Estilista brasileiro faz sucesso na Suíça
Aos 30 anos, Rodrigo Soares já tem uma longa carreira e a cabeça cheia de projetos.
Começou no Brasil, veio para a Suíça de férias, instalou-se em Genebra, teve uma má experiência na França, recusou trabalhar para Jean-Paul Gautier e está de volta à Suíça. Sua trajetória e o futuro que imagina estão nesta entrevista exclusiva.
Rodrigo Soares tem a inquietação natural de muitos criadores e empresários. As idéias fluem e ele raramente pára para pensar antes de responder. É que ele desempenha os dois papéis ao mesmo tempo.
Natural de Ribeirão Preto, estado de São Paulo, ele afirma que, menino, já observava a mãe costurar mas que só queria inventar, costurar não. Adolescente, foi fazer teatro e virou figurinista da Cia, Corpo de Baile de Ulisses Lopes.
Daí para a primeira coleção foi um passo. Depois vieram outras, a Suíça, a França, o Brasil e outra vez a Suíça. Hoje, Rodrigo Soares tem duas marcas, bastante trabalho e muitos projetos.
Como você veio parar na Suíça?
RS: Realmente por acaso. Uma amiga da minha mãe que mora aqui, vivia insistindo para eu vir visitá-la. Um dia vim, achei interessante e descobri que havia um grande espaço para novos estilistas.
Estava aqui apenas como turista mas fiz um projeto e fui pedir financiamento num grande banco. Eles toparam, me arrumaram todos os papéis e eu me instalei em Genebra.
Com a cara e a coragem?
RS: É, mas foi uma época boa. A mídia estava aberta e à espera de um “boom” na moda. Tinha loja e ateliê na parte antiga da cidade. Nessa época, minhas criações eram muito ousadas e conquistei o mercado com facilidade. Foi emocionante ver nas ruas as pessoas vestindo o que eu fazia. Uma emoção indescritível.
Foi nessa época que você foi convidado para trabalhar com o Jean-Paul Gautier?
RS: Foi quando eu estava para abrir a loja em Genebra, cheio de projetos e a proposta dele não era boa, naquele momento. Ele queria que eu fosse trabalhar com novos materiais, especialidade em que eu já tinha recebido prêmios. Ou seja, era para trabalhar pra ele e não com ele.
Aí veio o intervalo de Paris?
RS: Um investidor francês me fez uma proposta e eu fui de mudança para Paris. Montei apartamento, alugamos três andares na Avenida Jorge V mas … a Bolsa caiu e o investidor decidiu esperar. Fiquei quase um ano indo a desfiles e fazendo todos os contatos profissionais que Paris propicia. A Bolsa voltou a subir mas o investidor não se decidia. Foi aí que resolvi ir para o Brasil.
Para fazer o quê?
Ainda tinha umas economias, que não davam para fazer uma coleção de alta costura. Então tive a idéia de fazer uma coleção de ‘jeans’. Criei a marca U.R.S. (United Rodrigo Soares – U.R.S.) e comecei a produzir no Brasil. Já tinha uma loja em Ribeirão Preto, abri em São Paulo e no Rio.
Ao mesmo tempo, vesti uns artistas da Globo para a novela “O Clone” e foi uma loucura. Todo mundo queria comprar. Em um mês vendi 700 camisetas só na loja do Rio. Em pouco tempo tinha 36 funcionários no Brasil. Em um ano fiz 57 vôos e resolvi parar porque achei que ia ficar doente. Fechei as lojas do Rio e São Paulo e só mantive a de Ribeirão Preto.
Foi aí que você voltou para a Suíça?
Fui convidado pela “Quer Design”, de Zurique, o escritório oficial dos estilistas suíços. Aliás, você só pode ser membro se for convidado. Eles têm uma estrutura para divulgação, organizam desfiles, vendas “show-room”, etc. Me instalei em Basiléia e agora tenho um pouco mais de tranqüilidade para criar.
Já fiz alguns lançamentos com a “Quer” e uma coleção especial para a próxima temporada primavera-verão para a rede suíça de lojas PKZ (Blue Dog). Vai ter as duas marcas, U.R.S. (jeans) e RS (couture).
Tudo é feito na Suíça?
Não, ainda não dá. Eu crio, desenho, faço protótipos aqui etc. 40% dos tecidos da linha Couture são suíços, mas a produçã está dividida entre a Itália (para as lãs), a França (para a alta costura) o Brasil (para os jeans) e um pouco ainda na Bélgica e na Tailândia, onde tenho um agente de compras.
Isso ainda me obriga a viajar bastante para o controle de qualidade. Dentro de uns cinco anos, vai mudar. Quero ter minha própria estrutura, com marketing, criação e produção na Suíça. É mais caro mas vale a pena.
É vantagem trabalhar na Suíça?
É. Abre portas porque a Suíça é realmente conhecida pela qualidade, precisão, seriedade etc. Eu noto isso quando uso um crachá suíço salões de tendências em outro país. Costumo dizer que quero manter ousadia brasileira na criação e a seriedade suíça na qualidade, no acabamento, no estilo e nos negócios.
O que é mais interessante, a parte criativa ou o lado empresarial?
Eu não penso muito muito em dinheiro, às vezes isso blqueia a criação. A criação é que é excitante. Mas é claro que tenho de administrar tudo. Na verdade, tenho um movimento muito grande. Faço muito dinheiro mas não ganho tanto.
O que é preciso para ficar rico na moda?
Ter uma linha completa e uma estrutura própria com marketing, administração, criação e produção. Quero ter isso tudo na Suíça dentro de cinco anos. Há pessoas se preparando para trabalhar comigo. Vai ter perfume, bolsas, calçados. Na próxima primavera, vou ter uma linha exclusiva de camisas pela primeira vez. Eu não imaginava a importância de uma camisa. Hoje vejo como ela é o “tubinho preto” no armário de um homem.
Por que grandes marcas podem falir?
Além dos problemas administrativos, acho que é por causa dos delírios do criador. Há exemplos disso que não quero citar.
Qual a diferença entre moda e elegância?
Pra mim, moda é a identificação com um estilo. Eu vivo e respiro isso mas não sou moda. É diferente de tendência. Por exemplo, eu saio fotogrando nas ruas para ver a tendência. Fotografo pés para saber o que as pessoas estão calçando, etc. Elegância é mais comportamento e informação do que moda.
A que se deve a moda do preto dos últimos anos?
Acho que vem dos anos 90, quando houve muita tecnologia de tecidos mas pouca criatividade. Isso também coincidiu com a crise econômica e o movimento que chamamos de minimalismo.
Você mudou muito depois que começou?
Antes minhas peças tinham mais delírio. Agora está mais perto do comercial, embora mantendo meu estilo, para as coleções masculinas. Trabalhava essencialmente na faixa de 17 a 40 anos, agora estou extendo até os 50 ou 60, no masculino.
Com as mulheres, a gente pode delirar mais porque elas são mais ousadas e compram por prazer. As mulheres são mais livres e os homens são mais práticos. Mas eles também estão mudando. Acho que também entendi o que é a globalização. As coleções Rodrigo Soares passaram a ser grandes séries, com a qualidade e o cuidado de um aleliê.
Entrevista swissinfo, Claudinê Gonçalves
– Uma calça jeans U.R.S. (United Rodrigo Soares) custa 200 francos suíços (US 150).
– Um vestido R.S. (Rodrigo Soares) custa aproximadamente, 700 francos suíços.
– Um terno R.S. cerca de 1.900 francos.
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