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Cozinha para todos os gostos

Detalhe do cartaz da exposição swissinfo.ch

O Alimentarium, Museu da Nestlé de Vevey (oeste), apresenta uma exposição ambiciosa até 26 de fevereiro de 2012.

Filmes, instalações, fotos, ateliês, leituras fazem (re)descobrir nossos hábitos culinários. Degustação através do poeta suíço Alexandre Voisard.

Comer  em casa, comer fora, comer ao ar livre, comer em público e comer como se deve. São esses os cinco temas que compõem a exposição “Prato cheio!”, no Museu Nestlé, o Alimentarium, em Vevey (oeste) até 26 de fevereiro de 2012.

É quase um ano de prazeres gustativos para o público através de ateliês de confecção, filmes, instalações, fotos e leituras da cozinha antiga e de hoje, sua variedade, modos se elaboração e efeitos sobre a saúde.

Concebida pelo Museu da Comunicação de Frankfurt, a exposição foi repensada pelo Alimentarium. O grande poeta suíço Alexandre Voisard participará dessa manifestação, em maio, com leitura pública de alguns de seus textos. Enquanto isso, nós solicitamos que ele comentasse para swissinfo.ch, algumas palavras.

Nestlé

“Essa palavra surge do maiso profundo em minha infância como uma mensagem de recompensa na forma de chocolate. Isto é o passado.  Agora, se você me da produção atual de Nestlé, não poderia dizer grande coisa, pois não consumo bebidas nem alimentos industriais.

Nunca provei “Nestea”, por exemplo. Bebo chá, mas preparo eu mesmo. Em contrapartida, as cápsulas de café eu conheço bem, é difícil de escapar, elas entraram no uso comum de todo o planeta. No entanto, não é o sucesso comercial que guardo da Nestlé. Para mim, ela continua antes de tudo o símbolo de uma Suíça gulosa.”

Röstis

 

“Aqui em vou falar de um tempo que os que tem menos de 20 anos não conhecem. Do tempo em que os röstis ainda estavam em todas as nossas mesas  – camponesas em todo caso – de  manhã bem cedo. Ele devia alimentar o homem durante boa parte do dia. Hoje, como a dietética reina em tirana, não é mais o caso.

Encontrou-se então uma outra maneira de consumir esse prato, pelo menos nos meios políticos. Fala-se de “ Röstigraben“ (barreira de rösti) para enfatizar a diferença entre suíços alemães e suíços franceses. Acho essa expressão inapropriada, é uma invenção de jornalistas que, a meu ver, não corresponde a nenhuma realidade. Os röstis são associados à cozinha da Suíça alemã, mas esse prato é comum em todos os países alpinos. Por isso é não marca qualquer fronteira.”

Picadinho à moda de Zurique

“Encontra-se nas mesas mais reputadas, mesmo se certas pessoas esnobes dizem que não gostam. Eu admito que existe um hierarquia nos pratos tradicionais, mas não colocaria o picadinho como primeiro da lista. Acho que ele se tornou um prato burguês, porque na parte francesa da Suíça ele está no cardápio alguns restaurantes muito bons.”

Fondue friburguense

Agora não tenho certeza se ela é feita somente com o queijo gruyère ou se mistura com vacherin. Talvez eu esteja dizendo bobagem. Não conheço a ortodoxia nessa área porque uma família ordinária como a minha não comia fondue. O prato era mais reservado às mesas burguesas.

Aliás, ela só apareceu na nossa região de Ajoie bem depois da Segunda Guerra. A primeira vez que comi tinha 20 anos, quando estava na escola de recrutas. Portanto, até essa idade, ela correspondia para mim mais a um conceito do que uma realidade. Isso não impediu de pensar, mais tarde, apenas em queijo. Friburgo continua muito avançado em relação às outras regiões da Suíça.

  

Papet vaudois

“Ah, a salsicha alegre! Eu adoro principalmente seu acompanhamento de legumes. Descobri esse prato tardiamente, nos anos 1960, viajando pelo cantão de Vaud (oeste). O que me diverte é a palavra “papet”, que vem do patoá regional, suponho eu , cujo equivalente em patoá do Jura, minha região, é a palavra “pépé”, que quer dizer carrinho de mão cheio de batatas. Existe portanto uma vizinhança semântica entre os dois pratos. Acho que é por isso que gosto do “papet vaudois.”

La Petite Arvine

“Esse vinho significa para mim uma certa aristocracia entre os vinhos do Valais (sudoeste). Parece que essa deliciosa bebida está na moda hoje. Não sei se a qualidade continua a mesma de 20 ou 30 anos atrás.”

Damassine (aguardente)

Ela tem a preferência das pessoas do Jura (oeste). Ela é feita com uma pequena ameixa encontrada nas melhores mesas, mas que nos vem de muito longe. Diz a lenda que as Cruzadas a trouxeram de Damasco durante as expedições. Vocês sabem que os senhores que partiam nas cruzadas recrutavam como soldados alguns dos nossos camponeses.  Estes teriam gostado da ameixinha síria e teriam trazido caroços para plantar no Jura. Essa aguardente de grande qualidade  é um pouco nosso sol do Oriente.”

“Um prato cheio! Cozinhar – comer – comunicar”, está nos Museu Alimentarium, Vevey (oeste), até 26 de fevereiro de 2012.

 

Cinco temas: comer em casa, comer fora, comer ao ar livre, comer em público e comer como se deve.

No programa, diferentes ateliês para adultos e crianças, exposição de fotos, instalações vídeo, filmes, leituras públicas, menus temáticos servidos no café e restaurante do Alimentarium.

Nascido em Porrentruy (oeste) em 1930, de pai professor e mãe de origem francesa. Praticou vários ofícios de teatro, indústria, correios, livraria.

Depois de uma breve carreira política, ele se retira em Coutelevant, na França vizinha, onde se dedica a escrever.

“Poeta da natureza”, “poeta político”, “poeta do amor”, são algumas das etiquetas que lhe atribuem e que ele recusa, mesmo se é orgulhoso de ter sido um “poeta da libertação do Jura”.

1990, foi eleito para Academia Mallarmé em Paris e, em 1996, para a Academia Europeia da Poesia.

Sua obra se distingue por uma grande variedade: poemas, romances e contos.

Le Théâtre de Vidy-Lausanne présente, du 5 au 17 avril, «Voisard, vous avez dit Voisard…», un spectacle d’après des textes du poète, lus, slamés, et chantés par Thierry Romanens avec le trio jazz Format A3.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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