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Em cartaz, no cinema fechado, a obra de Pipilotti Rist

Instalação "Feche para mim a roupa" no Museu Langmatt, em Baden, Suíça (2010) Andrés Morya

As instalações audiovisuais da artista suíça Pipilotti Rist revitalizam o abandonado cinema milanês Manzoni, no centro da cidade.

Esta foi a resposta original da Fundação Nicola Trussardi, mecenas da recuperação de espaços “esquecidos” na cidade.

Imagens oníricas são projetadas nas paredes, no teto e na tela do auditório central. Fechado cinco anos atrás, ele reabre as portas para uma sessão especial – com “duração” de um mês -, plena de vídeos elaborados como mosaicos de sonhos. “Esta é a primeira vez que nos ocupamos de um cinema e é um prazer reabrir este espaço que tantas recordações trazem à mente dos milaneses”, afirma Massimo Gioni, diretor artístico da Fundação Nicola Trussardi.

Não por acaso, a mostra individual de Pipilotti Rist se chama “Parasimpatico” (em português, parassimpático), parte do sistema nervoso responsável por movimentos involuntários, como a diminuição do ritmo cardíaco e a aceleração dos movimentos do tubo digestivo no corpo humano. Ou seja, induz a um repouso após uma refeição, no caso, audiovisual, temperada com o risco de o visitante ter uma sã congestão de ideias e mensagens na saída do cinema.

Pipilotti Rist não perde tempo em dar a sua mensagem. Logo na entrada, bem em cima da antiga bilheteria de madeira, ela criou um candelabro com centenas de calcinhas coloridas iluminadas por lanternas chinesas. O “foyer” de estilo racionalista, típico dos anos 50, se transforma em moldura para a obra da artista, ponto de partida para a exibição de uma “colagem” de vídeos, alguns já apresentados anteriormente e outros mais recentes e novos.

No escurinho do cinema

O espetáculo de sons e imagens começa sobre as escadarias de acesso, nos tetos do corredor. Um vídeo é projetado em cima das cabeças dos espectadores. Para quem esteve no Moma, em Nova York, não seria difícil reconhecer a obra “Lobe of the Lung”, exibida ali, em 2009 e, novamente em cartaz, desta vez, nos degraus de acesso interno do cinema Manzoni. Uma canção de Chris Isaac, Wicked Game, percorre o espaço na voz da artista. “Eu quis ser um fantasma, estimular a fantasia das pessoas, quero que elas assistam aos vídeos e liberem a própria imaginação”, disse ela à swissinfo.ch.

O amplo “lounge” da antiga sala cinematográfica abriga diferentes projetos de Pipilotti Rist. No bar do cinema, estilo “art deco” – a artista projeta imagens na parede coberta por ladrilhos de época e garrafas de diferentes bebidas. O efeito é como se a instalação visual “acendesse” o antigo espaço. Bem ali em frente, um ângulo pequeno – entre as velhas colunas estruturais e uma escada lateral – serve de cenário para um desfile de imagens surrealistas, sem fronteiras entre a realidade e a ficção.

Mas tudo isto é um aperitivo para o prato principal: ao entrar na sala principal, com 1.400 poltronas, o visitante é envolvido pelo ambiente e, cercado por todos os lados por uma série de projeção de imagens em alta definição. Nas paredes laterais, circulam partes do corpo humano e corpos redondos como se fossem celestes, transformando o cinema numa espécie de planetário de visões.

No alto, a grande abóboda – um vão central sobre as cadeiras e decorado com o afresco de uma cena mitológica – é “coberta” pelo trabalho “Homo Sapiens”, já projetado na igreja de San Stae, em Veneza, em 2005. E a grande tela projeta o vídeo “Open my Glade”, criado em 2000 para a Praça de Times Square, em Nova York. Nele a artista se filma esmagando o rosto num vidro, numa vã tentativa de libertar-se.

Interação artística

Na plateia, Pipilotti Rist instalou manequins esquartejados. Uma cadeira serve de apoio para um tronco vestido com uma “dolce vita”. Algumas fileiras mais a frente, um par de pernas com calça jeans, e assim por diante. Eles são representantes de uma plateia cortada a pedaços após a agonia das grandes salas e, ao mesmo tempo, figuras resistentes que tentam se recompor como um organismo vivo lutando pela sobrevivência.

O público caminha entre as instalações com curiosidade e perplexidade. “Acho muito importante revitalizar espaços tradicionais com elementos desconhecidos. Ainda mais com uma artista como Pipilotti Rist, não é fácil…no fundo, instigar é sempre muito importante”, afirma à swissinfo.ch Pietro Bellasi, professor de sociologia da arte.

O diálogo entre a arquitetura e a função do antigo cinema Manzoni e a linguagem moderna das videoinstalações passa pelo filtro anti-conformista da artista suíça. A tradução é um mundo à parte no qual desejos e emoções, elementos fundamentais da arte cinematográfica, ganham uma interpretação visceral.

Pipilotti Rist ocupa o cinema com uma visão crítica, nostálgica e futurista, ao mesmo tempo. Em ambos os lados da tela e da câmera, ela elabora sensações e as transforma em imagens.

Frenética, irreverente e irônica, a artista usa os meios multimidiáticos para construir uma zona permeável, entre a imaginação e o que existe de fato, na qual concretiza os sonhos e fantasia a realidade.

A mostra vai até o dia 18 de dezembro de 2011.

Elisabeth Charlotte Rist nasceu em Grabs, em 1962.

Pipilotti é um apelido do seu tempo de criança.

Ela estudou arte aplicada, ilustração, comunicação visual e fotografia entre Basileia e Viena.

Atualmente, a artista vive e trabalha em Zurique.

Seus trabalhos foram expostos em museus de países como Estados Unidos, Espanha, Japão, Austrália e França, entre outros, e participou de diferentes Bienais de arte pelo mundo, como em São Paulo, Berlim, Veneza (presente em cinco edições, entre 1993 e 2011)

Os primeiros filmes foram em Super-8, inspirados em Yoko Ono e no pioneiro da video-arte, o americano de origem sulcoreana, Nam June Paik.

Entre 1988 e 1994 cantou com a banda feminina Les Reines Prochaines.

Em 2009 Pipilotti Rist venceu o prestigiado prêmio Joan Miró.

A artista suíça ganhou uma retrospectiva na Hayward Gallery.

O cinema Manzoni foi aberto em 1950, na sala projetada pelo arquiteto Alziro Bergonzo.

Em 9 de abril de 1955, ele foi o terceiro cinema no mundo -depois de Nova York e Londres – a equipar-se com o revolucionário e complexo sistema do Cinerama no qual produzia-se um efeito panorâmico a partir de três telas e três projetores

Até ser fechado em 2006, o cinema Manzoni era considerado o “salão” da burguesia milanesa. As poltronas são de veludo e estão enfileiradas num espaço com 28 metros de largura e 40 metros de comprimento, no térreo e no mezanino.

O imóvel esta à venda mas é vinculado à Superintendência dos Bens Culturais de Milão.

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