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Documentário retrata adolescentes suíços forçados a voltar à terra natal dos familiares

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Cena de “Mes Amis Espagnols”. Programado para ser lançado no Festival Visions du réel, em Nyon (Vaud), em abril passado, esse longa-metragem está sendo exibido atualmente nos cinemas da Suíça francófona, antes de seu próximo lançamento na Suíça de língua alemã. ldd

Em seu novo documentário Meus amigos espanhóis, o diretor de cinema suíço Adrien Bordone conta histórias de adolescentes da cidade suíça de Biel/Bienne que foram forçados a se mudar para a Galícia, terra natal de seus pais, mas um território desconhecido para eles.

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Por muitos anos, o cinema, a literatura e o teatro lidaram com a questão espinhosa da imigração. Bem antes da crise migratória dos últimos anos, o assunto já estava no foco de escritores, dramaturgos e diretores de cinema. 

Os documentários The Fortress (2008) e Special Flight (2011) do diretor suíço Fernand Melgar, por exemplo, registram o cotidiano e o destino de pessoas que requerem asilo na Suíça. Melgar, ele mesmo filho de imigrantes da Espanha, passou um longo período escondido em um apartamento em Lausanne quando criança, sendo um dos chamados “filhos do armário” dos anos 1960. Sua história reflete a do personagem principal de The Lizard Child, o romance de 2018 do autor suíço-italiano Vincenzo Todisco, que relata o cotidiano dos filhos de trabalhadores sazonais que vivem fora do radar na Suíça.

Depois, vimos aparecer o Welcome to Switzerland, um documentário de 2017 da diretora Sabine Gisiger que mostra como uma pequena cidade no norte da Suíça se recusou a aceitar dez refugiados em 2015.

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A jornada ao contrário

Em todos esses filmes, como em muitos outros, as narrativas sobre imigração seguem um mesmo caminho: a saída de um país de origem longínquo e chegada ao país anfitrião, carregadas com todo o sofrimento pessoal que uma migração forçada acarreta.

Mas o filme Meus Amigos Espanhóis mostra o movimento contrário. O ponto de partida é a Suíça e o destino final é a região de origem dos pais do migrante, neste caso a Galícia, no noroeste da Espanha. O sofrimento também é virado de cabeça para baixo – surge a saudade da Suíça e desconforto em relação à chegada ao novo lugar, neste caso na Galícia, no norte da Espanha, onde a família se restabelece mas segue se sentindo estranha. 

Meus Amigos Espanhóis, agora que está entrando em cartaz nos cinemas da Suíça, é um filme dirigido por Adrien Bordone, que nasceu em 1987 em Biel/Bienne, no cantão de Berna. Bordone é filho de pai italiano, da região de Gênova, e mãe suíça.  

“Meus pais se conheceram na Itália”, conta à SWI swissinfo.ch. “Meu pai seguiu minha mãe para a Suíça por amor. Digamos que ele seja um migrante emocional. Provavelmente por causa dessa história pessoal, sempre fui consciente da questão intercultural. Se eu fosse 100% suíço, provavelmente não teria tido tanto interesse em fazer este filme.”

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Adrien Bordone Copyright By Peter Samuel Jaggi

A lembrança da escola suíça

Quando estudou na escola primária em Biel/Bienne, Bordone fez amizade com os filhos de imigrantes espanhóis. Seus pais eram trabalhadores legalmente registrados. No caso deles, não eram “crianças escondidas”, mas sim meninos que nasceram livres na Suíça e que eram felizes em sua escola limpa, organizada e disciplinada. Em comparação, a escola da Galícia pareceria “bárbara” no futuro, como diz um dos personagens do filme.

Bordone descreve o início dos anos 2000. “Quando éramos adolescentes, meus amigos passavam as férias de verão na Galícia, enquanto eu ia para a Itália. A experiência de nos divertirmos juntos foi realmente enriquecedora: para cada um de nós, dois países diferentes e uma dupla identidade. Mas eu não estava interessado na minha própria história; eu estava interessado na deles.”

O documentário foi parcialmente filmado na Galícia. Lá, Bordone conheceu os pais de seus amigos que haviam retornado à sua terra natal depois de terem trabalhado na Suíça para “construir uma casa em casa”. Mas o que aconteceu com seus filhos, seus queridos amigos de escola de Biel/Bienne?

Destinos diferentes

O filme mostra um de seus amigos que agora trabalha em Munique, enquanto outro ensina francês na Galícia; o terceiro retornou temporariamente à Suíça e trabalha para uma empresa de construção. Eles têm destinos diferentes, mas uma nostalgia em comum: a Suíça.

Em geral, os filmes sobre exílio têm um fio de ansiedade que os atravessa. Neste caso, no entanto, é a saudade que prevalece, carregada pelas boas lembranças de um passado aconchegante.

“Embora meus amigos tenham passado por momentos difíceis que marcaram suas memórias de infância, deixar Biel/Bienne os traumatizou. Eu não queria adicionar somente minha opinião pessoal sobre a questão da migração, que já foi tratada tantas vezes em filmes”, explica Bordone.

O filme visa apresentar a migração não como um problema, mas sim como uma questão extremamente complexa, ao focar na ruptura imposta pela mudança de vida. O documentário mostra como os pais decidiram arrancar seus filhos adolescentes de uma vida feliz sem terem contado a eles com antecedência sobre seu plano de retornar à Galícia para sempre.

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Ajuste de contas: pai e filho discutem os motivos de seu retorno à Espanha e os traumas da separação. ldd

Unindo emoções e energias

Durante o filme, os pais e filhos que Bordone reuniu se abrem. Assistimos cada um expressando suas opiniões — e os conflitos resultantes delas. Antigos adolescentes obedientes se transformaram em adultos céticos, questionando as consequências de uma decisão tomada por seus pais 20 anos antes.

Uma desvantagem da obra é que às vezes as identidades dos diferentes personagens não ficam claras. Bordone tenta explicar: “Eu não queria seguir uma narrativa linear, com retratos claramente definidos de cada pessoa. Eu preferi usar uma forma de coro, onde as pessoas que passaram pelas mesmas alegrias e tristezas estão unidas. Dessa forma, as emoções e as energias não se dispersam.”

(Adaptação: Clarissa Levy)

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Familia con maletas en andén de trenes

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