a colaborar com revistas internacionais e nacionais como Look, Life, Aperture, Claudia, Quatro Rodas, Setenta.
Nem todos os projetos emplacavam nas revistas. Entre1962 e 64, ela registrou o cotidiano de quatro famílias de contextos diferentes, com as quais viveu semanas a fio: uma rica dona de fazenda de cacau, no sul da Bahia; uma de classe média da capital paulista; outra isolada de pescadores caiçaras de Ubatuba; por fim, uma religiosa, no interior de Minas Gerais.
O encontro dela com revista Realidade, um marco no fotojornalismo nacional, aconteceria apenas dois anos depois. Nela, ela trabalharia entre 1966 e 1971. Temas como as sessões espíritas do médium Zé Arigó, a vida das prostitutas, o retorno de trem dos sertanejos, a emancipação da mulher além de ensaios urbanos e nus artísticos estavam na pauta da fotógrafa.
Esses trabalhos levaram Claudia Andujar a explorar novas linguagens e perspectivas no campo da fotografia, deixando-a na vanguarda. “Eu experimentava muito. Algumas imagens eu tirava e depois sobrepunha umas às outras, como no caso deste nu ou a série Sonhos onde eu criei a mitologia dos Ianomâmi”, explica ela sobre algumas imagens que tratam da queda do céu, o fim do mundo, segundo os índios.
A edição especial da revista Realidade, com o trabalho sobre os Ianomâmis, foi publicada em 1970. Seu acervo de 10 mil imagens deverá ser digitalizado este ano.
No Instituto InhotimLink externo, em Brumadinho, Minas Gerais, dedicado à cultura indígena, Claudia Andujar tem uma galeria permanente com 400 fotografias em 1.600 metros quadrados.
Claudia Andujar publicou vários livros de fotografia, entre eles uma autobiografia, A vulnerabilidade do ser e Marcados, sobre o atendimento médico aos Ianomâmis.
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