Filme brasileiro é escolhido como o melhor em finalização
Enquanto as luzes estão focadas no filme filipino "Mula sa kung ano ang noon" (Daquilo que era antes), ganhador do Leopardo de Ouro em 2014, o principal prêmio do Festival Internacional de Cinema de Locarno, outros diretores se despedem da cidade localizada às margens do lago Maggiore como apostas no futuro.
Esse é o caso do de Ives Rosenfeld, carioca, 34 anos, formado no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), premiado na seção Carte Blanche, dedicada aos filmes em pós-produção e finalização, com o longa-metragem “Aspirantes”.
A competição não foi fácil. No total, eram sete filmes brasileiros concorrendo ao prêmio em 2014: 10 mil francos suíços para auxiliar nos estágios finais da produção. Nessa edição, o Carte Blanche foi realizado em parceria com o Programa Cinema Brasil com o objetivo é o de promover a divulgação e circulação dos filmes brasileiros no exterior.
Durante os dias que passam em Locarno, jovens produtores e cineastas tiveram oportunidade de frequentar o Industry Days, evento paralelo que permite de mostrar as obras a distribuidoras, empresas de produção, financiadores e também programadores de outros festivais internacionais.
Em entrevista por e-mail, Ives explica a ideia do filme e fala da sua paixão pelo futebol – o tema abordado no roteiro – e a atual situação dos jovens cineastas no Brasil.
swissinfo.ch: Como você resume o roteiro de “Aspirantes”?
Ives Rosenfeld: Aspirantes conta a história de Júnior, jovem jogador de futebol, e do que ele é capaz de fazer movido pela inveja por Bento, seu melhor amigo, e o mais talentoso jogador da equipe
swissinfo.ch: Onde e como surgiu a ideia de rodar um filme inspirado no tema “futebol”?
I.R.: Sou apaixonado por futebol, e sempre sonhei em filmar o assunto.
swissinfo.ch: Qual é o orçamento e a infraestrutura para realizá-lo?
I.R.: Conseguimos financiamento através de renuncia fiscal e através do Fundo Setorial do Audiovisual, pela Ancine. (n.r.: na ficha técnicaLink externo o filme está orçado em 1,6 milhões de reais).
swissinfo.ch: A Copa passada teve ou terá alguma influência no roteiro?
I.R.: Terminamos de filmar em novembro de 2012, muito antes da Copa. Mas evidentemente, com a Copa, o filme ganha nova conotação.
swissinfo.ch: O que significa ter conquistado o prêmio Carte Blanche no Festival Internacional de Cinema de Locarno?
I.R.: O prêmio no Carte Blanche coloca o filme em evidência. Espero que ele nos ajude a ter uma carreira bonita em festivais e distribuição.
swissinfo.ch: Durante a presença no festival ocorreu algum contato concreto?
I.R.: A sessão Carte Blanche nos proporcionou mostrar o filme para uma audiência especialíssima e altamente qualificada. Tivemos um feedback maravilhoso, uma troca rica com as pessoas que assistiram. Tivemos sim, alguns contatos concretos, mas ainda estamos estudando o melhor caminho para nosso filme.
swissinfo.ch: Como o prêmio de 10 mil francos suíços irá ajudar na finalização do filme?
I.R.: O prêmio vai ajudar muito na nossa finalização.
swissinfo.ch: O júri justificou a escolha afirmando que “Aspirantes” é um retrato contemporâneo do Brasil. Você concorda? E qual sua opinião acerca do sonho de jogar profissionalmente futebol no Brasil?
I.R.: O sonho de jogar futebol profissional no Brasil está diretamente ligado com a possibilidade de ascensão. É a representação do sonho de uma vida melhor e mais digna para muitas famílias.
swissinfo.ch: Pessoalmente você já aspirou em ser jogador de futebol?
I.R.: Como a maioria das crianças brasileiras, um dia já sonhei em ser jogador de futebol. Mas sou um desastre com a bola!
swissinfo.ch: Por que você declara em entrevista à Variety.com que o filme irá exibir cenas de futebol nunca antes vistas?
I.R.: Não declarei isso. Tatiana, a produtora, quem disse que não é comum ver cenas assim, sobretudo na ficção. Acredito que nosso mérito foi filmar partidas de verdade, e não simulações de jogadas.
swissinfo.ch: Recentemente entrevistei um jogador brasileiro atuante no futebol suíço. Sua história me comoveu pelo fato de ser uma pessoa que abandonou cedo a escola e tudo depender da arte das suas pernas. Jogador seria é uma carreira ingrata?
I.R.: Dos muitos que tentam a vida no futebol, apenas um percentual mínimo consegue o sucesso.
swissinfo.ch: Como está hoje ao seu ver a produção do cinema brasileiro?
I.R.: A produção brasileira de cinema está bastante aquecida. Muitos jovens cineastas começam a apresentar suas primeiras obras, algumas com brilhante carreira em festivais. Nosso sistema de financiamento ainda apresenta falhas que precisam ser corrigidas. Disputamos financiamento com filmes comerciais e seus orçamentos inflados, restando aos filmes independentes uma fatia bem pequena desse financiamento. Recentemente, a Riofilme cancelou o edital de 2014, um grande prejuízo para o cinema do Rio de Janeiro.
swissinfo.ch: O apoio através de incentivos fiscais ainda tem um papel importante? E o Programa Cinema do Brasil? É um instrumento útil ?
I.R.: Sou muito grato ao programa Cinema do Brasil. Foram eles e a Ancine que nos proporcionaram exibir o filme em Locarno.
swissinfo.ch: Após a finalização de “Aspirantes”, quando o filme deve ser exibido pela primeira vez? Algum festival ?
I.R.: O filme deve ficar pronto em dezembro, mas provavelmente só estrearemos em 2015.
swissinfo.ch: Na minha época de estudante de comunicação, fazer um filme exigia ter verbas para pagar os rolos de celulóide. E hoje? Graças à tecnologia é mais fácil fazer cinema?
I.R.: A tecnologia digital certamente barateou o cinema, mas fazer cinema continua sendo uma atividade cara. As câmeras de altíssima resolução são equipamentos caros, assim como a finalização desse material.
Filme filipino de 5H30 conquista Leopardo de Ouro do Festival de Locarno
O filme do filipino Lav Diaz, “Mula sa kung ano ang noon” (“From What Is Before”), de cinco horas e meia de duração, ganhou neste sábado o Leopardo de Ouro, a maior distinção do Festival de Locarno, celebrado todo verão nesta pequena cidade suíça às margens do lago Mayor.
O filme conta a história de um povoado isolado nas Filipinas em 1972, durante a ditadura de Ferdinand Marcos, onde coisas estranhas acontecem: são ouvidos gemidos vindos da floresta, vacas são massacradas, um homem ensaguentado aparece em um cruzamento rodoviário e casas se incendeiam, em um momento em que se multiplicam as operações militares e milícias impiedosas controlam as áreas rurais.
O Prêmio Especial do Júri foi concedido ao filme americano “Listen up Philip”, de Alex Ross Perry.
O Leopardo de melhor direção foi para o português Pedro Costa com “Cavalo Dinheiro“.
O prêmio de melhor ator ficou com o russo Artem Bystrov, pela interpretação em “Durak” (“The Fool”), de Yury Bykov, e o de melhor atriz ficou com a francesa Ariane Labed, por “Fidelio, L’Odyssée d’Alice”, de Lucie Borleteau. Fonte: AFP
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