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Descomplicando a música erudita

Em qual contexto Beethoven criou a famosa sinfonia n° 1? Por que causou tanto estranhamento na época? O regente brasileiro Leandro de Oliveira explica isso e muito mais, em português, em suas aulas anuais em Lucerna.

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Tudo começou na Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) em 2008. Uma hora antes de cada concerto, durante aproximadamente 50 minutos, o regente, compositor e pianista Leandro de Oliveira, carioca de 37 anos, dá uma aula sobre o concerto a seguir. Ele fala sobre o contexto histórico e cultural em que a obra foi criada com dados, demonstrações ao piano e anedotas. O público fica hipnotizado.

O mesmo projeto do regente, o “Falando de Música”, é transferido anualmente para a Suíça durante a edição de verão do famoso Festival de LucernaLink externo. O grupo que acompanha Leandro é formado alguns meses antes, ainda no Brasil. São médicos, engenheiros, advogados e outros profissionais, homens e mulheres de diferentes idades, que têm em comum o gosto pela música clássica e a vontade de saber mais sobre a mesma. O esquenta se inicia com algumas vídeo-aulas do regente disponibilizadas em sua página no Facebook. mas as aulas mesmo acontecem já no cenário suíço. Leandro de Oliveira falou à swissinfo.ch sobre o projeto.

swissinfo.ch – De onde surgiu a ideia de trazer grupos de brasileiros ao Festival de Lucerna?  

Leandro de Oliveira: A demanda pelas viagens musicais surgiu como desdobramento do “Falando de Música”. Muitos alunos passaram a se interessar por aulas em grupos e alguns desses grupos organizaram-se para visitas a salas de concertos e festivais por toda Europa. No início fizemos os festivais de Viena e de Berlim. Mas quando fui a Lucerna me dei conta que ali as condições eram especiais. Costumo dizer que quem gosta mais do samba que do carnaval prefere Lucerna a Salzburgo – evento que conta com praticamente as mesmas atrações mas, por posicionar-se como “exclusivo”, acaba por tornar-se também menos amigável e mais esnobe. Meus alunos dizem que Salzburgo vale a pena ir uma vez na vida para conhecer, à Lucerna dá vontade de voltar todo ano.

swissinfo.ch: Como é a preparação do grupo ainda no Brasil?

L.O.: O grupo costuma ser formado por amantes de música não especialistas. São profissionais de diversas áreas que gostam de música. Eles recebem todo o material com a programação musical e temos ao menos um encontro para falar da cidade. A parte mais importante é feita já na Suiça, onde encontramos sempre uma acolhida inesquecível. 

swissinfo.ch: Quanto tempo dura a viagem e como é o dia a dia em Lucerna com o grupo? 

L.O.: Costumamos ficar ao menos oito dias. Temos as tardes livres quando interessados podem fazer passeios com guias locais. As aulas acontecem duas horas antes de cada concerto, e as visitas especiais – seja uma volta ao lago, à casa de Wagner ou ao Rosengarten, são distribuídas em algumas manhãs da agenda. Procuro uma seleção musical que nos permita discutir coisas que estão além da música – associo sempre que posso a música à arte do Rosengarten Museum, ou a casa de Richard Wagner. A natureza e o universo romântico – outro tema muito auspicioso na cidade – por vezes também está subliminarmente participando da nossa curadoria. Geralmente, tentamos encontrar no repertório musical do Festival aquele que facilite a visita e a compreensão da arte da virada entre os séculos 19 e 20, tão bem representadas nesta pequena joia da cidade. A cidade é um assombro para todos. Sempre.

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swissinfo.ch: Durante o Festival o grupo tem contato direto com musicistas e maestros?

L.O.: Sempre que posso encontro amigos que estão em orquestras do Festival. Mas o mais divertido do período é o encontro casual que ocorre entre concertos ou mesmo ao final de eventos memoráveis. András Schiff, Peter Sellars, Simon Rattle: onde mais podemos esbarrar com gente assim?

swissinfo.ch: Se algum falante do Português quiser se juntar ao grupo já em Lucerna quem ele deve procurar?

L.O.: Basta entrar em contato com a agência LatitudesLink externo. Toda a parte de bilhetes, materiais de aula e reserva de hotéis é organizada por eles . Pode-se acompanhar a preparação toda para as aulas que acontecem em Lucerna na página do “Falando de Música” no Facebook e depois, ao encontrar o grupo, participar de todas as aulas, concertos e visitas que inserem a cidade no contexto do Festival.

O Festival de música de Lucerna

Um dos maiores festivais de música erudita da Europa, o Lucerne Festival se divide em três temporadas: a de verão, a de Páscoa e a dedicada ao piano como instrumento base, que acontece sempre em novembro.

O maior de todos, o Festival de verão de LucernaLink externo ocorre anualmente entre agosto e setembro na cidade de Lucerna, tradicionalmente palco de grandes orquestras e regentes. Durante quatro semanas, um público de mais de 100 mil pessoas visita o Festival e frequenta uma centena de eventos paralelos e dezenas de concertos. A cidade recebe os mais famosos maestros, músicos renomados e solistas. Além da clássica, O Festival apresenta concertos de música erudita contemporânea, e também apóia projetos de novos compositores.

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