Festival traz cinema do Sul à Suíça
Com projeção de 98 filmes de 40 países, o 16° Festival de Cinema de Friburgo, em março, propõe descoberta das "mil e uma facetas do Sul". Sul do migrante, do negro e... de clichês que espera sejam revistos e corrigidos.
Com um total de 98 obras cinematográficas – longas médias e curtas metragens de ficção e documentários – o “Festival Internacional de Filmes de Friburgo” (FIFF) é no gênero o mais importante na Europa. O evento abre espaço à produção de cinema da África, Ásia e América Latina, ou seja, uma produção cultural marginalizada no mundo, fora dos grandes circuitos, em que o peso dos Estados Unidos é preponderante.
Forte presença asiática
Seu sério “concorrente” é o Festival dos 3 Continentes”, em Nantes na França. Mas o festival de Nantes exclui documentários e curtas metragens. E não dispõe de uma rede de projeções ulteriores de filmes em competição como o FIFF.
Neste ano, 12 filmes concorrem em Friburgo – de 10 a 17 de março – ao Grand Prix de 30 mil francos – 20.3 mil euros.
A Ásia é o continente mais bem representado com 8 filmes. África tem 2, e América Latina 2: “Solo por hoy” (só por hoje), de Aariel Rotter, Argentina e “Una casa com vista al mar” (uma casa com vista para o mar), de Alberto Arvelo, Venezuela.
Dois temas
O festival deste ano concentra-se em 2 grandes eixos: uma “revisitação” da história cinematográfica no tocante à maneira de encarar o negro e uma reflexão sobre a noção de Sul, que não cabe mais em moldes geográficos.
O cinema – como também na literatura, teatro e música – nos alimentou de imagens redutoras do negro. Século, século meio depois da abolição da escravatura nas Américas, o negro continua escravo, de alguma maneira.
Ao anunciar o programa do festival, em Friburgo, uma das organizadoras do evento, Beatriz Lienhard-Fernández destacou que a imagem que se tem do negro continua sendo de alguém inferior, menos inteligente, disforme, ridículo, repugnante. Nunca bonito, justo, agradável… Jamais igual. “Humano? Não, jamais”.
A temática é abordada numa série de filmes intitulada: “Américas Negras: uma imagem a ser libertada”.
O segundo tema importante está resumido num panorama intitulado “Sul – manual de utilização”. Falar de Sul em termos geográficos para determinar os países emergentes da Ásia, África e América Latina já não teria sentido com o fenômeno das migrações, voluntárias ou forçadas.
O Festival de Cinema de Friburgo propõe, com uma série de filmes de diferentes horizontes, uma reflexão sobre “a coabitação dos povos” considerada uma “noção indissociável da idéia do Sul”. Quem migra enfrenta o dilema que consiste em manter as raízes e integrar-se no novo meio. E o fato de ser “estrangeiro” pode tornar-se uma ferida de difícil cicatrização.
Alguns cineastas tentam “restituir ao migrante um pouco da dignidade que ele perdeu”. Outros abordam a questão de maneira diferente: se somos partidários do “multiculturalismo como saída para os problemas atuais… é possível
Brasil presente
Nenhum filme brasileiro figura entre os 12 que competem ao Grand Prix do Festival. Mas o Brasil participa, por exemplo, do Prêmio da Imprensa Política, com “Barra 68” (Sem Perder a Ternura). Em 1h20min o autor, Vladimir Carvalho, conta as lutas estudantis, em 1968, em plena ditadura militar. Participa também de curtas metragens com “Habano”, de Daniel Rocha, em que o cineasta conta, em 13min, o amor de um idoso “tabaquero” por uma vizinha.
Filmes brasileiros também devem contribuir para avançar a reflexão sobre a temática do negro, com projeção de “Rio Zona Norte”, de Nélson Pereira dos Santos, e, Xica da Silva, de Cacá Dieguez, respectivamente de 1957 e 1976.
Não vimos na programação nenhum filme português ou de outros países de língua oficial portuguesa. É pena.
J.Gabriel Barbosa
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