Escola suíça em São Paulo investe em qualidade
A Escola Suíço-brasileira de São Paulo atende 650 alunos, entre 4 e 18 anos. É um mundo de expectativas.
De um lado pais ansiosos por um futuro de possibilidades para os filhos, de outro os alunos que vivem em um ambiente multicultural, com estreitas ligações com a Suíça, um país que por si só vende a ideia da perfeição.
O suíço Bernhard Beutler é o diretor da escola de São Paulo desde o início do ano e também o diretor geral das escolas suíço-brasileiras de São Paulo e Curitiba. Sua ideia é investir em qualidade para melhorar ainda mais o serviço oferecido pela escola. Mesmo sabendo que o caminho tem lá seus obstáculos ele não se abate. Tem energia de sobra.
Beutler entende que a escola hoje tem uma função um pouco diferente da original, que era a de atender à comunidade Suíça em São Paulo (e Curitiba). A Escola Suíço-brasileira de São Paulo é reconhecida e apoiada pelo governo suíço, por meio do cantão da Basileia e pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Conta com 60% de alunos brasileiros, 20% suíços e 20% de outras nacionalidades. Os tempos são outros, as demandas também.
swissinfo.ch: A escola Suíço-brasileira, em São Paulo é particular, porém segue boa parte dos parâmetros das escolas públicas suíças. Como você lida com essa situação?
Bernhard Beutler: Nosso trabalho tem de ser feito em conjunto com as crianças. Se funcionássemos como uma empresa trataríamos de produtos. Aqui, lidamos com crianças. A escola suíça não tem um dono, e sim um diretor. O dono é a comunidade porque a escola é uma associação. Nesse caso o primeiro cliente é a criança e o segundo são os pais. A diferença é que na escola temos o contrato com os pais, mas nossos “consumidores” diretos são as crianças. Porém, são os pais que decidem se querem ou não o que oferecemos.
swissinfo.ch: Qual é a relação entre a Escola Suíço-brasileira de São Paulo e o governo da Suíça?
B.B: Juridicamente é uma associação. A parte pedagógica também é ligada à Suíça. A escola de Curitiba é patrocinada pelo cantão de Argóvia e a de São Paulo é patrocinada pelo cantão de Basileia. Não posso fazer o que eu quiser. Eu tenho de obedecer a três autoridades: a brasileira, a suíça e o IB (bacharelado internacional – ver BOX na coluna à direita). Dependo dos resultados, como em uma empresa. No caso do IB, eu tenho que dar condições para que os alunos possam fazer os 32 pontos necessários para entrar em uma universidade suíça. Se não funciona, a escola não atrai mais alunos. Temos ainda uma relação com a Secretaria Federal de Cultura (ligada ao Ministério do Interior). Eles dão as diretrizes claras de como aplicar o dinheiro, que recebemos. O dinheiro deve ser investido para as crianças e serve para cobrir as despesas. A escola não tem lucro. Nossa escola é diferente de outras que precisam atrair mais alunos para gerar receita. No nosso caso o importante é pagar as contas independente do número de alunos. Para mim, o número de alunos está ligado à qualidade de ensino.
swissinfo.ch: Quais são as principais diferenças entre os “clientes” das escolas no Brasil e na Suíça?
B.B.: A escola suíça no Brasil é sempre comparável às escolas públicas da Suíça, que são as melhores do país. Há diferenças entre um cantão e outro mas o nível de ensino é o mesmo. Outra diferença entre o Brasil e a Suíça é que lá os pais respeitam muito mais o professor e o que a escola diz tem mais peso. Mudar de escola é o último recurso. Lá os pais não decidem em que escola os filhos vão estudar. É o governo que determina a escola que cada criança deve frequentar. Aqui no Brasil, os pais tem a ideia de que “eu pago eu mando”, eu penso diferente, eu quero isso ou aquilo. Muitas vezes, aqui, resolver um conflito, significa mudar de escola. Na Suíça o governo oferece uma educação gratuita, de qualidade, e também tem influência sobre ela.
Na questão pedagógica não posso aceitar tudo o que quer o “cliente”. Deve haver um equilíbrio entre o que querem os pais, o aluno, e a escola. Esse triângulo é muito importante. É essencial que fique muito clara a oferta da escola.
swissinfo.ch: Qual é a oferta da escola suíça?
B.B.: A oferta da escola suíça é o acesso às universidades no mundo e no Brasil. Por issso a prova do IB será feita em maio. Assim eles podem fazer o vestibular tranquilamente no segundo semestre. Na parte pedagógica são as formas de ensino que constituem o diferencial. Não só o ensino com um professor lá na frente, falando sem parar. Nossa cultura pedagógica é bem diferente, o professor é um mediador e os alunos trabalham. O professor passa a bola para o aluno e ele assume. Para nós é importante por exemplo a ideia do planejamento semanal. O professor dá os objetivos e o aluno se organiza. Se ele precisa de apoio, ele procura. Isso é uma questão pedagógica muito importante. O aluno deve assumir o processo de aprendizado. Outro ponto é a questão dos idiomas. Oferecemos o ensino de idiomas e os certificados de inglês, francês e alemão. Porém, vale ressaltar que somos uma escola bilíngue. Aqui não se ensina o tempo todo em alemão. Às vezes os pais têm a expectativa de que seja assim, mas fazemos 50% em português e 50% em alemão. Não somos como algumas escolas internacionais que não têm o foco no currículo brasileiro.
Considero importante também o fato de termos professores suíços. Eles têm uma outra forma de ensinar. Para nós é muito importante o processo e não o resultado. Por exemplo 2+5=7. Mas o que mais dá sete? E aí é passar a bola para o aluno. Para os professores brasileiros é importante o que eles aprendem com os suíços e vice-versa. E além disso temos a parte cultural. A banda, e o teatro em alemão. Os alunos têm a oportunidade de brilhar em um outro ambiente. É uma outra maneira de entrar em contato com a cultura suíça.
Os nossos alunos contam ainda com a possibilidade de sair da escola e, no caso de irem para a a Suíça, podem entrar em uma turma, de uma escola suíça comum, porque somos uma escola autorizada.
swissinfo.ch: Como você avalia esse período de um ano em que esteve na direção da escola em São Paulo?
B.B.: O projeto de qualidade é fundamental. O sistema de qualidade é uma ferramenta. Antes, a administração das escolas era mais simples. Hoje, o trabalho é mais amplo. Há a parte administrativa, financeira e o marketing, a parte pedagógica e a informática. O investimento financeiro, por exemplo, é complexo. Eu preciso justificar onde foi o dinheiro e, mais ainda, para que vou usá-lo. É preciso ter uma estratégia muito clara e objetivos. Investir o dinheiro de maneira em que ele influencie na melhora de qualidade.
swissinfo.ch: E como medir a qualidade?
B.B: Pelos resultados do IB e vestibular, satisfação dos ex-alunos. Também pelos resultados das provas que fazemos em alemão todo ano, para avaliar como se classificam os alunos e avaliação dos professores. A partir daí podemos avaliar se há um problema com o aluno, o professor, ou a instituição. Nosso grupo de trabalho vai construir os indicadores de qualidade. Temos também a preocupação de investir em comunicação. É muito importante explicar para os pais o que a escola é e o que ela não é. Para comunicar bem nosso perfil temos de definir muito bem a visão da escola, a estratégia, os objetivos anuais e esse indicadores de qualidade. Formação interna dos professores e resultados, são alguns dos indicadores, sucesso dos ex-alunos na universidade, pesquisas de satisfação. Tudo isso é o sistema de qualidade que precisa ser construído. Começamos por coisas muito simples. Todos podem fazer melhorias, cada pai, cada mãe, cada aluno. Cada sugestão deve passar por uma avaliação e pegar o caminho institucional e não simplesmente ser decidido por uma ou outra pessoa. Temos um grupo de qualidade, um conselho que acompanha o trabalho.
swissinfo.ch: Como está progredindo o trabalho do projeto de qualidade?
B.B.: Em São Paulo estamos trabalhando na parte pedagógica e administrativa, junto com o trabalho que está sendo feito em Curitiba para integrar as duas escolas. São preparados formulários e processos de avaliação constantes. Em São Paulo queremos investir bastante na parte pedagógica e definir quais são os melhores procedimentos para fazer um bom trabalho. Vamos seguir a sistemática da Suíça. Estamos trabalhando em conjunto com os cantões e a equipe da Pädagogische Hochschule de Aarau (Escola de Pedagogia de Aarau) – especializada em qualidade. Eles vêm em abril para acompanhar o trabalho que estamos fazendo.
Agora o desafio é passar tudo isso para os alunos e professores. Esse processo tem a ver com uma questão de aceitação. Alguns pensam que vão perder a liberdade. O professor não pode entrar na classe e fazer o que ele quer. Se o objetivos estiverem bem definidos, a oferta da escola se aproxima muito mais da expectativa dos pais. Se os caminhos estão claros os clientes podem decidir se querem ou não querem colocar os filhos aqui. Às vezes só o nome “Escola Suíça” provoca interpretações de que tudo está perfeito. Mas para muitos pais é novidade pedir que os alunos assumam a responsabilidade pelo aprendizado.
Na Escola Suíço-brasileira de São Paulo os alunos do ensino médio são preparados para as provas do ENEM, do vestibular e do IB (bacharelado Internacional), o diploma reconhecido em diversas universidades no mundo, tem todas as provas feitas em inglês. Trata-se de um curso pré-universitário para alunos entre 16 e 19 anos, criado em 1968 para Organização do Bacharelado Internacional. A avaliação segue critérios bem definidos e termina com exames aplicados simultaneamente em 140 países. O programa inclui trabalhos finais sobre a teoria do conhecimento, a elaboração de uma monografia que exige a investigação científica, com a supervisão de um professor, sobre um tema escolhido individualmente pelos alunos. O IB inclui ainda um trabalho final realizado com enfoque em três outras áreas aboradadas pelo programa: criatividade, ação e serviço. A primeira engloba atividades como fotografia, teatro, pintura e música. A ação é focada nas aulas de educação física e área do “serviço” inclui o trabalho social em instituições como creches, centros juvenis, asilos e hospitais.
O diretor da Escola Suíço-brasileira de São Paulo assumiu o posto no início de 2010, mas já havia ocupado o cargo de diretor da Escola Suíça em Curitiba, e desde 2007 é também o diretor geral das duas escolas.
Natural de Hermrigen, no cantão de Berna, depois de tereminar a escola obrigatória fez estágio na área fiduciária, trabalhou em um banco suíço e na bolsa de valores de Zurique, como consultor de clientes. A formação em administração de empresas, focada no marketing foi feita em Berna, onde cursou a Escola Superior de Administração e Economia, a Höhere Wirtschafts und Verwaltungsschule (Fachhochschule). Depois da experiência com a formação de adultos em uma escola particular investiu nesse campo. Graduou-se em 1996, como professor de economia pelo Instituto Pedagógico de Economia da Universidade de St. Gallen. Em seguida, trabalhou como vice-diretor de uma escola de comércio de Biel (Berufsmaturität) e a pós graduação em administração escolar, também na Universidade de St. Gallen, com ênfase no tema “Os alunos avaliam os professores”. Atuou ainda na orientação da prática escolar e supervisão no Instituto pedagógico de Prática em Uster/Zürich, na área de gestão de qualidade nas escolas.
São Paulo
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