Festival de Locarno tem edição mais intimista
A 58a edição do Festival Internacional do Filme de Locarno, sul da Suíça, começa hoje de maneira mais condensada e mais pessol.
Depois de uma edição com filmes políticos no ano passado, o programa deste ano ano destaca as histórias individuais.
Em 2004, o 11 de setembro e a guerra no Iraque tinham influenciado claramente a produção cinematográfica, a começar por Michael Moore. Reflexo dessa produção, a programação de Locarno fora muito ligada à atualidade.
Este ano, na 58a edição, provavelmente em reação a essa realidade sombria, parece que a introspecção predomina. Depois da necessidade de compreender, volta o sonho. Depois da vontade de dividir as emoções universais, o desejo de falar e refletir sobre si próprio.
A história do cinema já o demonstrou várias vezes. A ficção científica reaparia depois de uma guerra, como se fosse para desviar a atenção para outro inimigo.
Intimidade e onirismo
E o espelho de Locarno confirma. “Na alternância dos centros de interesse que o sismógrafo da arte registra tão bem, passamos do golpe político-social à análise psicológica e à dimensão onírica”, comenta a diretora do Festival Internacional, Irene Bignardi.
Os filmes deste ano contam portanto histórias pessoais. A de um transexual que não consegue se desfazer de 20 centímetros que o incomodam em 20cm de Ramon Salazar, as atribulações da vida de nove mulheres em Nine Lives de Rodrigo Garcia ou ainda a análise de Nobuhiro Suwa em Um casal perfeito.
Único filme suíço em competição, Snow White de Samir narra o romance entre uma jovem filha de uma família rica e um cantor de “rap” de Genebra.
O programa da competição internacional abre-se também ao cinema fantástico com
The Piano Tuner of Earthquakes dos irmãos Quay e Mirrormask de Dave McKean. No total, há dezessete pretendentes ao Leopardo de Ouro.
A competição deste ano também é mais concentrada. “Estou satisfeita porque conseguimos fazer uma seleção estrita. Cada obra escolhida é, como dizia Orson Welles, ou bela ou útil”, segundo Irene Bignardi.
Os hóspedes da Piazza
Na Piazza Grande, a maior praça de Locarno, 18 projeções estão programadas. Na abertura, Maria Bethania, Música e Perfume, documentário do francês radicado em Zurique Georges Gachot.
“Esse é salão de luxo onde recebemos os amigos mais importantes”, segundo
ce salon luxueux, où l’on reçoit les amis les plus importants» selon les propos Teresa Cavina co-diretora artítica do Festival.
Entre eles, este ano, estão John Malkovich e Vittorio Storaro (prêmio de Wim Wenders, Terry Gilliam e Abbas Kiarostami (Leopardos de honra) e ainda Géraldine Chaplin, na última noite, para a projeção de Nashville de Robert Altman.
Outro grande nome que está presente em todo o Festival de Locarno: Orson Welles, com a maior retrospectiva já realizada de sua obra, com 75 filmes.
Longe de Hollywood
Como de hábito em Locano, os filmes apresentados vêm do mundo inteiro. “Do Kirguistão ao Líban, do Japão ao Iraque, da Bósnia à Finlândia, da Coréia do Sul ao Afeganistão, 38 países estão representados”, comemora Irene Bignardi.
Por outro lado, os cinéfilos só verão um grande filme americano. Para tentar conter a pirataria, os grandes estúdios reduzem os prazos de distribuição eles são exibidos em sala antes do Festival de Locarno.
“Um filme teve de ser retirado do programa da Piazza Grande. C’est uma grande decepção”, afirma Teresa Cavina.
Trata-se de Stay (com Ewan McGregor e Naomi Watts), o último filme do diretor suíço Marc Forster. “Tínhamos um acordo com ele mas, na Suíça, o filme foi julgado pouco interessante comercialmente para ser importado”, explicou Teresa Cavina.
Mesmo, assim, dois lançamentos mundiais e cinco internacionais serão projetados na Piazza Grande. No entanto, como afirma o presidente do Festval, Marco Solari, “resta o essencial: o espírito de Locarno, o amor pelo cinema e o gosto da descoberta”.
swissinfo, Alexandra Richard, Locarno
adaptação: Claudinê Gonçalves
Festival internacional do filme de Locarno: 3 a 13 de agosto 2005
Competição internacional: 17 filmes selecionados
Piazza Grande: 18 films projetados, 7 mil lugares
Leopardo de honra: Wim Wenders, Terry Gilliam, Abbas Kiarostami
Prêmio de excelência: John Malkovich, Vittorio Storaro
Retrospectiva: Orson Welles, 75 filmes programados
38 países representados.
– Produções suíças são apresentadas em quase todas as seções do festival.
– Em competição internacional, Samir é candidato ao Leopardo de Ouro como “Snow White”, um filme de ficção que reflete as tendências de parte da juventude de Zurique.
– Vários documentários suíços estão na seção “Cineastas do Presente”, com os últimos filmes de Dominque de Rivaz, Christian Frei, Daniel Schweizer e Nicolas Wadimoff.
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