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Em Friburgo, júri e público premiam filme da Geórgia

O diretor de The Other Bank, George Ovashvili, recebe o Grande Prêmio “O Olhar de Ouro, entregue pela presidente do júri internacional, Hana Schygulla (divulgação)

É raro acontecer que o júri e o público tenham a mesma preferência, mas é o que acaba de acontecer no encerramento, neste sábado, do 24° Festival Internacional de Filmes de Friburgo, na Suíça.

O primeiro prêmio, atribuído pelo Júri principal, recompensa The Other Bank (2009), de George Ovashvili “pela poesia e a humanidade com que se encara uma criança (de 12 anos) que descobre a vida em tempos de guerra.”

Além dos 30 mil francos o cineasta georgiano recebe um adicional de cinco mil pelo fato de também o público tê-lo considerado o melhor.

O “Prix Spécial” do Júri vai para o mexicano Rigoberto Perezcano pela sua obra Norteado, do ano passado. Seu mérito vem do “tratamento original e humorístico da imigração clandestina”.

Com uma incrível economia de palavras e muita sobriedade, Perezcano ilustra, através deste filme ambientado na cidade fronteiriça de Tijuana, as dificulades de um mexicano de driblar a vigilância policial para entrar clandestinamente nos Estados Unidos.

Se o Júri limita-se a contemplar com uma menção especial Lola de Brillante Mendoza, o já famoso cineasta filipino, além da preferência do público, levou dois outros prêmios menores: o Ecumênico e o Dom Quixote.

No cinema de Mendoza é difícil separar a ficção da realidade. Em Lola (palavra que significa vovó, em português) a câmara está sempre em movimento, a preocupação estética não prevalece e o espectador tem a impressão de assistir a um documentário. É proposital.

Certa decepção para a América Latina

A América Latina estava com a corda toda no Festival de Friburgo. Das 13 obras em competição, seis vinham da região. Para não falar de homenagens especiais sobre filmes hors-concours, como a dedicada aos brasileiros Carlos Reichenbach e Jorge Furtado.

Podia-se esperar, então, que se saíssem melhor no evento, mas não se pode reclamar: se Norteado, realmente um filme convincente, fica com o Prêmio Especial do Júri (valor de 7 mil francos), pelo menos El Vuelco del Cangrejo, do colombiano Oscar Ruiz Navia, leva cinco mil francos de uma organização de ajuda a países emergentes (E-changer).

Outra compensação é que filmes latino-americanos bons abriram e fecharam o Festival.

Se, na abertura, o enredo de Los Viajes del Viento, de Ciro Guerra, nos mergulhou em paisagens deslumbrantes da Colômbia, país do cineasta, “El secreto de sus ojos”, do argentino Juan José Campanella, suscitou maior curiosidade e simpatia pelo fato de ter recebido recentemente o Oscar do melhor filme estrangeiro.

Aliás, o diretor artístico do Festival, Edouard Waintrop já havia mais de uma vez manifestado entusiasmo por essa película.

O cinema russo está bem vivo

A maior surpresa desta nova edição foram filmes procedentes da ex-União Soviética. A Geórgia, já vimos, leva o principal troféu, mas a Rússia veio mostrar que a tradição cinematográfica no país continua firme. O ‘panorama’ que a ela foi dedicado reuniu 19 filmes. Até se poderia lamentar que nenhum pudesse figurar na competição.

Daleko ot Sunset Bulvara (Longe de Sunset Boulevard), de 2005, assinado por Igor Minaiev, é um dos que agradou em cheio. Starouki (traduzido por ‘as velhinas’) é outra jóia. Entre os que vimos, destaque-se também Tishe (Psiu), que se limita a mostrar o que se passa num trecho de rua. É eficaz, engraçado e poético.

É mais um sinal de que o Festival de Friburgo, fiel à sua tradição, abre cada vez mais janelas a cinematografias que ficam fora dos circuitos internacionais de distribuição. Mas certos filmes vão se sobressair, mais cedo ou mais tarde.

Coréia do Sul surpreende

A safra deste ano foi realmente muito boa, graças à competência do diretor artístico Edouard Waintrop, ex-crítico do jornal francês Libération, e de seus assessores. Da seleção de seis “filmes de grande público” procedentes da Coréia do Sul, o público apreciou em particular A Frozen Flower (2008), de Yu Ha e Shadows in the Palace (2007), de Kim Mee-jeung.

Neste último, o interesse vem do fato de se tratar de uma encenação suntuosa, do vestuário da época (Idade Média), de um décor, jóias e cortes de cabelo deslumbrantes. É algo já fora de moda no cinema ocidental, mas nem por isto deixa de agradar.

Termina neste sábado, em Friburgo, oito dias de cinema, mais de oitenta longas-metragens, quinze curtas. Uma maratona para quem desejasse assistir ao máximo de filmes. A próxima “maratona” deve realizar-se de 19 a 26 de março de 2011.

J.Gabriel Barbosa, swissinfo.ch, Friburgo

O Festival de Friburgo é um festival modesto, já pelo fato de realizar-se numa cidade de apenas 34 mil habitantes. Na Suíça, o mais prestigioso é o de Locarno, centro que fica do outro lado dos Alpes, próximo da Itália. Mas o FIFF – como é conhecido pelos íntimos – vem se impondo como um pequeno festival de valor. Os responsáveis pelo mesmo precisam, porém, lutar para conseguir filmes de interesse. Até porque os realizadores preferem reservar suas obras para Cannes, Berlim ou Veneza, os três grandes festivais de cinema da Europa.

Com a chegada, em Friburgo, de novo diretor artístico (Edouard Waintrop) três anos atrás, o Festival se abriu um pouco mais a novas produções cinematográficas relegadas a segundo plano pelos donos dos circuitos de distribuição. E assim o cinéfilo descobre verdadeiras injustiças. Mesmo um país como a Islândia surpreendeu todo o mundo nesta 24a. edição do FIFF com o filme Reykjavik Rotterdam, um policial trepidante, divertido e enxuto.

Em Friburgo, neste ano, vimos também que um país como Costa Rica tem cinema atraente, como se pôde perceber através de Agua Fría de Mar de Paz Fábrega, jovem realizadora que não deixa ninguém indiferente. Outra surpresa ainda: a Colômbia emerge com uma produção original e que deverá ocupar o espaço que lhe cabe.

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